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Gabriel está no colo da mãe, distribuindo sorrisos. Para quem assiste ao vídeo, é uma cena de alegria. Mas foi uma das internações mais graves do bravo menino.
Ele estava tendo convulsões seguidas. Milhares em um único dia. Perdeu movimentos do corpo e a mãe temeu que perdesse o sorriso. No hospital, então, Gabriel distribuiu vários deles, como se quisesse aquietar o coração de Sabrina.
Foi assim durante toda sua história: dois anos e quatro meses de vida, que para a família significaram um tempo que não se conta no calendário.
– O Gabriel foi um milagre. Tudo se tornou diferente. Ele veio para transformar a nossa vida de uma maneira completa.
Em vida, ele mostrou que é sempre possível. Com uma síndrome rara, Pfeiffer tipo 2, reverteu tantas expectativas médicas! Nasceu, quando diziam que a gestação não iria continuar. Viveu anos, quando a previsão era de poucas horas. Sorriu, interagiu, brincou da sua maneira quando o prognóstico era de que iria vegetar. A doença provoca deformidades no crânio e na face, além de alterações neurológicas de todo tipo.
A mãe, Sabrina Matthes, se reinventou. E foi reinventando o entorno. Gabriel se tornou querido por gente de todo Brasil. No Instagram, “Diário especial Sabrina Matthes”, ela compartilhava as conquistas de todo dia.
– Eu recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que a vida delas mudou depois que conheceram a história do Gabriel. Ele ajudou muita gente.
Gabriel se foi, há um mês e meio, mas sua força continuou pulsando. Seus órgãos foram doados e deram possibilidade de vida nova a três crianças. Depois, a família criou o projeto “Anjo Gabriel”, para levar alegria em forma de doação aos pequenos em vulnerabilidade social.
Sabrina alivia a saudade fazendo o bem. Está arrecadando ovos de Páscoa, que serão entregues a uma ONG da cidade. A ideia é doar também brinquedos no Natal e, assim, ir seguindo.
– O que mais me marca no Gabriel é o sorriso. Surgiu, então, a ideia de levar sorrisos para outras crianças.
As homenagens para o seu pequeno continuam chegando, de todo lado. Até o parquinho do condomínio onde a família vive foi batizado com seu nome: “Cantinho do Gaby”.
Dois anos e quatro meses de vida e a memória de Gabriel se tornou eterna. Encontrou por aqui muita força e amor de mãe.
– Ele me ensinou muito. Mesmo diante das dificuldades, estava sorrindo. Não comia pela boca e estava alegre. A gente não precisa de muita coisa para ser feliz.
Sabrina, 38 anos, é força. Não há outra palavra para definir essa mãe. Um mês após a partida do filho, o coração de quem fez tudo o que podia estava cheio de saudade, mas tranquilo.
– Eu tenho essa sensação de paz porque eu amei meu filho. Fiz de tudo para ele. Não poderia ter feito diferente.
Gabriel estava bem. Com um quadro clínico estabilizado.
Sempre precisou de oxigênio para respirar. Em uma tarde de janeiro, arrancou a traqueostomia com a mãozinha, teve uma parada cardiorrespiratória e, depois de tantas e tantas batalhas, partiu. Sabrina seca o choro o mais rápido que pode. Encontra na fé o amparo.
– Eu busco acreditar que Deus falou para ele: ‘Sua missão acabou’. Porque foi uma forma de partir saudável e ajudar outras crianças.
Missão que teve início já na barriga da mãe. O segundo filho foi planejado e esperado pelos pais, que fizeram tratamento e aguardaram um ano e meio pelo positivo no exame.
A gestação foi conturbada. Sabrina teve sangramento na 10ª semana, ficou afastada do trabalho até a 20ª e na 22ª semana soube que estava gerando um bebê com deficiência.
A orientação de pessoas próximas foi para que ela interrompesse a gestação, tamanho o nível de má formação detectado nos exames. Sabrina sequer cogitou a ideia. Pelo contrário: entrou em trabalho de parto precoce três vezes e quis passar por procedimentos para segurar a gravidez, com internações longas e medicações fortes.
