Quando ele contou que nasceu no Dia do Músico, estava decidida abertura da sua história. Haveria outra forma de abrir?

– A música para mim não é só tudo o que eu faço, mas é tudo o que eu sou.

Aos 21 anos, ele já alcança altas notas. Depois de vencer um concurso de canto lírico no Brasil, foi convidado para se apresentar na Itália, no festival Sarzana.

E, com financiamento coletivo e apoio de amigos e família, já começa a preparar as malas.

A cantoria que começou com um CD do Pavarotti comprado por engano, faz Ramon Mundin conquistar o mundo. O seu mundo e o nosso.

– Quando eu canto eu sinto a transformação do silêncio, em fazer aquele momento virar alguma coisa.

A música, para Ramon, é herança de família.

O avô cantava seresta e o rock`n roll de Elvis Presley. A tia, pianista e professora de música, levava o sobrinho para as aulas de piano.

Foi pela bateria, no entanto, que veio o primeiro grande encanto.

O segundo foi descoberto aos 11, 12 anos. Ramon cantou em uma apresentação da escola de música e nunca mais parou.

A ópera chegou três anos mais tarde, naquelas coisas da vida em escrever certo por melodias tortas.

O outro avô de Ramon – o que não era cantor – gostava muito de André Rieu. Por engano, a mãe de Ramon lhe comprou de presente um CD do Pavarotti, que ele não gostou.

Ramon, então, se encarregou de ficar com o álbum.

Na mesma época, ele entrou para Cia Minaz.

Encontrou na união do Pavarotti com a Cia o caminho musical a seguir.

– Eu descobri a ópera. Mas ainda não tinha noção de que eu poderia ser cantor de ópera.

Na Unicamp, cursando música, a noção veio pelos elogios dos professores ao ouvir Ramon cantar.

No ano passado, segundo ano do curso, ele foi convidado a ser solista da Ópera da Unicamp. Aceitou honrado, mas sem ter ideia de onde o convite poderia lhe levar.

A ária ‘Una furtiva lacrima’ fez do canto encantamento.

Pouco depois de cantar a ária na Ópera da Unicamp, surgiu a ideia. Que tal participar do 15º Concurso Maria Callas de canto lírico?

É um dos concursos mais importantes da América do Sul, os professores deram apoio e Ramon começou a se preparar.

– Mas fui sem pressão…

Escolheu a ária que já havia encantado meses antes e, em abril deste ano, ganhou o concurso na categoria ópera.

Só a vitória já valeira história. Mas Ramon vai além.

Foi o único competidor entre os 142 cantores – seis deles vencedores de categorias – a receber tal convite.

Os jurados italianos que faziam parte da banca querem que Ramon participe de concurso na Itália, cante e encante por lá.

É quase um mês de cantoria. Depois do concurso, mesmo que o cantor não ganhe, ele pode assistir aulas de canto na terra da ópera.

– Esse convite foi o melhor prêmio: fazer aula fora, cantar fora, estudar fora! São tenores de carreira.

Depois do convite, Ramon começou a preparação. Vai ganhar estadia e alimentação na Itália, mas ainda faltam as passagens que vão leva-lo até lá.

O irmão sugeriu: Por que não fazer uma campanha de doações pela internet?

Os amigos de Campinas, que participam juntos de um tributo a tenores, decidiram que o lucro dos próximos dois consertos vai para a viagem de Ramon.

Em Ribeirão, outros amigos deram ao tenor aulas de italiano em troca de um jantar preparado por ele, com boas doses de conversa.

Com união, o canto de Ramon vai encantando o mundo. E ele não duvida:

– Vamos conseguir, sim. Tudo o que vier ajuda!

Quando está no palco, o menino se transforma em grande tenor.

– Quando eu estou falando através da música, eu liberto o Ramon e entro no personagem.

A ária que Ramon vai cantar na Itália já está escolhida. Para que mudar o que está dando tão certo? ‘Una furtiva lacrima’ há de encantar ainda mais ouvidos italianos.

De toda forma, Ramon vence.

– Eu não sei de outro brasileiro que vá participar desse concurso. Por enquanto, não vi nenhum.

O avô que não gostava de Pavarotti agora tem ainda mais motivos para reavaliar.

Crédito das fotos e vídeos: arquivo pessoal de Ramon

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