Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 10 de julho de 2018!
Léo não teve dúvidas. Na primeira peça soube que seria para a vida toda.
Foi no final de 1991, aos 15 anos, em um teatro de Americana. Encenou um padre na peça “A Rosa Tatuada”, de Tennessee Williams.
Quando a cortina se fechou, o elenco comemorava com os abraços de familiares. Leonardo Santarosa correu para os fundos do teatro, porém.
Um choro compulsivo tomou conta do ator que, nessa hora, deixava a encenação de lado para ser apenas o menino.
– Eu chorei muito e percebi como aquilo mexia comigo. Eu nunca havia sentido algo daquele jeito na vida!
Para estar ali, com a conclusão de que o teatro iria determinar as cenas da sua vida, ele chegou a mentir que era aluno de uma escola técnica pública.
Somente os alunos da escola pública podiam participar do grupo de teatro. Léo estudava em outra instituição, privada.
Foi com o talento que já tinha que conquistou o diretor e conseguiu a autorização para ser a exceção na turma. E ainda ganhou o papel de protagonista, que preferiu trocar pelo de padre.
– A infelicidade seria fazer outra coisa, que não o teatro. Eu acho que nem sei fazer outra coisa!
Quase 20 anos depois dessa primeira peça, Léo inaugurava seu próprio teatro, protagonista do espetáculo.
O Teatro Santarosa, de Ribeirão Preto, leva o sobrenome da família porque foi sonhado e idealizado assim.
Léo e seu irmão seguiram o caminho dos palcos. A irmã não seguiu, mas é grande apoiadora. Os pais, então, uniram forças para realizar o sonho dos filhos.
O humor é a especialidade naqueles palcos. Léo tem no circo as bases da sua arte. Foi a fundo nas pesquisas sobre o palhaço. O desafio é constante.
– O humor prepara o ator para estar diante da plateia, porque exige o retorno imediato do público. Se jogar uma piada e o público não rir, o ator já sabe que não está dando certo e tem que resgatar aquilo no mesmo momento.
Fazer rir, então, é sua grande obra. Afinal, já se disse muito antes, não há – seja na arte ou na vida – melhor remédio!
Os domingos eram sempre de bom programa. Léo conta que seus pais o levavam para assistir peças de teatro toda manhã de domingo, lá em Americana, onde a família vivia.
Quando, aos 14 anos, ele decidir aprender teatro, não foi de se estranhar tanto.
Ninguém poderia prever, entretanto, onde o curso iria levar.
Depois daquela primeira peça, vieram muitas outras. Adolescente, Léo já levava sua cena para os palcos. Aos 19 anos, partiu para os EUA estudar artes.
Foi em Nova York, Brooklin, que nasceu o sonho de ter seu próprio teatro.
– Foi meu primeiro contato com os teatros de bairro. Era um teatro de 48 lugares, em frente ao local onde eu morava. Fui comprar um bilhete e só tinha agenda para dali um mês.
Decidiu que, quando voltasse para o Brasil, teria seu próprio teatro.
E foi muito aprendizado até retornar! Fez teatro de rua passando chapéu para o público que parava a assistir. Se apresentou em plena Times Square. Mas depois daquele trágico 11 de setembro de 2001 decidiu voltar ao Brasil.
– Quando voltei, tão de repente, comecei a me cobrar. Era um conflito.
Um conflito que terminou com a faculdade de Direito, que nunca exerceu.
– Não tinha absolutamente nada a ver comigo.
Mas conquistou o diploma em 2006, em meio a sua arte.
A ideia de fincar raízes em Ribeirão surgiu durante uma apresentação no SESC daqui.
Léo se apaixonou, veio para cá e, enquanto se apresentava, integrava companhias e dava aulas, começou a procurar a sede do sonho.
Ele e o irmão viajavam de Norte a Sul do Brasil e até para fora do país com o objetivo de conhecer teatros de bairro, descentralizados. Em 2007, acharam a sede do Santarosa, na zona Sul da cidade, e começaram a construir. Abriram as cortinas em 4 de dezembro de 2010, com auditório lotado.
– Eu soube que seria uma das melhores apresentações da minha vida!
Hoje, Léo, 41 anos, divide o tempo entre as atuações, as aulas de teatro que ministra no Santarosa e a administração do espaço.
Diz que, quase diariamente, tem conflitos com a divisão dos papeis.
– Me questiono enquanto empresário. Não posso me distanciar da minha arte e me tornar só empresário. Mas é preciso tornar o teatro possível.
Sonha com o teatro descentralizado, ao alcance de todos, valorizado.
– O teatro ainda é muito desconhecido, independente da classe social do brasileiro. O sonho de qualquer ator é que o teatro passe por uma grande mudança administrativa. Quantos teatros municipais estão abandonados? É um reflexo de como a cultura é vista pelos nossos administradores.
Sabe – e sente em cada cena – que a arte é um dos caminhos para a transformação do ser humano. São quase 30 anos de palco para tal conclusão!
– O teatro é uma troca muito justa. É o ator na sua frente, ao vivo, sem intervenção, sem maquiar a realidade. É catarse! É aprender a lidar com o novo, com a surpresa, com os erros.
Mesmo depois de tantas apresentações que perdeu as contas, Léo ainda sente o frio na barriga antes de entrar no palco. E quer que seja sempre assim.
– Quem diz que está acostumado, mente. Não dá para se acostumar. Cada público é uma história. Cada espaço é diferente. O ator tem um grande desafio no palco, que é a responsabilidade com a plateia. Ele precisa aprender a lidar com seus fantasmas.
Sua preparação começa na maquiagem, passa pelo canto para aquecer a voz e, depois, pelo silêncio dos bastidores. A concentração, para ele, anda de mãos dadas com a qualidade do humor que leva ao palco.
Diz que se sente realizado.
Mas há ainda muita cena a apresentar, muito riso a despertar.
Quer que a agenda do teatro seja cada vez mais repleta de arte. Quer se dedicar mais eu mais às peças. Continuar cultivando o melhor remédio da vida.
Seria o riso ou a arte? Léo une os dois!
Fotos da galeria: Ana Casanova e Thaís Orsi
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