O florescer de Tetê Brandolim

4 dezembro 2019 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 20 de março de 2017!

 

No Carnaval de 2017, Therezinha Brandolim de Souza subiu pela primeira vez em um trio elétrico. De vestido florido, seguiu um bloquinho de São Paulo com a filha. Mais uma estreia entre as tantas que a maior(idade) lhe trouxe.

Tetê Brandolim, como a artista é chamada, chegou a uma conclusão na euforia dos 86 anos:

– Eu floresci. Depois dos 80, tudo floresceu!

Floresceu em cores vivas e letras. Tetê esperou oito décadas para realizar um sonho, que veio com brinde.

Aprendendo a ler e escrever aos 82 anos, ela se descobriu artista. Com a chita que na infância virava vestido, Tetê faz obras de arte.

Aposentou a tristeza de não entender o que diziam as letras e espalhou mais de 300 quadros mundo afora.

– Tudo sai daqui… do coração.

Coloca a mão no peito e abre um soriso que é só ternura. Enquanto a maioria pensa em aposentar as botas, Tetê passou a mão no pincel e coloriu a vida.

Nascida em Monte Azul Paulista, a mais velha de seis irmãos, Tetê começou a trabalhar cedo. Aos oito anos, ia para a roça ajudar o pai, enquanto a mãe cuidava dos filhos menores.

Acordava na madrugada e só parava quando o sol ia embora.

Não havia meios para a escola.

Aos 19 anos, se casou e continuou o trabalho na roça. Aos 21, teve o primeiro filho e, pouco tempo depois, a família se mudou para o interior do Paraná.

Os outros quatro filhos nasceram por lá, em meio ao mato da colônia.

Tetê conta que só soube o que era energia elétrica na década de 70, na cidade de Icaraíma, antes de se mudar para Ribeirão. Chegou aqui já acostumada a tomar banho de bacia, ouvir música no rádio fraquinho de pilhas, iluminar o breu com lamparina.

O filho mais velho foi quem veio primeiro, em 1982, buscar uma casa que comportasse toda a família. Quando Tetê, o marido e os quatro filhos chegaram, não sabiam o endereço do local. Tiveram que dormir uma noite no Corpo de Bombeiros até localizar.

A família estava se adaptando à nova vida, quando veio a tempestade. O marido de Tetê morreu em 1984, deixando cinco filhos e uma viúva.

Tetê se virou para dar conta da família. Trocou o trabalho duro na roça pela dureza urbana. Trabalhou em uma rádio, fazendo a limpeza e servindo café, e depois foi para a limpeza de um frigorífico. Os filhos também começaram a trabalhar cedo para ajudar em casa.

A vida foi indo. E Tetê seguiu junto, abafando o sonho de voltar a estudar pelas responsabilidades quintuplicadas.

Quando viu, já era tarde? Não para ela.

 

Tete não é de ficar no passado. Conta a história e pronto. Segue em frente.

De repente, já está em 2012, aos 82 anos, realizando sonho. Vai ver porque é onde mais gosta de estar.

– A vida para mim é muita coisa! Eu adoro muito ser o que eu sou hoje.

Conta que já havia tentado aprender a ler e escrever com alguns professores e métodos, mas nada funcionava. Daquela vez, aos 82 anos, funcionou.

A professora usava um método diferente e, entre as atividades, pedia que Tetê escrevesse cartões para a família como forma de treinar a escrita.

Para colorir as letras, ela recortava pedaços de tecido e enfeitava os cartões.

– Não, menina! Eu nunca pensei nisso! Fazer tantos quadros!

Quando se deu conta, estava espalhando cores por aí.

Faz quadros de chita, com técnica que criou. Vai recortando os tecidos e montando novas formas, combinação de cores sempre gritantes. Também pinta algumas telas à óleo e inova em outras, colando lápis de cor, usando o material que vem à cabeça – ou ao coração.

– Esse daqui eu gosto muito. É a colônia onde eu morei no Paraná.

Além da chita, traz outros elementos do passado. Coloca a vida em quadro e cores.

Tem obras espalhadas Brasil fora, Alemanha, Austrália, EUA, e vai listando.

Já ganhou prêmios pelos quadros que, em São Paulo, são exibidos em uma galeria.

Na semana passada, esteve no lançamento do livro “Somos Brasil”. Foi uma entre os 104 brasileiros convidados a participar do projeto que busca desvendar a identidade nacional.

Tantas conquistas em quatro anos! Tetê ganhou mais que as palavras.

Acabou? Hoje, aos 86, ela garante que não.

– Eu espero bastante vida ainda!

“O tempo é um ponto de vista do relógio”, Mário Quintana escreveu o que Tetê sabe bem. Essa artista não está preocupada com as horas. Aos 82 anos, Tetê floresceu.

 

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*As fotos de Tetê pulando Carnaval são do arquivo da família

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