Leôncio é o último ‘irmão bombom’ nas ruas de Ribeirão

10 abril 2017 | Gente que inspira, Parte da gente

Esta história foi narrada pela jornalista Daniela Penha. Para ouvi-la, é só clicar no play:

 

 

O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vem o pipoqueiro!

O repertório é eclético, mas na hora de estourar os grãos, ele prefere música temática.

– Pipoca, ah! Cheiro de pipoca tá rolando no ar! Pipoca, uôba!

Vai cantando e dançando, para garantir que o milho se transforme em pipocas soltinhas e crocantes.

Quando chega ao fim, o cheiro exala aos quatro ventos e quem passa já nem ouve a música, hipnotizado pelo perfume de pipoca quentinha.


 

Há 10 anos, Leôncio José do Nascimento, 41, é pipoqueiro no Centro de Ribeirão Preto. O trabalho nas ruas começou bem antes, porém.

Leôncio é nome que quase ninguém conhece. “Irmãos Bombom” é quase impossível ribeirão-pretano não conhecer.

O pipoqueiro é um dos três irmãos que cativaram gente de todas as idades vendendo doce e distribuindo bom humor.

– A gente se fantasiava de loira do Tchan, Batman e Robin, caipira, Rosa e Rosinha, Papai Noel dançando malha funk. Passamos até na televisão! Todo mundo conhecia!

O “Bala, bala, bala chiiiiiiiiclete” virou jargão e era quase impossível resistir à propaganda.

– A gente brincava: “13 bombons por um real e ainda leva um potinho para dar comida pro passarinho”. Era barato mesmo! E Vendia!

Josafá, Leonardo e Leôncio, os Irmãos Bombom, que vieram da Bahia sem qualquer rumo, viraram parte do cenário ribeirão-pretano. Leôncio continua levando alegria pelas ruas.

Paripiranga: cidade do interior da Bahia, próxima a Feira de Santana, que hoje soma 29.980 habitantes, nas estimativas do IBGE.

Quando Leôncio deixou sua terra, acompanhado dos irmãos, não sabia o que iria encontrar. Conta que escolheu Ribeirão Preto por indicação de um primo, que tinha vindo tentar a vida por aqui.

Estudar era sonho distante na pequena cidadezinha, que era só roça na época.

A chegada foi conturbada.

– Não arrumava emprego de jeito nenhum, irmã. Porque eu não tinha estudo.

Começou a vender linha de máquina nas ruas, junto com os irmãos. Logo, passaram para água, bombom, doces.

O trabalho informal foi a única porta aberta que Leôncio encontrou. E desse caminho nunca mais saiu.

 – Para trabalhar na rua tem que estar sempre alegre, sempre sorrindo, nunca de cara feia.

Leôncio desempenha o papel com maestria!

Os irmãos levaram o humor para as vendas na época do “É o Tchan”. O grupo de axé lançou a música “Bambolê” e eles correram em São Paulo comprar brinquedos para vender.

– Mas para vender, tinha que rebolar. Aprender a usar o bambolê. E a gente rebolava!

O próximo passo foi comprar a fantasia de loira do Tchan e pronto: estava criada a nova forma de conquistar clientes.

Não tinham nome, porém. Leôncio conta que a ideia veio de um menino que morava na rua.

– A gente vendia muito bombom na época e ele chamava a gente assim: ‘Ô, bombom!”.

Pegou. E ficou.

– Se falar que é Irmãos Bombom todo mundo sabe!

Hoje, Leôncio é o último dos irmãos nas vendas de rua. Diz que os outros dois estão na Bahia, sem data para voltar.  Por enquanto, não pensa em seguir o mesmo caminho.

– Só Deus sabe até quando eu vou continuar. Eu gosto!

Leôncio chega ao Calçadão de Ribeirão por volta das 14h. Às 19h, caminha pela rua São Sebastião, para em frente a uma faculdade e fica até às 21h.

Não é um pipoqueiro comum. Com tanta bagagem artística, nem conseguiria ser.

O carrinho de pipocas é todo adaptado: caixas de som, rádio que toca até pen drive, luzes para todo lado. Até uma televisão ele já instalou ali.

– Tem que ter o diferencial no atendimento.

Atende cantando, dançando e fazendo piada.

A menina pede uma pipoca, Leôncio pega um único grão com a mão e lhe entrega.

– Ueh, você não pediu uma pipoca? Eu dei!

O riso é geral.

Conta que com as vendas nas ruas conquistou casa e carro próprio, construiu família.

– Mas não são só as vendas. É a forma de vender.

Sabe bem qual é o seu diferencial.

Vende, em média, 40 sacos de pipoca por dia.

E come outros tantos.

– Eu adoro pipoca! Como tanto que à noite fico até sonhando com ela!

Sabe vender seu peixe. No caso, sua pipoca!

Se diz realizado. Feliz com o caminho que se abriu. Mas não esquece sua terra.

– Um dia, a gente quer ir de volta. Morar lá de novo. Só não sei quando.

O som ecoa no meio da rua e avisa: aí vai o pipoqueiro, com seu carrinho iluminado.

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9 Comentários

  1. andresa de grande

    parabéns a ele e a quem fez a matéria !!

  2. Wellington Junior

    Muito bacana,ótimo texto meu sou sobrinho deles, os que estão aqui continuam trabalhando mais qualquer hora estão de volta a Ribeirão

  3. Katherine

    Compre Babalu pra ganhar um Bilu… Compre Trident pra ganhar um pretendente.. Balabala Chiiiiiclete…Só no silicone!!!!
    Autor: Irmãos Bombom.
    ?

  4. Lena

    Reportagens como essas são muito importantes. Parabéns aos irmãos e à redatora!

  5. Luciana

    Ótimo texto foi bom relembrar os irmãos bombom!!muito bom

  6. solange

    E muito bacana ver uma reportagem com pessoa diferenciada com super racao

  7. Gabriela Ignácio

    Ele é demais ,melhor pipoca de ribeirão preto ,merece todo o sucesso !

  8. Giselle Assis

    Não é só isso, certa vez com seu bom coração da vida sofrida, me permitiu ficar devendo alguns troquinhos. Tendo em vista que eu acabara de sair do hospital pediatrico, se voltasse ao banco com meu filho perderia o ônibus, cheguei a brincar com ele: Como sabes que pagarei, näo me conhece!
    E ele disse: És mainha, mainhas sempre pagam. Não me esqueço.Parabéns bombom, saúde, paz e sucesso você merece cada centava.

  9. Nair Mota

    Esses meninos são cativantes e lutam com vontade!

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