Mariana Jábali: trajetória dedicada à solidariedade – e muito mais

30 junho 2021 | Destaque, Exposição PLURAIS, Gente que inspira, Projetos especiais

              

Esta história faz parte do projeto “Literatura em Múltiplos Meios”, que conta com o apoio do PROAC LAB, programa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Texto: Daniela Penha

Fotos: Ibraim Leão

Mariana Jábali é energia. Entrevistá-la é esquecer o girar do relógio. Ela preenche o tempo com sua trajetória feita de muitos capítulos, com falas cheias de vida.

Acompanhá-la exige, também, energia. E quem está ao lado bem sabe. Quando a maioria pensa em aposentadoria, ela assumiu um novo cargo, feito de desafios.

– Quando nós temos filhos, netos, adquirimos a responsabilidade de passar à frente um mundo onde há futuro, esperança. Nós não nascemos para pouca coisa. O ser humano foi feito para muita coisa!

A história poderia ser: aos “xx” anos, Mariana segue somando conquistas, sem hora para parar. Mas ela iria detestar esse foco. Aliás, não gosta desse tema. Idade? Para quê?

– A vida é um caminho. Você vai. O importante é saber aonde quer chegar. Vai andando. Somos seres errantes. O principal é estar sempre aprendendo, se aperfeiçoando.

A soma dos anos, afinal, perde a importância diante de tanta energia.

– Você tem dois caminhos. Para frente ou para trás. É uma escolha.

O foco também pode estar em sua trajetória de trabalho voluntário. Uma vida dedicada a isso, é bom dizer. Parte muito significativa de sua história. É preciso falar, ela bem sabe. Mas, então, vai logo fazendo uma ressalva:

– Não sou a única no voluntariado. Eu não faço sacrifícios, não é verdade. Solidariedade mexe muito com o emocional. Mas temos que ir com muito cuidado porque do outro tem a fragilidade. O trabalho voluntário é uma realidade minha, mas também de muitas outras pessoas que estão nesse caminho.

Comecemos, então, sem um só rótulo. Mas vários. Mariana é assim: mulher, filha, mãe de cinco filhos, coração dividido entre o Líbano onde nasceu e o Brasil que fez de lar, já foi primeira-dama, ajudou a implantar um jeito novo de trabalho voluntário em Ribeirão com a criação do Centro de Voluntariado, esteve à frente da Fundação Pedro II e hoje é presidente do Fundo Social de Solidariedade da Prefeitura de Ribeirão Preto, convite que aceitou em plena pandemia, quando os pedidos por ajuda não param de acumular. Este perfil, então, é a tentativa de retratar um pouquinho de cada uma dessas Marianas. Já sabendo que, grande parte, fica fora dos holofotes.

Direta ao ponto, ela vai.

– Ih, Daniela. Eu resumi bem! Tem coisa que a gente deixa para lá!

Mariana Jábali Ribeirão Preto

Mariana e sua família deixaram o Líbano quando ela ainda era menina, em 1950.

– Me considero brasileira com origens no meu querido Líbano, tão sofrido e tão lindo. Volto para rever parentes e revisitar minha história. Nossas raízes são muito importantes. Hoje, sou tudo isso misturado.

Seu pai era escritor. Faleceu muito cedo, aos 46 anos, menos de uma década após chegarem ao Brasil. Deixou livros de poesia, em árabe, prontos para serem publicados.

– Minha mãe foi para a luta. Uma guerreira!  Aos 95 anos, é inspiração para todas as gerações. Quando eu penso em vacilar, ou desanimar minha mãe está lá: firmona. Isso puxa muito não só a mim, mas a toda família.

Mariana vê em suas raízes muito do que foi sua trajetória. Seus familiares eram participativos, engajados politicamente e unidos.

– Desde cedo também fui muito integrada. Vem daí minha participação como cidadã. Não só olhar a comunidade, mas fazer parte dela.

Escolheu a faculdade de Direito por essas raízes. Quando se casou, aos 20 anos, ainda estava estudando. Conta que Luiz Roberto Jábali também era engajado na comunidade lá em Cravinhos, sua cidade.

– Nos completamos nesse sentido. Fazíamos juntos. Isso nos enriqueceu muito como casal.

Se conheceram no baile de formatura de um amigo em comum. Veio a paquera, o namoro e logo o casamento. Quando concluiu a faculdade, Mariana já tinha uma filha.

– Éramos muito jovens e com uma energia muito grande. Na nossa energia cabia tudo: família, trabalho, filhos, voluntariado. Era uma troca enriquecedora. Podia ser feito diferente? Nunca parei para pensar nisso!

Tiveram cinco filhos.

– Eu parto de um princípio: se você for esperar ficar pronto, a melhor hora, vai estar sempre em uma coisa mais restrita. É uma opção e não julgo quem diz assim: vou cuidar dos meus. Quando digo que eu e o Roberto sempre fizemos juntos é no sentido de concordância, de admiração um pelo outro.

Todo esse engajamento, ela diz, trouxe a política.

– Nós fomos nos engajando, nos comprometendo. Era preciso avaliar o quanto a gente poderia estar, qual a nossa corresponsabilidade enquanto cidadãos e cidadãs.

Roberto fez parte do governo como secretário, foi candidato a prefeito por duas vezes, eleito na segunda, em 1997. Mariana, então, assumiu o Fundo Social pela primeira vez.

