Professora Ingrid acredita na educação feita com afeto

10 janeiro 2020 | Gente que ensina, Histórias do Proac 2019/2020

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Quando menina, Ingrid se passava por professora e, se os primos não estavam disponíveis, transformava até mesmo as plantas da casa em alunas. Todas as suas bonecas sabiam ler e escrever, no universo da pequena mestra.

Ao longo do caminho, outras ideias de profissão vieram.

Conta que ingressou no magistério, no Ensino Médio, apenas pela oportunidade de estudar em uma escola melhor do que a oferecida em seu bairro. Aprendendo sobre a docência no estágio com educação infantil, porém, saiu do curso com a mesma paixão de outrora pelo ensinar. Já grande, em tamanho e na busca por conhecimento.

– As crianças gostavam de estar ali. Eu via a alegria delas… decidi que seria professora!

Desde então, há quase duas décadas, Ingrid Ferreira Prado, 36 anos, se encanta ano a ano pelo fazer aprender. A área que mais gosta é a alfabetização, atuando com a educação infantil.

– É muito encantador ajudar a criança a descobrir que ela sabe. Elas chegam dizendo: ‘Eu não sei, não dou conta’. Quando você mostra que ela dá conta, sim, é a parte mais mágica de ser professora!

Só entende o ensinar que é feito de afeto, entretanto. Construiu sobre ele as bases do seu fazer, do seu ser, por completo:

– Eu sempre tive muito amor em casa e na escola. O fato de me receberem com carinho fazia muita diferença para mim.

Entre as lembranças dos tempos em que era aluna, está a professora Maristela, do 1º e 2º ano. “Era rígida, gostava da sala silenciosa e dos cadernos impecáveis”, como diz. Mas não faltava afeto:

– Um dia ela pediu que nós fossemos muito arrumados. Era para recebermos nosso primeiro livro didático. O livro com o qual fomos alfabetizados.

Ingrid aprendeu a ler e escrever no primeiro ano. Os avós, com quem morava, também têm um espaço de afeto nas memórias, “tomando a leitura” em casa diariamente. Na volta da escola, havia sempre um mimo.

– Meu avô me buscava e comprava um sorvete no caminho.

Começou o gosto pela leitura com uma coleção de clássicos da infância: Gato de Botas, Cinderela, Branca de Neve. Entre as letras e palavras, o aprendizado foi sendo tecido com carinho.

Professora Ingrid acredita na educação feita com afeto

Ingrid nasceu e cresceu em Ribeirão Preto. Os pais se separaram quando ela tinha oito anos. A mãe e os avós foram responsáveis por sua criação. Ela chegou a morar um tempo com os eles, que lhe levavam e buscavam na escola.

Quando terminou o magistério, decidida a fazer faculdade e ser professora, a mãe avisou, com muito pesar, que não teria condições financeiras de arcar com os custos. Ingrid conseguiu, então, seu primeiro emprego como professora em uma escola que estava abrindo as portas, a Sathya Sai.

– Eu não precisei pausar os estudos. Pude fazer a faculdade.

Entrou em Letras aos 19 anos e viveu uma grande experiência profissional nessa primeira escola. No primeiro mês de trabalho, com o prédio ainda em reforma, os professores foram orientados a conhecerem os alunos e suas famílias. Visitavam o bairro, procuravam saber informações sobre a criança desde a gestação e seus primeiros anos de vida.

– Quando eles chegaram para as aulas, a gente já sabia um pouco sobre eles. Muitas vezes, a família não pode ir à escola e a gente passa o ano todo sem conhecer. Foi muito importante!

Ficou quatro anos na escola até prestar e passar no concurso para o Estado, onde lecionou por seis anos, os últimos três deles (2009 – 2011) junto às aulas na Prefeitura de Ribeirão Preto.

Os cursos de formação que pôde fazer nas instituições pelas quais passou foram essenciais em sua jornada.

– Por mais que o professor se considere alfabetizador, sempre tem coisas novas que ele pode trazer para a sala de aula.

Se casou aos 24 anos, teve sua primeira filha aos 25 e o segundo aos 29.

Pediu exoneração do Estado em 2011 e ficou com as aulas no município. Durante a trajetória, lecionou para diversas faixas etárias. Teve uma sala de EJA (Educação de Jovens e Adultos) da qual tem saudade.

– As senhorinhas achavam que eu ensinava muito para elas e eu era quem mais aprendia. Elas tinham muitas histórias de vida… e gostavam de contar. Tinham muitas dificuldades, mas todas avançavam. Quando conseguiam partir para a leitura e escrita era maravilhoso!

A educação infantil é a preferida, não nega.

– Eles ainda não perderam aquela afetividade da primeira infância. Estão em um ponto muito gostoso para ensinar. Aprendem com uma facilidade muito grande e começam a perceber que estão aprendendo. Eles vêm com conhecimentos muito importantes, mas não vêm alfabetizados.

A professora, para a criança, tem um lugar especial.

– Para eles não existe pessoa mais especial. Com a educação infantil, a gente entra no mundo da criança cantando, brincando.

A cada troca de escola, uma despedida calorosa pelos afetos criados.

– Cada mudança é aquela choradeira! A gente cria vínculos e eu acho que quando há vínculo, o aprendizado se torna muito mais fácil. Eles se sentem queridos, e são.

Hoje, Ingrid é professora na Escola Municipal Alfeu Luiz Gasparini, no Ipiranga, com alunos de 6 anos. Em sua sala de aula, a leitura é diária. Uma vez por semana, visitam a biblioteca. Se não vão, os alunos questionam.

– Mesmo quando eles ainda não conseguem ler sozinhos, eles contam as histórias pelas imagens.

Se sente realizada com a profissão que escolheu, mesmo entre os pesares.

– O professor deveria ser mais valorizado. É pela educação que vamos conseguir formar sujeitos da sua própria história. Com leitura, as crianças serão adultos mais críticos.

A principal realização?

– Certamente, a professora faz a diferença na vida dos alunos. Para alguns mais do que para outros. Mas, o principal, é o quanto cada um deles faz a diferença na nossa vida! Eu acho o máximo saber que eles conseguem chegar lá com a minha ajuda, mas eu me torno cada dia melhor por causa deles.

As cartinhas e mimos que recebe dos pequenos se multiplicam a cada semana. Afeto que contagia e floresce!

– Eles são parte da minha vida. Parte muito importante da minha vida. Eu não me vejo fazendo outra coisa.

 

 

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