Pipoca de Jovelino tem 37 anos de história no Calçadão de Ribeirão Preto

20 junho 2017 | Gente que inspira, Parte da gente

Jovelino posiciona o carrinho e seu banquinho de plástico.

Senta e fica olhando o vem e vai de gente. Não grita o cliente. Estoura a pipoca e eis o seu chamariz.

Também não dá trela para quem quer negociar preço. Joga a pipoca do saquinho de volta no carrinho e pronto. Que o pechinchão vá para casa com água na boca!

– Se vai numa loja comprar alguma coisa tem que pagar o preço, não é?

Aos 87 anos – 37 deles vendendo pipoca no Centro de Ribeirão Preto – Jovelino Zanandreia tem passe livre para ser como bem quiser.

“É patrimônio do Calçadão. O vendedor ambulante mais antigo que tem aqui”, é o que dizem os outros comerciantes da área.

– O segredo da pipoca? Ah, o povo gosta, né?

Em patrimônio não se mexe – tem até lei que diz.

Jovelino Zanandreia pipoqueiro calçadão de Ribeirão Preto há 37 anos

Jovelino conta que nasceu no sítio e com sete anos já colhia algodão. Aos 18, foi para “a cidade”, em Ribeirão Preto, trabalhar em fábrica, serraria de madeira, tudo quanto era lugar.

Conseguiu vaga na prefeitura e, durante 35 anos, trabalhou cuidando de praça e jardim.

Quando aposentou, já vendia pipoca, dividindo o turno entre a prefeitura durante o dia e o comércio à noite.

Por cinco anos trabalhou para o dono do carrinho. Conseguiu comprá-lo quando o homem mudou de cidade, em 1985.

Há 37 anos, Jovelino vê o dia terminar no Calçadão.

– Só de quarta e domingo que eu não venho.

Hoje – 87 anos – se dá dois de folga. É o máximo que aguenta.

– Se eu ficar em casa, eu morro. Tenho um colega que aposentou e a barriga dele tá desse tamanho.

Faz a circunferência com os braços.

Chega por volta das 17h30 e fica até o movimento acabar. Se tem teatro, só vai para casa quando é meia noite. Anda com a programação do Pedro II no bolso, para não perder o movimento de nenhum espetáculo.

– Vê aí para mim se hoje tem teatro. Ah, tem? Então vai ser bom. Lá eu vendo a pipoca a R$ 5.

Chega a vender 40 saquinhos de pipoca em uma noite movimentada.

Se não vende, porém, não tem lamentos.

– Se não vender nenhuma, eu pego meu carrinho e vou embora. Não fico oferecendo para ninguém!

Jovelino criou os seis filhos dividindo o turno do dia. Hoje, aposentado, o dinheiro da pipoca já não tem o fardo de pagar as contas.

Jovelino Zanandreia pipoqueiro calçadão de Ribeirão Preto há 37 anos

Jovelino confessa que só cai na tentação da pipoca vez que outra.

– Quer coisa boa para você comer? É maçã! Tem vitamina.

Aos 87 anos, não precisa mais fazer propaganda.

Diz que não tem muitos amigos no Calçadão – que é segunda casa. Aponta um ou outro comerciante. E só.

– Não pode fazer muita amizade. Tem muita gente ruim.

Logo depois, troca pipoca por frutas com o vendedor da carriola, bate um papo com o moço do balão, fala das delícias do churros e a rabugice vai ficando só na palavra.

Quer ser centenário, para continuar vendendo a sua pipoca.

– Até os 120 eu queria viver! Quero ver meus netos casar ainda!

Quando chega a hora do espetáculo, posiciona o carrinho em frente ao teatro Pedro II, estoura sua pipoca e espera.

Em patrimônio não se mexe.

 

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