Esta história integra o projeto “Memória de Artista”, produzido com apoio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura de Ribeirão Preto.
Por Daniela Penha
O livro se abre tal qual janela para que uma nova história possa começar…
Pelas mãos de Semíramis Paterno as histórias extrapolam o universo das palavras e ganham formas, bochechas, corpinhos, sorrisos, lágrimas, tudo em muitas cores. São sereias voadoras, meninos sonhadores, bichos de todo tipo que, na fábula, podem cantar, falar, criar.
Uma menina chamada Felicidade, um vovô com nome de árvore, um sapo Leleca, uma princesa Lili. Nas histórias costuradas entre palavras e ilustrações, a imaginação corre espaçosa pela estrada nada estreita do criar.
Arte é coisa possível de mensurar? A ilustradora acredita que soma mais de 100 livros ilustrados, entre didáticos e literatura. Resultado de toda uma trajetória dedicada ao fazer: a parte imensurável de todo esse legado.
– Os momentos de maior felicidade são aqueles em que estou criando. Ali, estou com o melhor de mim… a arte é salvação!
Começou menina. O encantamento pelos livros levantava sempre a um questionamento:
– Eu ficava pensando: ‘Quem será que fez essas ilustrações? Saiu de um forno? Como foi?’.
A família deu apoio. O pai a presenteava com livros e mais livros: asas voadoras para a imaginação já pulsante da menina.
Semíramis, que desde os seis meses de vida mora em Ribeirão Preto, nasceu em Belo Horizonte. Seus pais se conheceram em Araxá, Minas Gerais, em uma história de amor que bem poderia virar livro.
O pai arrendou um importante hotel na cidade das águas medicinais. A mãe, que vivia no interior do Rio de Janeiro, foi passear por lá e a paixão foi à primeira vista. Em 15 dias estavam noivos!
Logo após o nascimento de Semíramis, em 1956, eles se mudaram para o interior de São Paulo. Por aqui, a menina começou as aulas de desenho aos 12 anos. As brincadeiras que mais gostava eram feitas de criação: montar casas e coisas com caixas de sapato, projetar. A família até pensou que seria engenheira!
No colegial, fazia broches de papel marche e vendia para as amigas: sempre criando. Já estava, nessa época, encantada pela arte de desenhar. Aos 15 anos, conquistou seu primeiro emprego em uma agência de Publicidade. Por influência de professoras da época, entretanto, decidiu cursar Arquitetura, em São Paulo.
– Eu terminei o curso, mas foi a duras penas! Era muito cálculo, matemática, mas não tive coragem de falar para o meu pai que iria desistir.
Encontrou uma forma de somar o gosto aos estudos, porém. Como trabalho de conclusão de curso pesquisou a charge e a ilustração como registro histórico da vida das cidades, contrapondo aos tradicionais projetos de casas e outros imóveis.
– Foi um trabalho muito empolgante! Ganhei 10!
No tempo em que passou em São Paulo, estagiou com Zélio Alves Pinto, irmão do Ziraldo. Começou, então, a desenvolver trabalhos como ilustradora com revistas, cartilhas.
– Mas o que eu ganhava não dava para me sustentar. Desde que vendia os broches, na adolescência, era para ser independente. Então, resolvi voltar.
Retornou para Ribeirão Preto em 1985 e começou a trabalhar em agências de Publicidade e Propaganda, enquanto o desejo de ilustrar livros ia se concretizando, passo a passo. A rotina foi sufocando a artista, que queria criar sem corte para as asas.
Por volta de 1986, pintou o caminho das artes como único, somando desenhos e encantamentos. Nessa trajetória, de 2000 a 2010, cuidou do caderno infantil do Jornal A Cidade, projeto que deixou boas memórias.
Tem obras publicadas pelas maiores editoras do Brasil e uma caixa de histórias entre tantas criações. Vai escolhendo algumas para compartilhar!
Um dos primeiros livros que ilustrou trazia, em poesia russa, a história de um urso panda vivendo o luto. O final era tão triste como todo o enredo.
– Eu tentei com a ilustração amenizar aquilo tudo… Fiz o desenho de uma forma mais leve!
A autora lhe chamou para uma conversa: “A poesia russa é isso mesmo!”, explicou. E o trabalho foi refeito, com pitadas de tristeza difíceis de se encontrar no trabalho de Semíramis.
– O mundo já é bastante difícil para ficarmos na tristeza, na angústia.
Em outra ocasião, foi chamada para ilustrar a história de uma menina com um urso. A imaginação foi longe! Resolveu trabalhar com ilustrações em fotos, depois de conhecer o real “urso” de pelúcia enorme de uma amiga. Entregou, orgulhosa, todo o trabalho.
A ligação do editor veio, pouco depois. “Semíramis, está tudo lindo! Mas isso não é um urso! É um cachorro!”. E o trabalho foi todo refeito, como conta entre risos gostosos!
Refazer é parte do criar, ela bem sabe. Entre autor e ilustrador se faz necessário um entrelaçamento de ideias, para que palavras e formas dialoguem em harmonia.
