Esta história é feita em parceria com o grupo de estudos Gepalle!
Na foto da infância, a sala de aula está cheia. Tatiane organizou todos os seus bichos e bonecas enfileirados em cima da cama para que pudessem assistir às suas aulas com atenção. A família registrou o momento que, mais tarde saberiam, marcava o início – ou o desejo – de sua carreira como professora.
A imaginação, que deu asas para sonhar, se tornou realidade.
– Eu passei direto em Pedagogia na USP. Foi um orgulho para todo mundo.
Anos mais tarde, mais uma recordação de afeto. Atrás de uma fotografia, o avô escreveu sobre o amor. “Tati, eu e a vó temos muito orgulho de você, nossa professora”.
A avó, Terezinha, assinou. Ela não sabia ler e escrever mais do que seu nome e Tati, ainda menina, também a imaginou como aluna, tentando ensiná-la as letras que aprendia na escola. Hoje, é professora alfabetizadora, ensinando alunos do 1º e 4º ano na Secretaria de Educação de Ribeirão Preto.
O afeto que mora nos capítulos de sua trajetória transborda em seu fazer. Tati acredita e pratica a educação com amor e contato.
– A proximidade, para mim, é a base do relacionamento. Se eles não se sentirem à vontade, a educação não acontece.
Entre as professoras que a inspiraram, está a da 4ª série, Maria Carolina. Apagava a luz da sala e incentivava os alunos a um momento de tranquilidade, a olharem para si mesmos. Conversava com cada um, acolhia.
– Isso me marcou muito. E eu tento levar para meus alunos. Trabalhar a amizade, a empatia, estimulá-los a se colocarem no lugar do outro.
Ao longo da trajetória – e em tempos de pandemia e isolamento social – vai (re)formulando, (re)aprendendo, sempre sobre a mesma base.
“Alunos” imaginados por Tati quando criança em foto registrada pela família
Tatiane San Martino tem 29 anos, oito deles em sala de aula. Não há professores em sua família. A mãe é dona de casa e o pai comerciante.
Cursou o ensino fundamental e médio em escola pública, sempre como a aluna que somava elogios, atenta e preocupada com os prazos e as tarefas.
Passou direto na USP Ribeirão Preto e cursou Pedagogia, já pela vontade de ser professora que, parece, nasceu em si, se fazendo perceber naquelas aulas improvisadas da infância.
Se encantou com a docência, de fato, quando começou a estagiar. A primeira escola na qual atuou foi Arte do Museu.
– Fiquei apaixonada pela forma humana que elas lidavam com as crianças.
Se formou em 2012 e em 2014 entrou na Secretaria Municipal de Educação, onde atua atualmente, nas escolas José Rodini Luiz e Raul Machado.
Em tempos de pandemia e isolamento social ela, que tanto se apoia na proximidade, precisou reformular. É possível manter o afeto à distância? Vai aprendendo, a cada dia.
– Eu não sei tudo. Ninguém sabe. Eu também estou aprendendo. Mostro isso para eles e mostro que estou aprendendo com eles. Só conseguirei fazer um trabalho que atinja os alunos se eles tiverem proximidade comigo.
As escolas entregam materiais impressos e a professora faz encontros on-line, com leituras e atividades. Alguns alunos não têm acesso à internet, porém. Ela, então, tenta por telefone, procura estar o mais perto que pode.
– Também estou tentando trabalhar com eles a ideia de que aproveitem esse tempo com a família. A criança, assim como nós, também está entendendo o que está acontecendo. Eles não podem perder o contato com as atividades pedagógicas, mas também não pode ser forçado para desmotivá-los.
E como alfabetizar em contexto de pandemia? É possível? Da mesma forma como é feito presencialmente, na escola, a professora acredita que não. Mas, em tempos tão complexos, é preciso ser maleável. Encontrar, assim, outras formas.
– A gente vai aprendendo aos poucos, conhecendo as mínimas possibilidades.
Toda proximidade faz bem, ela só confirma. Os alunos se animam ao interagirem com os outros, mesmo por meio da tela. Se arrumam todos, se envaidecem por estarem com a professora.
– Acima de tudo esse momento nos ensina o quanto nós precisamos uns dos outros, em qualquer faixa etária. O quanto faz falta o contato.
A saudade, assim, é inevitável.
– Faz muita falta vê-los, abraçá-los. Eu fico imaginando como vai ser quando voltarmos…
Tati é professora de coração inteiro. Não se imagina fazendo outra coisa, como diz. Acredita, entretanto, que o professor precisa ser visto com o valor que tem.
– Nós não temos a valorização que deveríamos ter. Agora com a pandemia muitos pais dizem que não aguentam mais, que o professor é importante. Mas não é isso. A questão é perceber o valor do professor na formação de um ser humano.
Está sempre buscando cursos, novos aprendizados e leituras. Sua profissão, ela bem sabe, transforma vidas.
– Ser professora é ser uma influenciadora de crianças, então eu levo muito a sério. Tudo o que a gente faz tem impacto neles. Se for negativo ou positivo, eles carregarão consigo.
É preciso equilíbrio nas dosagens, mas sempre colocando o amor como ingrediente principal.
– Não é de igual para igual. É mostrar autoridade sem autoritarismo. Sou sua professora, mas não sou melhor do que você, não gosto mais da criança que está avançada do que da outra, que tem dificuldades.
Agora, a sala de aula não é mais de bonecas e bichinhos, mas de seres muitos pensantes que, com seu afeto, Tati ajuda a (trans)formar.
Fotos: arquivo pessoal
*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/
Parabéns Tati por seu empenho e dedicação que acompanho há alguns anos!! Seu amor por seus alunos e o vínculo que cria com eles é admirável!! Continue sempre nesse caminho e colherá bons frutos!!!
Que linda postagem Tati!
Te acompanho desde pequenininha e sempre soube desse seu potencial …hoje vejo a Amanda indo pro mesmo caminho. Ela faz das bonecas e ursinhos seus alunos ,igualzinha vc .
Parabéns Tati, você realmente é uma professora especia.Um exemplo de profissionalismo.Linda história a sua.Voce nasceu pra isso!
Orgulho imenso que sinto desta menina linda,dedicada,competente professora amada por seus alunos… PARABÉNS além de minha afilhada … é minha neta de coração te amo?
Muito orgulho muiiito orgulho mesmo minha afilhada !!!!