Lucas conta os dias para o centenário do Botafogo

26 outubro 2017 | Gente que inspira

Esta história é parte do especial sobre o aniversário dos times Comercial e Botafogo de Ribeirão Preto. 

 

Foram duas internações no setor cardíaco e o diagnóstico de ansiedade pré/pós jogo, depois de uma bateria de exames.

O guarda-roupas tem mais de 50 camisas, algumas delas relíquias que ficam reservadas em uma mala – para não correr o risco de usar.

Ele já faltou de casamento que caiu no mesmo dia de jogo importante. E avisa: se precisar, falta de novo.

Quem entra na sala da empresa onde Lucas trabalha, logo sabe com quem está tratando.

O diploma de embaixador do time está acima dos diplomas de especialização na área empresarial. O mousepad, a capinha do celular, a caneca: tudo tem o brasão vermelho, branco e preto.

Na estante, a pantera negra observa o que acontece, à espreita.

– O Botafogo é minha paixão!

Há quem diga que Lucas Vinicius de Oliveira, Lukaz Vini, como é conhecido no meio botafoguense, é o torcedor mais fanático do clube ribeirão-pretano.

– Vai ser assim até morrer. E quero continuar passando de geração, para o filho ou a filha que eu vou ter.

Há 10 anos ele faz parte do conselho do Botafogo, em 2012 criou a Associação Botafogo Centenário, tem canais de futebol no Youtube: não passa um único dia sem falar da sua paixão.

Na semana retrasada, o relógio começou a contagem regressiva para os 100 anos do time, criado em 12 de outubro de 1918. Lucas acompanha e ajuda a organizar as festividades.

Sem deixar de cutucar o adversário comercialino.

– A gente diz que são 100 anos ininterruptos que valem mais que os 106 deles, que ficaram um período parados.

Faz jus ao que dizem por aí, tomando a taça de fã número um.

Lukaz Vini Botafogo Ribeirão Preto

O Botafogo chegou para Lucas, 34 anos, como herança de família.

O avô materno foi jogador no time. O avô paterno era tão fanático que acendia velas em dia de jogo e não desgrudava a orelha do radinho.

O pai, então, seguiu a tradição e ensinou Lucas a torcer por vermelho e preto.

– Eu nunca tive isso de torcer para time grande. Sou botafoguense.

Até os 10 anos de Lucas, a família morava no bairro Quintino Facci, lado oposto ao campo do Botafogo. Era preciso pegar ônibus ou carona para ir aos jogos.

Quando não dava, Lucas – como aprendeu com o avô – grudava os ouvidos no radinho.

Quando mudaram para o Jardim Paulista, mais próximo do campo, era difícil perder um jogo. Se o pai não podia ir, sempre tinha um tio para levar.

– Foi realmente uma paixão nutrida desde pequeno.

Não era raro ele ligar nas rádios de Ribeirão para corrigir uma pontuação informada errado, um detalhe equivocado.

– Eu digo que sou um jornalista frustrado!

Com 14, 15 anos começou a viajar com a torcida organizada.

E não demorou a montar blog e página no Orkut para falar do time.

O engajamento era tanto que, em 2005, quando o Botafogo caiu para a A3 e enfrentou crise, Lucas foi convidado a estar mais perto. Entrou para o conselho e passou a ajudar o Bota da forma que fosse.

Conta que já trabalhou como gandula, maqueiro, bilheteiro, vendedor na lojinha, no setor de cobranças: de tudo um pouco.

Só reduziu as viagens em 2012, quando uma outra paixão encontrou espaço para dividir o coração.

– Fiquei noivo e não dava mais para viajar todo final de semana. Mas os jogos começaram a ser transmitidos. Então, não deixei de assistir!

É preciso dividir os tempos!

Lukaz Vini Botafogo Ribeirão Preto

Quando fala do Botafogo, Lucas usa o plural: “A gente caiu, a gente ganhou, vamos comemorar o centenário”.

Ele é parte do time que tanto ama, e vice-versa.

Do lado oposto, eliminou uma palavra do vocabulário.

Na empresa, “setor comercial” é substituído por “área de negócios”. E o time Comercial tem um tantão de apelidos no linguajar do botafoguense: “o rival, o outro time”, e por aí vai.

Uma das muitas superstições que Lucas tem.

Já chegou a assistir à final do campeonato com sete camisas, que deram sorte durante os jogos anteriores.

– Se a camisa está dando sorte, eu não posso trocar.

Reza, vai à missa, agradece à padroeira do Bota, Nossa Senhora Aparecida.

Se o time perde, não há quem aguente o mau humor.

Por outro lado, haja coração para comemorar a vitória!

Narra o gol do Clebinho, que evitou o rebaixamento no Paulista de 2012, como se ainda estivesse lá, em meio à torcida que mal respirava de aflição.

– Foi no segundo tempo que o Clebinho entrou. Teve jogador expulso do Botafogo. E  eles vieram para derrotar a gente. Mas o Clebinho marcou 2 à 1 e ganhamos!

E finaliza tão bonito quanto gol suado em final de campeonato.

– Não existiria Lucas sem o Botafogo. Sou mais feliz por ser botafoguense. Minha namorada e minha família são meus amores. O Bota é minha paixão.

Que venham mais cem anos, é o desejo de Lucas!

 

Assine História do Dia por R$ 13 ao mês ou faça uma doação de qualquer valor!

Nos ajude a continuar contando histórias!

Compartilhe esta história

0 comentários

Outras histórias