Façam suas apostas!
O jogo de Marcelo começou por curiosidade.
O irmão mais velho viu uma propaganda anunciando uma Lamborghini como presente ao grande ganhador, e decidiram investigar do que se tratava.
Se apostassem, nenhum dos dois acertaria os rumos daquela busca curiosa.
Marcelo Ribas pegou gosto pelo jogo, que é esporte. Na época, 2004, quase não se falava de poker no Brasil e as informações eram escassas.
Não foi impeditivo para ele, que buscava estudar com o que vinha de fora, em inglês, assistindo a vídeos de outros jogadores atuando.
Ele tinha uma empresa de formatura, mas depois de três anos conciliando o poker com o trabalho nas festas, optou pelo esporte.
– Eu saía para trabalhar na empresa com a impressão de que estava deixando de ganhar dinheiro.
Três anos depois de se dedicar em tempo integral ao poker, em 2010, Marcelo conquistou o pódio de campeão do ranking mundial on-line, após dois anos seguidos como vice.
No ano seguinte, abriu em Ribeirão Preto a casa de poker, que hoje é uma das mais antigas do Brasil.
– Quando eu larguei a empresa, muita gente julgou: está deixando o trabalho para jogar baralho. O poker é uma profissão como todas as outras. Eu mostrei com as minhas conquistas.
Por dia, passam pela casa cerca de 300 pessoas de Ribeirão Preto e toda região. Em torneios grandes – como o que ocorreu no final de dezembro de 2017, garantindo R$ 300 mil de prêmios – jogadores de todo Brasil vêm à cidade com vontade de ganhar.
Mas jogo de azar é permitido? Está aí a pergunta que chateia Marcelo.
– No poker, na maioria das vezes, você nem precisa mostrar suas cartas para ganhar. Como vai ser um jogo de azar? É um jogo que só depende de técnica.
Em 2010, a Federação Internacional dos Esportes da Mente (IMSA) reconheceu oficialmente o poker como “esporte da mente”. Foi a formalização do pôquer como jogo de habilidade, assim como o xadrez, bridge e damas.
Marcelo, jogador com 13 anos de experiência, avisa que é preciso muita técnica para ganhar.
– No poker, o segredo é a dedicação e o estudo. Não adianta querer dizer que tem o dom. Não é dom. Tem que estudar muito.
Sorte e azar, nesse caso, passam bem, bem longe.
Quem não joga poker – como eu – se surpreende com os detalhes do jogo. Marcelo vai me explicando e tem como resposta meus olhos arregalados de surpresa.
Para jogar bem é preciso, até mesmo, aprender sobre leitura facial. Os jogadores, é Marcelo quem explica, dão sinais da personalidade na forma como arrumam as fichas e se portam na mesa.
Poker é jogo de muita estratégia. Com a personalidade do adversário captada, é preciso traçar seu plano.
Quem tem coragem de blefar? Todo jogador que se preze!
Aceitar também é questão de estratégia. Um blefe e um aceite errados podem colocar tudo a perder.
Um torneio de poker pode se estender por dias! E é preciso, então, preparo físico para resistir até o final, com concentração para ser campeão.
– Dizem que cinco coisas são necessárias para jogar poker: paciência, paciência, paciência, paciência, paciência! Além disso, exige concentração máxima o tempo todo.
Os jogos ocorrem tanto pela internet quanto presencialmente. Marcelo conta que chegava a jogar 20 torneios on-line em um só dia. Ele explica, porém, que jogar ao vivo é um “plus” para quem gosta.
Jogadores profissionais se dividem entre o jogo on-line e os grandes campeonatos. Marcelo, por exemplo, vai para Las Vegas todo ano e fica por lá durante dois meses, jogando todos os dias.
– Quem joga poker no mundo todo se reúne por lá no meio do ano!
O que também faz os olhos arregalar – os meus e até os de jogadores profissionais – são os valores envolvidos em grandes competições de poker.
O principal campeonato brasileiro garante R$ 10 milhões em prêmios. Os campeonatos mundiais chegam a ter R$ 15 milhões de dólares como montante. (!!)
Marcelo jogou profissionalmente até montar sua casa de jogos, em 2011. Hoje, ele joga bem menos do que quando começou, envolto em curiosidade. Se dedica à casa LOL, que há um ano também é bar.
Sonha, porém, em voltar a viver só do jogo.
Em Ribeirão Preto, só joga com amigos e após muita insistência. A rotina é cuidar da casa e do bar. Por ali, Marcelo diz, passa gente de todo tipo.
Há quem chegue a frequentar o local diariamente. E ele faz questão de frisar que esse tipo de jogador é minoria.
Diz que, ao longo dos anos, a casa foi criando mecanismos para impedir quem se perde no jogo de continuar jogando.
– Como casa, a gente tem regras e formas de brecar essa minoria.
Poker, Marcelo reafirma, é coisa séria.
Álcool e jogo profissional, por exemplo, são duas coisas que não combinam.
– É como beber no trabalho. Você precisa estar atento. A imagem do jogador profissional de poker é com uma mochila e água. Na mochila, você leva barrinhas de cereais, castanhas, coisas leves para aguentar as horas de jogo.
O tempo de jogo diminuiu, mas o amor pelo poker continua o mesmo. O jogo é parte da vida.
– Na vida? Ah, eu aposto tudo! Desde que me conheço por gente. Para mim, a vida é mais feliz assim. Eu não conseguiria viver em um escritório, por exemplo.
Marcelo fez sua aposta. E continua a vencer o jogo.
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