Gabriel chegou entre a 38ª e a 39ª semanas, no dia 13 de setembro de 2017. E já veio brigando pela vida. Nasceu com poucos batimentos, precisou ser reanimado e foi direto para a UTI. Foram 16 dias de internação até a alta.
As questões foram aparecendo, se intensificando. Traqueostomia, gastro, cirurgia para drenar a água do cérebro, choque séptico, convulsões: a cada ida para o hospital, um desafio. Não foram poucas as vezes em que Sabrina precisou brigar por um procedimento médico, uma internação. Brigava mesmo, sem pestanejar.
Conseguiram na Justiça que o convênio custeasse todo o tratamento do menino em casa, com enfermagem, fisioterapia, fonoaudiólogo, nutricionista e médico. Era uma maneira de evitar as infecções. Gabriel chegou a ter infecção generalizada em uma das internações.
Sabrina se desdobrou para continuar, ainda que por meio período, trabalhando como fisioterapeuta. O filho mais velho também precisava do carinho da mãe.
– Eu tenho muita fé. Tenho certeza que Deus sempre me sustentou. Tentava carregar com a maior tranquilidade possível.
A família toda ajudava e os pais iam se desdobrando.
– Nós criamos uma rede de ajuda. Foi muito bonito. Essa história envolveu muita gente.
O marido, que é bombeiro, recebeu todo o apoio da corporação.
– A partir do momento em que você diz ‘sim’ parece que Deus vai abrindo caminhos.
Sabrina foi fazendo amigos com a conta no Instagram, que surgiu como uma forma de guardar as lembranças do filho e logo se tornou canal de inspiração.
– Eu recebi mensagens de pessoas dizendo que o Gabriel mudou a vida delas. Isso é tão forte, tão prazeroso.
No aniversário de um ano de Gabriel, teve festa do “Pequeno Príncipe”. O personagem que enfeitava a mesa usava traqueostomia, assim como todos os bichos do “Rei Leão”, que celebraram seu segundo ano. A cada dia de vida, ele revertia uma expectativa.
– Cada dia da vida dele era um milagre. Fez tudo o que ninguém imaginava que ele faria. Viveu mais do que deveria e mostrou amor o tempo todo.
O menino surpreendeu do primeiro ao último dia. Sabrina, de tanto ouvir que seu filho não iria viver, teve que aprender a se preparar para a ideia.
– Eu fiquei quase três anos vivendo o luto.
Devido às internações recorrentes, a principal preocupação era uma infecção e a mãe fazia de tudo para prevenir.
Se essa fosse a causa do óbito, Gabriel não poderia ter doado os órgãos, que ajudaram a três crianças.
– Ele foi amor o tempo todo. Eu tento acreditar que a possibilidade que ele teve para partir e continuar ajudando foi essa: retirar a traqueo. Ele partiu saudável.
A mãe convive diariamente com a saudade. Reúne a força que tem para que ela não se transforme em tristeza. O projeto “Anjo Gabriel” vem para ajudar.
Arrecadou cinco ovos de Páscoa. É o começo. Muita gente se comprometeu a ajudar. Amigos, vizinhos: a mesma rede que apoiava Gabriel está agora se unindo para apoiar outras crianças.
– É manter o nome dele vivo. Manter vivo o que ele proporcionou para a minha vida.
Sabrina, pouco a pouco, vai retomando a rotina. Para o trabalho ainda não conseguiu voltar. Está se fortalecendo, dia a dia, como o filho ensinou. Quando digo que ela é inspiração com sua garra, a resposta é certeira:
– Eu só transcrevi aquilo que ele passava. Ele ensinou sem falar. Eu só tive a sensibilidade de entender.
São muitos os vídeos e fotos em que Gabriel distribui sorrisos. Parte, então, deixando sorrisos por aqui. Continua a ser amor.
*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/
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Conhecia a história desse anjo, mas não conhecia essa mãe guerreira.
Trabalho há 14 anos com a equoterapia e qtas historias de mães maravilhosas.
Sabrina que Deus ilumina spre vc e sua família.
Parabéns Sabrina, pra vc e toda a família q amou e cuidou do Gabriel
Em casa, tenho meu “filho especial” também…e não é facil dar o melhor…mas tambem tenho tentadp fazer meu melhor
Q Jeova Deus lhe abencoe ricamente
E seu pequeno sempre soube do seu Amor por ele.