– Quando eu entrego algo, aquilo é o que eu considero o melhor.
Dar forma às palavras é tarefa que mora no subjetivo, no entanto.
– Ilustrar é trazer algo do campo das ideias, que é absolutamente abstrato, para o real. As vezes esse processo é bastante sofrido. Eu leio muitas vezes o texto, estudo os personagens.
A inspiração vem da observação e das memórias. Traz referências da infância e, muitas vezes, demora a perceber. É como se tudo estivesse ali, pulsando. Desenhava suas meninas de vestido e sapatinhos de boneca. Vendo uma foto sua pequenina descobriu que estava a fazer um auto retrato.
– Se eu tenho que desenhar alguma coisa, olho para mim mesma. Tenho um espelho comigo. Se preciso fazer uma careta, olho no espelho como é a feição. Peço para alguém fazer a posição para mim…
O mais difícil, ela conta, é traçar a ideia.
– Depois que eu estou com tudo na cabeça, sento e faço. Desenhar é mais demorado, mas conceber é o mais difícil.
Apaixonada por histórias, quis compartilhar o bem que elas tanto lhe entregaram. Por 12 anos, foi contadora de histórias voluntária no hospital Santa Lydia e ilustrou o livro “História – um remédio que não dói”, guardando em páginas um pouco do que viveu.
– Às vezes a criança não queria o remédio. Chegava o contador e era mágico. Transformava os pais, as crianças. Não tive filhos, mas considero todos eles filhos também.
Aos 64 anos, em plena pandemia, enfrentando a crise do mercado editorial, foi preciso reformular. Semíramis passou a publicar obras independentes, feitas com união entre escritores amigos, gente querida.
– Cansei! Cheguei em uma fase que eu sei o que é bom… não preciso de aprovação!
Tem dado certo! “A menina felicidade”, “Um pensamento”, “Uma vida em sete estampas”, são suas mais recentes obras, lançadas em pleno confinamento.
– A energia vem da paixão pelos livros, pela ilustração e da vontade de querer mostrar coisas bonitas, que possam encantar as pessoas.
Pensa no legado que quer deixar para o mundo, sempre em renovação.
– Quero deixar alguma coisa que seja bela. Que essa felicidade que sinto quando estou criando possa se refletir nas outras pessoas!
A vida, afinal, dá para explicar em história?
– Acho que é se divertir!
Responde entre risadas, e complementa:
– Eu acho que a gente vem aprender, se tornar melhor. E se divertir também!
E o livro se fecha para que uma nova história possa (re)começar!
Maravilhas criadas por Semi… parabéns!!!
Que ótima entrevista!!! Que maravilhosa artista! Parabéns!
Querida Semí,
Minha amiga querida adoro o seu trabalho e sua amizade. Parabéns por sua linda trajetória. Continue nos encantando com os seus traços e cores. Saudades
Conheço o trabalho da Semi! E como admiro este trabalho! É encantador e faz até o adulto que conta a história, viajar para o mundo encantado que a Semi nos apresenta! Adoro e sempre procuro os livros ilustrados por ela,para presentear crianças queridas!
Amooooooo o trabalho da musa Semíramis Paterno! É poesia representada por imagens que ressignificam a vida amorosamente. Essencial ao fazer humano!
Semi, que lindeza é você!! Que trajetória rica, sensibilidade sempre transbordando…Doce, delicada, apaixonada e gigante na sua arte. Sempre com pitadas generosas de amor na ponta do lápis. Orgulho por poder provar desse amor!! Suas obras e sua amizade, para mim, é Ouro!!
No sorriso da Semi moram tantas histórias lindas e delicadas queca Gabriela traduziu de maneira tão intensa!!! Delícia!
Orgulho de conhece-la, gratidão por nossa amizade.
Seus livros trazem de volta a minha criança, as minhas memórias, aquecem o coração da alma.
Parabéns amiga! Trabalho abençoado.
Adorei a entrevista. Vou procurar por seus livros para confirmar os detalhes que descreve com entusiasmo que contagia.
Semíramis,
linda sua trajetória, uma vida sempre entrelaçada à arte! O prazer que vc tem ao criar é visível em suas ilustrações !
Parabéns pelo seu talendo e pelo uso que faz dele!
Lindo trabalho. Trazer leveza as nossas mentes num mundo muitas vezes difícil.
Parabéns Semi, a matéria ficou maravilhosa e retrata bem o seu lindo trabalho!
Parabéns Semi !! Estou sem palavras..Italiana genial.. bjs da titia.
Semiramis, sua criação encanta crianças e adultos, traz alegria interior. Parabéns! Sucesso!
Minha Linda amiga Semi, que bom conhecer melhor a sua história de vida.
Seu trabalho retrata a sua beleza interior.
Suas histórias/ilustrações são alimentos pra minh’alma.
Que o Universo lhe retribua com criatividade sempre. Parabéns! ?
Artista maravilhosa!!!
Amo as duas: Daniela e Semíramis. Dois seres que trazem para o mundo a mensagem que felicidade vai além de um estado de espírito: um propósito do viver!