Ela explica que sua atuação no voluntariado, porém, começara bem antes. O casal fazia parte das equipes de Nossa Senhora, movimento de fortalecimento do casal e da família na comunidade.

– Quando você se abre para o outro, naturalmente as coisas vão chegando. Você pode dizem sim ou não. A escolha é sempre sua.

Ela atuou na Santa Casa de Ribeirão Preto e depois, em 1995, foi convidada a fundar o GACEON (Grupo de Apoio aos pacientes com câncer da Beneficência Portuguesa), com o apoio de uma equipe formada por amigas e familiares engajados. Em 1997 foi para o Fundo Social. Em 1999, trouxe para a cidade o modelo de Centro de Voluntariado, como instituição não-governamental.

– Ele nasceu desvinculado da prefeitura para que pudesse ser permanente.

Hoje, 22 anos depois, o Centro continua ativo, com dezenas de voluntários e projetos diversos. Contam e ouvem histórias em hospitais, levam acolhimento a idosos e famílias.

– O voluntário não pode ser o bonzinho da história. Na verdade, você está ganhando muito mais do que está doando. Fortaleça o outro, que você é fortalecido. Faça da sua comunidade um lugar melhor e você vai viver na Justiça e irá dormir com a convicção de que está fazendo a sua parte. Cidadania participativa é meu foco.

Plantou a semente e, mesmo vendo a árvore crescer, continua a regar. Engajou toda a família nessa trajetória. E não deixou o voluntariado em nenhum momento de seu caminho. Foi a sua escolha.

Mariana Jábali

Depois do Fundo Social, na gestão de Roberto Jábali, ela foi convidada a integrar governos outros. Assumiu a presidência da Fundação Pedro II de 2005 a 2008 e, depois, de 2017 a 2020. Ali, também atuou com paixão. Mariana e Jábali tiveram uma importante participação na reconstrução do Theatro, após o incêndio que quase o destruiu por completo em 1980.

– A arte é transformadora. Provoca um tsunami de oportunidades, talentos, perspectivas para pessoas que não teriam esse acesso. Ela encurta caminhos. Faz uma ligação muito rápida com o que há de melhor em cada um de nós.

Além da disseminação da cultura, a função da Fundação é garantir a preservação.

– O Theatro Pedro II é um ícone não só para Ribeirão, mas para o Brasil. Preservar é dizer sim à cultura, ao público, ao artista, ao futuro.

Em agosto de 2020, em meio à pandemia, Mariana recebeu o convite para assumir o Fundo Social na Prefeitura de Ribeirão Preto. A época é de desafios. Com o abre e fecha das atividades, lockdown, distanciamento, o número de famílias que precisam de ajuda só cresce.

– Achei que não fosse voltar, mas estou novamente no Fundo Social. Tem sido um momento de muita solidariedade na nossa cidade, o que nos traz esperança.

Sua trajetória é feita mais de “sim”.

Roberto faleceu 16 anos atrás. Um pedaço da história que Mariana prefere só citar.

– A morte é a única certeza. Mas é uma certeza que não se quer ter. Você tem dois caminhos: para frente ou para trás.

Escolhe sempre ir em frente. E a razão já falou lá no começo. Assumiu um compromisso com as gerações que ajudou a trazer e com a raízes que a trouxeram, lá atrás.

– Gosto muito de gente. Preciso dessa troca. Me dá energia, me motiva. Não vivo de mim. Vivo e respiro com os outros.

Diz que não pensa sobre o futuro. Vai “caminhando”. É movimento.

Quem não se atém na idade, engana o tempo. E fabrica a própria cronologia, sem se apegar aos rótulos. Mariana está sempre na melhor fase.

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7 Comentários

  1. Tema

    ORGULHO DESSA MULHER FORTE, REALIZADA, ATIVA, HUMANA, FAMÍLIA E SOLIDÁRIA!!!

  2. Maria José Roxo Chiariello

    Conheço bem a trajetória da Mariana e admiro muito seu caráter sua coragem e sua disponibilidade.Trabalho com ela nó Gaceon e apesar de suas ocupações ela é nossa tábua de salvação está sempre na retaguarda!Carinhosa amiga sincera Sua m ãe é um grande exemplo para todos nós! Parabéns Mariana você terá sempre a proteção divina!T
    Continue sua caminhada nós precisamos de você!!??

  3. Sandra Bento

    Um exemplo de pessoa!

  4. Edgard

    Mariana é bem maior que palavras ,se conseguissemos expressar em ações poderíamos quem sabe chegar mais proximos do brilho de sua energia constante e presente ,admiro e amo demais essa prima !

  5. Regina Scatena

    Tive a honra e o prazer de trabalhar com Mariana no Theatro Pedro II em duas administrações, uma com Roberto e outra com Nogueira como nossos prefeitos. Uma experiência enriquecedora. Sinto falta de nossas conversas e de sua energia. Ainda bem que a amizade continua. Valeu querida Mariana!!!!

  6. Regina Scatena

    Preciso corrigir a história. Trabalhei por três vezes no teatro. Uma na administração de Roberto, outra com Gasparini e finalmente com Nogueira. Nas duas últimas tendo Mariana como presidente da Fundação D. Pedro II.

  7. Sonia maria daniel

    Sou super fã da D.mariana e do Doutor Roberto que Deus o tenha . O que dizer da D.mariana jabali um grande exemplo de mãe mulher um ser humano admirável

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