Garapeira do Abel faz história no calçadão de Ribeirão

13 dezembro 2017 | Gente que inspira

Abel está de casa nova. Depois de 35 anos no mesmo lugar e outros quatro buscando um espaço no calçadão recém-reformado de Ribeirão Preto, ele voltou a fincar raízes. E garante:

– Daqui eu não saio mais!

Bem no meio do vai-e-vem de gente, na General com a Tibiriçá, só invertendo a ordem que durou mais de três décadas.

– Antes eu ficava na Tibiriçá com a General. Mas como a General não tem igual! Agora ficou bonito.

Abel e sua garapa – 39 anos de história – são parte do cenário central.

Não importa se a estrutura do ponto é antiga ou recém-pintada, ele atende a clientela na rua, ao lado da torneira que enche os copos da delícia de cana.

Fica quase o dia todo em pé, distribuindo “bom dia” e “boa tarde” a quem passa.

– Enquanto as pernas garantirem, nós estamos aqui, né?

Abel está de casa nova.

Não há outro nome para o lugar onde passou a maior parte da vida, criou os filhos, construiu legado e escreveu história.

– Isso aqui é tudo para mim. Sem isso, eu não sei como seria…

O fornecedor da cana é o mesmo há quase quatro décadas. O avô passou o negócio para o pai e agora quem comanda é o neto.

Abel, no entanto, continua o comprador.

– Eu nunca fiz isso de trocar. Se tá dando certo, vou trocar para quê?

Abriu a garapeira no Calçadão de Ribeirão Preto em 1976 e não quis mudar – nem de ramo, nem de fornecedor.

Abel Domingos Pereira dos Santos, 68 anos, encontrou a felicidade vendendo garapa, água de coco, churros e salgado para gerações inteiras de famílias ribeirão-pretanas.

– Minha história é isso aqui. É esse Calçadão. Isso aqui é tudo pra mim!

Antes de chegar ao Calçadão, teve carrinho de lanche e trabalhou na feira. Quando a possibilidade de abrir a garapeira surgiu, agarrou com afinco.

Criou os filhos por ali, junto aos filhos dos outros.

– Tem gente que vinha de pequeno e hoje traz os netos.

Difícil quem não o conhece pelo nome. E vai além. Vira família da meninada que passa por alí. “Tchau vô!”, diz a moça que comprou a garapa e ganhou o churros.

Abel diz que não tem ideia do quanto vende.

– Nunca marquei. Sou eu e meus filhos, não tem porquê. A gente vai moendo aí!

Bem por isso, não pensa duas vezes para presentear quem está sem dinheiro naquele dia. A bebida geladinha sempre vem com chorinho!

Garapeira do abel

Abel conta que seus meninos se formaram com o dinheiro que vem da cana: em Direito e Administração. O orgulho maior, entretanto, vem na fala que segue:

– Nenhum quis seguir a profissão. Ficam só aqui. Isso é o futuro deles.

Futuro que, ele espera, seja feito ali, no vai e vem do Calçadão, com a garapa da mesma cana, do mesmo fornecedor.

Em 39 anos, Abel só faltou do trabalho quando ficou doente, no ano passado, e precisou ser internado.

Nem mesmo quando uma árvore caiu sobre o carrinho e estragou todo o teto ele deixou de abrir. Passou ano com o carrinho amassado, esperando a hora de mudar para o novo – e definitivo – local.

Abel não gosta de mudar o que está bom.

– Tá no tamanho certo agora. Agora ficou bonito!

De casa nova, renovou as energias para mais 39 anos de garapa.

História publicada pela primeira vez em 21 de maio de 2017.

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Garapeira do Abel

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1 Comentário

  1. Edson João Leoneti

    Me desculpem. Parabenizo a Daniela Penha pela bonita história e tbm. o senhor Abel por tanto tempo no ramo e pelo carinho com seus fregueses e pessoas que por ali passam. Mas sou totalmente contra a Prefeitura ter cedido parte do calçadão para que fosse montado este enorme ponto de venda.Principalmente por ser no espaço do calçadão que foi construído para dar melhores condições de circulação para os pedestres.O mesmo deveria ser montado na parte do gramado e ocupado um espaço menor. Obs. Não sei como as normas da tão falada Cidade Limpa funcionou neste caso e se alguém souber de algo que justifique tamanha aberração por favor me corrigem.

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