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Esta história foi narrada pelos integrantes do projeto Doadores de Voz, dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unaerp!
Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 28 de janeiro de 2019!
Denise não sabe como vai ser daqui alguns anos, quando Rafael começar a falar.
Tem algumas ideias. Ele pode ser surpreendido com um coleguinha de escola perguntando: “Cadê seu pai?” e chegar em casa replicando o questionamento para a mãe. Ou o assunto pode simplesmente surgir.
Garante, entretanto, que essa não é uma questão que a preocupa.
Educar seu filho e vê-lo crescer feliz está, sim, entre suas preocupações de mãe. Ela conta que quando decidiu pela produção independente não pediu a opinião de uma só pessoa. Estava certa de sua escolha havia alguns anos.
Teve namorados, relacionamentos bons e outros nem tanto. Mas não encontrou a pessoa com quem dividir a – complexa – tarefa de criar um filho.
– Se eu quisesse uma vida hipócrita, infeliz como muitas mulheres fazem, eu poderia ter um casamento de fachada e cuidar da criança sozinha, como é a realidade de muitas mães. Eu acho que ter um filho é uma responsabilidade muito grande.
Por entender que esse é um assunto sério – talvez o mais sério de todos – escolheu trilhar o caminho por si só. Não quis mais esperar o “parceiro ideal”, com o risco de nunca encontrá-lo e, depois, não conseguir engravidar.
– Nossos óvulos têm um prazo. Eles envelhecem.
Rafael já guarda os brinquedos depois de brincar e tem uma lista completa de itens: carros, bolas, cozinha, um boneco, livros de todo tipo, inclusive os que falam de fadas. Se a mãe diz que não pode, ele arregala os olhinhos, dá uma risadinha para quebrar o gelo e volta atrás na arte. Denise se derrete toda pelo seu “amor da vida”, como chama o pequeno, que completou dois anos na semana passada, com festança no Mickey.
Ela começou a preparar a maternidade bem antes do Rafa nascer.
Aos 28 anos já pensava na possibilidade. Congelou os óvulos aos 34 para decidir qual seria o momento ideal. Escolheu em um banco de sêmen o doador da “sementinha”, como diz, e passou pelo processo de fertilização in vitro aos 36.
O positivo não veio na primeira vez, porém. No livro que escreveu sobre sua jornada, “Produção Independente – Diário de uma terapeuta em busca da maternidade”, relata as aflições e alegrias do processo, que deu certo na segunda vez.
Quando estava grávida, trabalhou dobrado para comprar um apartamento com varanda “playground”, adaptação que fez na sacada “gourmet”. Com o filho nos braços, entretanto, reduziu as horas de trabalho, desacelerou o ritmo, mudou a rotina. Diz que viu os amigos passarem por um funil: só ficaram alguns poucos – e bons.
Tudo mudou, e não reclama.
– É um sonho realizado.
Hoje, além do livro, orienta mulheres que querem seguir pelo mesmo caminho com um grupo no Facebook. Para a entrevista, usava uma camiseta que dizia: “Produção Independente” e a camisetinha de Rafa complementava: “Melhor escolha da mamãe”.
Denise Dias diz que sempre quis ser mãe. Como terapeuta infantil, a temática da infância e da família também sempre foram constantes em sua rotina.
O dia a dia tinha muito trabalho, viagens, amigos, festas.
Escreveu dois livros e causou polêmica com um deles ao defender o “Tapa na Bunda” na educação das crianças. Não esconde a personalidade forte que tem.
– Eu não suporto hipocrisia!
Teve relacionamentos, mas conta que, também pelo seu jeito de ser, as coisas não passavam do namoro.
– Eu sempre me cuidei muito sexualmente. Nunca passei sequer susto, justamente porque acredito que ter um filho é uma grande responsabilidade.
Foi por volta dos 28 anos, então, que decidiu:
– Eu pensei: ‘Vou ter um filho, mesmo se for sozinha’. Mas não achei que seria sozinha mesmo. Achei que depois as coisas seriam de outra forma.
Quando congelou aos óvulos, aos 34 anos, tinha um namorado, mas nenhuma expectativa futura.
– Sempre fui muito consciente, pé no chão. Sabia que aquele namoro estava fadado ao fracasso. Eu não queria um filho de noitada ou com alguém com quem não pudesse dividir.
Aos 36, solteira, decidiu que era a hora, então, de ser mãe.
