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Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 19 de abril de 2017!
– Eu não tive a opção de parar. Só tive como seguir em frente. E segui.
Gabriella Aguilar, 33 anos, conclui assim a história que começou a contar lá na infância.
É sua forma de explicar porque continuou, quando parecia mais fácil abrir mão.
Gabriella é mulher de uma só direção.
– A gente é forte, quando não tem outra opção. Parar não é opção.
Foi o que a mãe ensinou, criando a filha sem apoio do pai e se desdobrando nos trabalhos de diarista e office girl, depois de perder um emprego estável no setor de vendas.
Gabi tem o nome da mãe tatuado no braço e não consegue falar da mulher, que morreu em 2012, sem chorar.
– A dona Dora trabalhou muito. Ela me deixou o gosto pelo trabalho, sem medo de recomeçar.
Para chegar em Ribeirão Preto e se matricular na faculdade, Gabriella pegou carona. Para conseguir se formar, trabalhou segurando placa com propaganda de imobiliária na rua.
Hoje, é professora apaixonada e cheia de sonhos.
Sempre em frente.
Gabriella cresceu em São José do Rio Preto. Os pais se separaram e quando ela tinha quatro anos o pai foi embora para os EUA. Só voltaram a se ver 10 anos depois.
A mãe segurou as pontas. Quando a menina que sempre estudou em escola pública passou na USP, foi uma conquista.
Foi fazer Ciências Exatas em São Carlos, mas nas aulas de educação percebeu que estava no curso errado. Voltou para Rio Preto, estudou e passou novamente na USP, dessa vez em Pedagogia, Ribeirão Preto.
O curso só era possível porque Gabriella tinha bolsas e contava com a moradia estudantil.
Não tinha dinheiro para a mudança de Rio Preto a Ribeirão, porém. Fez pedágio no sinaleiro, conseguiu R$ 200 e uma carona.
– Sabe aquelas coisas que tem que acontecer?
Veio para a USP Ribeirão Preto realizar a vontade de ser professora.
Depois de um ano, a mãe, que havia ficado sozinha em Rio Preto e enfrentava uma doença psiquiátrica, decidiu morar perto da filha.
Pela situação financeira, Gabriella continuou na moradia e a mãe ficava em pensões ou na casa de patrões, trabalhando como faxineira.
Quando Gabi estava no quarto ano do curso, prestes a se formar, a mãe arrumou emprego segurando placas com propaganda de uma imobiliária na rua.
Gabriella fazia iniciação científica, os estágios obrigatórios do curso, vendia trufas nas aulas e a grana continuava curta. Decidiu acompanhar a mãe.
Trabalhava de sábado e domingo, das 8h às 17h, por R$ 25. Como ficava sentada, com a placa na mão, levava os livros da faculdade e estudava.
Já perto da formatura, seu avô faleceu e a mãe precisou voltar para Rio Preto. Com o dinheiro das placas, Gabi pagou a passagem para que Dora estivesse presente na sua colação de grau.
– Na minha família, pensava-se que eu não iria chegar a lugar nenhum. Filha de pais separados em uma época de muito preconceito… E eu cheguei.
Gabriella se formou em 2008 e passou em concurso da prefeitura. Foi chamada em 2011 e hoje é professora da rede municipal, em escola de periferia, alunos em fase de alfabetização.
– O professor se torna um deus em sala de aula. Precisa ser onipresente, onisciente, é complexo. A grande maioria das transformações que acontecem com os alunos vêm de você.
Acredita que ser professora, assim como tudo na sua vida, é seguir em frente.
– É nunca desistir, mesmo quando está difícil – e está. Ir em frente quando tudo te diz para parar. A gente continua porque é gratificante.
Entende a periferia como um espaço de rica cultura, e quer continuar participando da evolução de cada aluno.
Também continua plantando sonhos: a casa própria, viajar pelo mundo afora. Não tem dúvidas de que vai conseguir.
– As coisas que eu quero, eu consigo. É com muita batalha, esforço, um pouco de demora, mas, quando vem, é com segurança.
Não muda a direção: sempre em frente.
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