Daniela mora em Franca, mas atua na linha de frente da pandemia em Manaus

2 junho 2020 | Gente que cuida, Histórias do Proac 2019/2020

 

 

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O medo que acompanha Daniela durante a jornada de trabalho não vai embora quando a médica chega em casa. O banho não é mais momento de relaxamento. É ritual de limpeza. Ensaboa todo o rosto e os cabelos, espera alguns segundos e enxagua. O coronavírus, ela explica, “fica agarrado”. É preciso cuidado redobrado.

Desde que a pandemia chegou ao Brasil a rotina da médica é feita de muita cautela, saudade e um aperto no coração. Na mesma medida, tem também muito trabalho e vontade de salvar vidas.

– Eu nunca tive tanto receio de trabalhar, mas quando me formei como médica fiz um juramento. Não me vejo em outro lugar.

Ela passou três semanas em Manaus, coordenando uma UTI com 30 leitos sempre lotados de pacientes graves no hospital Delphina Aziz, referência em Covid-19 no Amazonas, estado que é um dos focos da doença no Brasil.

– Eu trabalho em UTI há 13 anos e nunca vi algo tão grave. Todos os pacientes entubados, com risco de óbito.

A médica intensivista Daniela Moreira, que é consultora médica da empresa ribeirão-pretana Gesti, não tem dúvidas de que a pandemia é seu maior desafio profissional. O amor que nutre pela profissão, entretanto, faz com que, todos os dias, a energia para prosseguir se renove.

– Ser médica é poder ser um instrumento de Deus na vida das pessoas no momento em que elas mais precisam. Eu peço a Ele que me mostre o que eu preciso ver para ajudar o paciente.

O que fez Daniela escolher a Medicina? Quanta história em uma pergunta!

A profissão parecia definida. Engenharia, inspirada pelos pais, professores de matemática. Daniela, entretanto, foi surpreendida pelo questionamento da professora de Português, quando estava no colegial. “Você nunca pensou em ser médica?”,

Não havia pensado, confessa. Mas, a partir dali, passou a pensar.

– Os desafios sempre me motivaram. Havia o desafio de entrar na faculdade, a carreira. Acredito que foi isso que motivou minha escolha. E ainda motiva.

A jovem, que nasceu e cresceu em Franca, passou na Faculdade de Medina da USP, em Ribeirão Preto, em 1999.  Quando ainda estava na universidade, um desafio familiar. A irmã caçula enfrentou um câncer aos 15 anos. Daniela, médica ainda em formação, ajudou no tratamento.

A irmã não só ficou bem, como escolheu também seguir pela Medicina. Energia para Daniela prosseguir.

Se formou em 2004 e iniciou a residência em terapia intensiva. O motivo? Os desafios, como se era de imaginar.

– O meu perfil de UTI vem daí. Não tenho perfil de ambulatório.

Terminou a residência em 2006 e no ano seguinte passou a integrar a equipe da Gesti – Gestão e Soluções em Terapias Intensivas, com um desafio dos grandes como convite. Se mudou para Marabá, no Pará, para cuidar de uma UTI.

– Foi um desafio muito grande! Sair da minha cidade para morar fora. Tive muito apoio do meu marido, que largou tudo para me acompanhar.

Depois do Pará veio Altamira, Uberaba, Ilha do Marajó e, então, Manaus. Em 2014, Daniela, o marido e os dois filhos fixaram raízes em Franca, a cidade natal dela. A médica viaja por algumas semanas, para cuidar das UTIs em outros estados, e volta para casa.

Assumiu o trabalho em Manaus há um ano. E a rotina era assim: uma semana lá e três em casa. Com a pandemia, porém, tudo mudou. Com os voos restritos e o estado do Amazonas em situação crítica, ela estendeu a estadia por três semanas.

– Há muitas fakes news dizendo que o que passa na televisão não é verdade, que estão inventando. É verdade, sim. Há 30 leitos na minha UTI, todos lotados. Além de outras UTIs no hospital. A maioria ainda falece.

Daniela, vivendo o maior desafio da trajetória profissional, precisa guardar a saudade e redobrar a força. Quando fala dos filhos, se emociona. O medo não é só pior si.

– Sinto receio também de levar para casa, de ser um risco para eles.

Por isso, os cuidados tão redobrados dentro e fora do hospital.

A milhares de quilômetros de casa, em meio à correria da rotina, foca a atenção em salvar, cuidar, acolher.

– Está embutido em mim: tenho que fazer isso, estar aqui. Mas existem formas de fazer. Eu faço com amor, tento me colocar no lugar do outro, ter atenção com o paciente e também com a equipe.

Nessas três semanas, entre as perdas, que são maioria, as boas histórias ganham espaço importante na memória. É nelas que busca se apegar. Uma paciente de 37 anos, que ficou em estado grave e, depois de dias internada, conseguiu voltar para casa.

– Foi uma das primeiras vitórias. A sensação é de dever cumprido; ter conseguido fazer o bem.

No dia da entrevista, faltavam três dias para Daniela voltar para casa. A saudade já se manifestava em emoção.  A médica não iria poder abraçar seus meninos por sete dias, mas pensava em ideias, caso a vontade fosse maior que o controle.

– Uma roupa impermeável para poder abraçá-los…

O coração está sempre dividido. Como partir sem se preocupar com quem fica? O jeito, então, é torcer para que tudo passe logo. E ter fé.

– Eu quero que acabe, que a vacina saia o mais rápido possível, que quem pegou nunca mais pegue, que a economia aguente firme.

Daniela compartilha seus desejos com todos nós. Enquanto eles não se realizam, continua na linha de frente na missão de salvar vidas.

 

 

 

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10 Comentários

  1. Graça Rangel

    Muito orgulho de pessoas como vc ; Deus proteja todos vcs , seus filhos, sua família

    • Daniela

      Muito obrigado

  2. Fernando

    Parabéns Daniela
    O nosso Brasil precisa muito de pessoas como vc
    Enfrentar a pandemia com coragem e preparação
    Parabéns

    • Daniela

      Muito obrigado

  3. Elisangela

    Muito orgulho de vc ! Deus te abençoe te proteja sempre .

    • Daniela

      Muito obrigado

  4. Carlos Pimenta

    Parabéns Daniela tem sangue do pai correndo na veia da mãe apoio esposo e filhos irmãos familia são todos merecedores de aplausos .

    • Daniela

      Muito obrigado

  5. Daniela

    Muito obrigado

  6. Carmem

    Ei Dani, boa noite!
    Saudades das conversas em Altamira.
    Parabéns pela sua história mais recente, que não conhecia.
    Você nasceu pra ser grande!
    Beijão.

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