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A sala da biblioteca estava cheia de crianças. Máscaras, cabelos ralos, carequinhas à mostra sinalizavam que ali, naquele espaço, havia muita gente em luta.

À frente, na mesa, uma jovem de sorrisão largo distribuía autógrafos. Luiara Gomes Geribola realizava um sonho. Mais do que isso, entretanto, estava convicta de que sua conquista é energia para toda aquela plateia cheia de garra, colegas de travessia, que tanto vibrava.

– Eu espero que esse livro leve muita força e otimismo para quem está lá embaixo. É muito difícil, mas com sabedoria e persistência vai dar certo!

É essa a mensagem de seu primeiro livro, “A jornada de uma garota que conquistou vitórias”, lançado no dia 20 de fevereiro pela editora Outras Palavras, com comemoração em dobro. Naquele dia, ela completava 14 anos. Desde os quatro, Luiara enfrenta um câncer no cérebro: Astrocitoma Pilocítico.

Nesses 10 anos, foram duas cirurgias, diversas internações, dias de apreensão. A mãe, Lilian Gomes Salgado, garante que, em nenhum momento, a menina fechou o sorriso do rosto. Bem o contrário! Luiara dá forças para a família.

– Ela é a luz dos meus olhos, dos meus dias. É a razão de eu estar em pé.

Essa luz iluminava também o Gacc (Grupo de Apoio à Criança com Câncer), onde a família, que é de Tambaú, encontra acolhimento durante tantos anos de tratamento em Ribeirão Preto.

Uma das voluntárias da instituição, a Soraya, foi quem sugeriu que Luiara colocasse sua história em livro, para inspirar outras tantas pessoas. A ideia foi aceita de imediato e abraçada por uma porção de voluntários, que se uniram para que tão bonita trajetória fosse contada em uma rede organizada pelo Centro de Voluntariado de Ribeirão Preto.

História do bem eternizada e fazendo florir sementes.

 

A história que Luiara conta começa lá na gestação.

“Em uma cidade, havia uma menina que se chamava Luiara. Ela era uma menina linda e feliz. A gestação de sua mãe foi completamente tranquila e o parto também. Quando a pequenina veio ao mundo, sua mãe disse que era um bebê lindo, mas que chorava muito. E isso foi até os seus seis meses.”

A mãe, Lilian, conta a história tal qual a filha escreveu no livro. Luiara foi um bebê esperado com alegria pelos pais, que só perceberam que algo não estava bem quando, aos três anos, a menina parou de ganhar peso.

As dores de cabeça também começaram nessa época. Os médicos diziam que não era nada e os pais continuavam preocupados.

– Foi tudo de uma vez!

O pai de Luiara, Ricardo Geribola, que era eletricista, sofreu um acidente de trabalho e perdeu os movimentos das pernas em novembro de 2010. A família ainda se adaptava à notícia, quando a doença da filha se manifestou.

– Eu só não sofri mais por causa dela. Eu não tinha nem tempo para pensar no que eu perdi.

Janeiro de 2011. A mãe foi ao mercado e Luiara ficou com o pai. Quando voltou, Lilian encontrou a filha desmaiada e o pai gritando, sem conseguir levantar da cama para socorrê-la. Correu para a unidade de saúde e, depois de muito insistir, conseguiu um encaminhamento.

No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, recebeu o diagnóstico. Luiara tem um tumor no cérebro que, apesar de benigno, cresce, atrapalha seu desenvolvimento e deixa sequelas.

Uma cirurgia foi realizada com urgência.

– Eu tive muito medo de perder minha filha.

Tudo ocorreu da melhor forma, para o alívio da família. Como sequela do tumor, Luiara perdeu a visão esquerda. Quando saiu do hospital, não andava mais.

Reaprendeu, recomeçou.

Depois da cirurgia, vieram as sessões de quimioterapia, que se arrastaram por dois anos e meio. A família viajava cerca de duas horas para o tratamento. Quando era preciso ficar mais de um dia, se hospedavam no Gacc, onde Luiara construiu uma família.

– É uma casa para mim!

 

O tratamento é para a vida toda. Luiara é monitorada para acompanhar a evolução do tumor. Em fevereiro do ano passado, precisou passar por outra cirurgia.

Entre idas e vindas ao hospital, os pais e a filha fazem de tudo para que a rotina da casa seja normal. Luiara vai à escola, namora, escreve livros e coleciona sonhos.

O mais recente deles é cursar a faculdade de Psicologia.

– É um sonho que eu bolei há pouco tempo, mas conheci há muito, no hospital.

O dia a dia hospitalar é inspiração para planos e conquistas. O livro nasceu ali.

Depois que a amiga Soraya plantou a sementinha da ideia, a menina começou a escrever.

– Eu amo escrever e ler!

A primeira versão foi feita à mão e depois editada pela Outras Palavras. O projeto teve também apoio da diagramadora Jaque dos Santos e do ilustrador Lucas Lourenço: corrente do bem para o sonho entrar no papel e chegar até quem precisa.

– Todos que têm o problema podem conhecer essa vitória!

É assim que Luiara se define: uma vitoriosa! De onde vem tanta energia boa? Os pais a encontram na filha. E ela?

– Vem dos meus pais. Eles nunca me deixaram desanimar, ficar cabisbaixa ou me achando inútil. Eles sempre tentaram me mostrar que eu sou útil para alguma coisa.

Agora, a história de Luiara é asa para quem quer voar. No dia do lançamento, cada uma das crianças ganhou um exemplar, autografado pela autora. Um sorrisão tomava cada rostinho. Outras jornadas de vitórias podem ser escritas: a menina estava a mostrar.

“A lição que Luiara tirou desta sua história a fez pensar a vida de modo diferente, a valorizar cada pequena coisa. Assim, ela deixa uma mensagem para quem está passando por um momento difícil:

Você que sofre de um tumor, tenha fé, pois só ela te faz parar e refletir que tudo pode ter um final feliz.”

 

Fotos: divulgação e História do Dia

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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