No livro, ela relata os dilemas da decisão e a vontade que pulsava dentro de si. Começa seu diário quando já havia congelado os oito óvulos que garantiriam seu sonho. Antes mesmo de engravidar, já havia comprado roupas de bebê e planejado sua vida com a maternidade.
“Foi após o congelamento dos óvulos que veio à mente uma frase de muito peso para mim: não quero viver a vida sem saber o que é isso. Esse negócio de ser mãe. De ter alguém crescendo dentro de mim. Viver a tal da maternidade. Esse amor incondicional”.
Para escolher o doador, recorreu a um banco de sêmen e buscou características físicas parecidas com as suas.
– Se é filho de mãe de produção independente vai parecer com quem? Comigo!
A gestação foi tranquila e ela conta que só depois dos cinco meses divulgou o barrigão nas redes sociais.
– Eu queria me poupar das pessoas bisbilhoteiras, que querem saber: ‘Mas você tá namorando? Cadê o pai? O que aconteceu?’.
As críticas e olhares tortos vieram, mas Denise estava bem preparada.
– Eu já ia logo respondendo: acho muito melhor isso do que um casamento infeliz. E geralmente calhava.
Aos amigos e familiares, foi contanto bem antes, quando a ideia da produção independente surgiu. A vinda de Rafa foi comemorada. O avô de Denise, que ganhou um bisneto, ficou em silêncio nos primeiros minutos da conversa sobre a fertilização e a maternidade independente. Depois, saiu para ir à farmácia e já voltou falando de chupetas.
Boas vindas ao pequeno!
– Eu tive muito apoio. A maioria das reações foram de apoio.
Rafael nasceu no dia 25 de janeiro de 2017.
“E o sentimento que carrego é o de ser a mulher mais realizada da face da Terra. Pois realizei o meu maior sonho, a minha maior aventura, que está apenas começando: agora eu sou mãe e tenho um filho para chamar de meu. Extensão do que eu sou”, ela escreveu no livro-diário.
Tudo muda depois que um filho nasce, Denise bem sabe. Diz, porém, que criar o Rafa sozinha não tem sido nada além do que esperava.
– Por enquanto não passei nada que pensasse: ‘Queria um marido para me ajudar’. Eu sou prática e não crio problemas por coisas simples. Acho que isso é importante.
Diz que suas maiores preocupações são em relação às finanças, já que é responsável por manter sua família. Mesmo assim, procura trabalhar meio período alguns dias da semana, para passar mais tempo com o Rafa. E fez para ele uma previdência privada. Pensa no futuro – e no imprevisível. O pequeno, assim, tem tutores, registrados em cartório.
– Se eu morrer quem cria? Preciso deixar isso resolvido.
Rafael tem roupinhas bem informativas. Uma delas diz: “Minha mãe não pediu sua opinião”. Não serve mais, mas Denise compartilha a foto do bebê com o macacão nas redes sociais para relembrar o recado. Um outro, em inglês, diz que ele será um menino feminista. A mãe acredita e constrói sua educação nessas bases.
– Uma amiga me disse que ele vai ser um homem diferente, não só pelo modo como veio à vida, mas porque tem em casa uma mulher diferente. Eu acho que é isso.
Denise está sempre a ouvir comentários do tipo: “O pai tem esses olhos?”, “Puxou para o pai?”, de pessoas que não conhecem sua história. Para algumas, conta em detalhes, dando a chance de conhecerem novas formas de ser família. Com outras, apenas muda de assunto. Entende que assim, com equilíbrio, que vai trilhar seu caminho com o Rafa.
– Minha família não é normal. O que é normal? É o que aconteceu tantas vezes em uma sociedade que caiu no padrão. Hoje em dia é normal adolescente consumir álcool. Mas isso não quer dizer que seja certo. Em alguns países, é normal ser filho de pais gays, de produção independente. Temos muito a caminhar!
Mãe onça, diz que não vai tolerar desrespeito com seu filho.
– Quem torna as coisas monstruosas é o adulto, não a criança.
Quando dizem que sua atitude é corajosa, vai logo respondendo:
– Coragem tem as mulheres que se submetem a relacionamentos infelizes.
Denise não sabe como vai ser daqui alguns anos, quando Rafael começar a falar.
– Eu acho que ele vai tirar de letra, porque eu tiro de letra.
Prepara suas respostas há bastante tempo, desde que tomou a decisão de ser uma mãe independente.
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Denise eu estou passando a conhecer a sua história estou cursando psicopedagogia estamos estudando sobre o seu trabalho
me ajuda conhecer mas a ária da psicopedagogia