Texto: Daniela Penha – Fotos: Sheila Brandão – Ilustração: Cordeiro de Sá – Produção: Vandreza Freiria

Se depender da meninada, todo dia tem lasanha no abrigo Santo André, em Serrana. É o prato preferido das crianças e adolescentes que têm a instituição como casa. A cozinha, a gente bem sabe, é o coração de todo lar. Bem por isso, Josi leva para seus pratos mais que o bom tempero. 

– O segredo de uma boa comida é alho, cebola e o carinho que você coloca. Todo prato que é feito com amor é o melhor do mundo. 

Ela, então, procura somar os melhores pratos do mundo sempre que está por ali. 

Trabalha no abrigo aos finais de semana e feriados. No último Natal, então, deixou a família biológica em casa para estar com os meninos e meninas. E assim tem sido, em todas as datas comemorativas. Os tradicionais almoços de domingo, para Josi, são feitos dessa nova família que, com afeto, ela vai construindo. 

– São crianças diferentes, que estão mais vulneráveis. A gente senta juntos, almoça, passa o dia. Durante a semana, sinto saudade. 

Josi entrega aos pequenos e grandinhos um tipo de afeto que vem lá de dentro, nas raízes de sua própria história. 

Sua mãe faleceu quando ela tinha 2 anos de vida e seu pai quando ela estava com 11. Ela e os dois irmãos foram criados pela avó e, então, entende bem quando uma das crianças fala sobre a saudade, a ausência. 

– Antigamente, eu achava muito difícil as coisas por não ter pai e mãe… mas hoje me sinto realizada. Eu falo para eles que no abrigo eles têm como crescer. São privilegiados por estarem aqui e, então, têm que agarrar com força essa oportunidade. 

Um lar feito de afeto

O Abrigo Santo André, criado há 24 anos, acolhe crianças e adolescentes, de 0 a 18 anos, que, por questões diversas, foram retirados de suas famílias após determinação judicial. 

– Muitos deles passaram por negligências, abusos, violência física e psicológica e precisaram ser retirados de suas famílias. Eles podem ser reinseridos no núcleo familiar ou não.  

Explica Raquel de Oliveira Marques, que é coordenadora da instituição. 

Em julho, havia 15 crianças e adolescentes vivendo ali. O objetivo, Raquel explica, é tornar o abrigo o mais parecido possível com um lar. 

– A gente costuma dizer que eles são uma grande família. Buscamos ao máximo passar para a equipe que eles (acolhidos) estão aqui para serem cuidados e amados. 

Como uma boa casa, o abrigo precisa contar com uma cozinha sempre recheada de gostosuras. Além dos convênios com o poder público, a instituição conta com doações para manter suas atividades. 

O Mesa Brasil é um dos parceiros. Desde abril de 2020, quando se cadastrou no programa, até agosto de 2021 o abrigo já recebeu 52 doações, totalizando 2,9 toneladas de alimentos. 

Cada mantimento que chega, Raquel enfatiza, é de grande importância. Ali, a cozinha cumpre mais do que a função alimentar. As crianças e adolescentes são chamados a ajudar, aprendem a colocar a mão na massa e encontram nas refeições momentos de lazer, como conta Josi. 

– Sempre tem uma coisa diferente! A gente faz o dia do lanche, da pizza, do churrasco. Eles querem ajudar, participar. É muito gostoso! 

Cozinha é afeto. Quem nunca ouviu dizer que cozinhar para alguém é um ato de amor? 

História temperada com garra

Josi pratica atos de amor há mais de uma década! Além do abrigo, de segunda a sexta trabalha como cozinheira em uma escola municipal. Entrou 12 anos atrás, como concursada. 

A gastronomia, porém, divide espaço com outra paixão. Ela conta que, desde criança, sonhava em ser professora.

A trajetória foi se complicando um pouco e o sonho precisou ser protelado. Com o falecimento dos pais, precisou começar a trabalhar cedo, para ajudar a avó com a casa. Então, na adolescência, deixou o Ensino Médio antes da conclusão. 

Decidiu, porém, que seria provisório. E encontrou uma forma de cumprir. 

Se casou aos 19 anos, teve dois filhos, que hoje têm 14 e 16 anos, trabalhou bastante. O concurso na prefeitura foi uma forma de somar o gosto pela cozinha com a estabilidade profissional que precisava. 

Em 2015, entretanto, Josi decidiu que era tempo de retomar o sonho antigo. Fez o supletivo e, em 2017, começou a faculdade de Pedagogia. Se formou em 2020, driblando a falta de tempo com a rotina dividida entre os filhos, os estudos e os trabalhos. De segunda à sexta está na cozinha da creche. Aos sábados, domingos e feriados vai para o abrigo. 

– O que ajuda a gente é conhecimento e estudo. Para tudo precisamos do estudo.

Agora, a dúvida é seguir na gastronomia ou partir para a sala de aula. 

Bom na vida é poder escolher caminhos! 

Todos os afetos que Josi construiu com sua trajetória temperada com garra lhe acompanham na cozinha do abrigo. Ali, ela procura, além do alimento, oferecer incentivo. 

– A gratidão é uma coisa que não tem como explicar. Na hora em que eles terminam de comer, vêm me abraçar e falam: ‘Obrigada, tia’. Não tem nada melhor! 

Na infância, ela tinha receio das merendeiras. Conta que uma cozinheira da escola onde frequentava dizia que criança malcriada iria para o caldeirão. 

– Era como uma bruxa! A gente tinha medo! 

Hoje, pode dar outro sentido a esse fazer. Sua cozinha, então, está sempre de panelas abertas! Ali, ninguém precisa se amedrontar. 

Em volta da mesa, as crianças estão em família. Compartilham afetos e fazem valer o dito. A cozinha é o coração da casa! 

Conheça mais sobre o Mesa Brasil

Que tal criarmos uma ponte entre quem precisa de ajuda para matar a fome e quem pode e quer fazer o bem? Uma ponte que consiga unir essas duas pontas, fazendo com que os alimentos que sobram para um cheguem à mesa do outro? 

É isso que faz o programa Mesa Brasil, criado pelo SESC SP há 27 anos e presente em todo o país.

Caminhões coletam diariamente doações de alimentos com empresas, supermercados, cerealistas, produtores, entre outros fornecedores e entregam para instituições sociais e hospitais. Só em São Paulo são 30 caminhões circulando todos os dias para atender 63 cidades paulistas. 

Realizando a coleta e a entrega dos produtos, o Sesc São Paulo facilita o caminho para quem quer doar e garante que toneladas de alimentos que seriam desperdiçados cheguem à mesa de quem precisa: uma rede de combate à fome! 

Em tempos de pandemia, o programa se tornou ainda mais fundamental. Só em 2020 foram distribuídos mais de 7.200.000 kg de alimentos, além de 470.000 kg de produtos de higiene e limpeza para 1.150 instituições sociais e 120.000 famílias. Em 2021, já são 2.425.809 kg de alimentos arrecadados. 

Em Ribeirão Preto, o programa existe desde 2014. Dois caminhões passam pelas empresas doadoras pela manhã, para coletar os alimentos doados, e, no período da tarde, levam o que foi coletado para as instituições sociais. Em 2020, o programa coletou 220 toneladas de alimentos e materiais de limpeza e higiene. Atualmente, está com 87 instituições sociais cadastradas e mais de 3000 famílias atendidas.

O Mesa Brasil do SESC Ribeirão atende, além de Ribeirão, as cidades de Serrana, Sertãozinho, Santa Rosa do Viterbo, Guariba, Jaboticabal, Franca e Barretos. De janeiro até agosto de 2021 já coletou 132 toneladas de alimentos. E os números não param de crescer – ainda bem!

O projeto “Gente que Alimenta” conta as histórias de quem faz esse programa do bem acontecer: doadores e instituições que precisam de apoio para continuarem suas atividades. 

Quer saber mais sobre o Mesa Brasil? Quer se tornar um doador? Acesse o SITE AQUI e se encante ainda mais com esse bonito programa!