Israel sente o mundo pela música

4 outubro 2019 | Histórias do Proac 2019/2020

Esta história foi narrada pelos integrantes do projeto Doadores de Voz, dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unaerp. Para ouvi-la, é só clicar no play: 

 

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 10 de março de 2017!

 

O pai erra um acorde e Israel para de cantar.

– Ré não. Mi menor.

Não sabe qual a cor do violão e como ficam os dedos do pai quando toca. Mas sente cada nota dentro de si. Encontrou na música sua forma de conexão com o mundo. E, enquanto canta e dança, tudo o que é difícil fica longe.

Israel não se contentou em ser o guerreiro que conseguiu sobreviver quando os médicos insistiam em lhe dar últimas horas de vida. Não se satisfez em ser a criança autista, o menino cego, com uma lista infinda de obstáculos a enfrentar.

Quis – e quer – mais. É o menino música. É canto. É encantamento.

Aprendeu os acordes das suas músicas preferidas ouvindo vídeos que ensinam a tocar violão pelo Youtube. Se o pai esquece como toca aquele refrão, é o menino quem dá o caminho. Fabiano faz os acordes, Israel se posiciona à frente e dá a batida.

Tem dificuldades para conversar, construir frases. Mas não para decorar as letras das músicas. Sabe do começo ao fim, sem esquecer nada.

Sente o ritmo. Dança solto pela sala, dando voltas em torno do refrão. Bate palmas estridentes. Mexendo uma garrafinha de água, cria um novo instrumento de percussão. Na bateria, ensaia as primeiras harmonias.

Não fica um minuto completo sem música.

– Você quer ouvir “odoratas com defeitos e homens perfeitos”? (Música do Erasmo Carlos)

Pela música, supera o que parecia insuperável.

 

Israel, primeiro filho de Marcela e Fabiano, nasceu com 790 gramas, no quinto mês de gestação. Os médicos davam 72 horas de vida. E nos 98 dias de UTI não faltaram injeções de desânimo.

– Eles diziam que meu filho iria morrer. Mas eu pedi para Deus confiar em mim. Eu queria sair de lá com o meu filho, não importava como fosse.

É a mãe, Marcela Parreira, quem conta.

O pequeno venceu paradas cardíacas, paradas respiratórias, pneumotórax, hemorragia craniana e chegou a pesar 500 gramas.

Na última semana de internação, quando a melhora veio, os pais receberam a notícia de que o pequeno sofrera retinopatia da prematuridade e as chances de enxergar eram quase nulas.

Foram sete meses buscando reversão. Levaram em médicos de São Paulo, tentaram de todas as formas, mas o diagnóstico não mudou.

Quando Israel tinha quatro anos e meio, veio o diagnóstico do autismo. As professoras da escola notaram e o médico confirmou que o comportamento que tanto preocupava a mãe tinha nome.

Marcela e Fabiano escolheram buscar o melhor para o pequeno. Ela é professora. Ele fica com o filho e, para complementar a renda, faz bicos quando Israel está nas diversas atividades que faz.

Israel vai à escola, à aula de natação, fisioterapia, musicoterapia, terapia intensiva e neste ano os pais pretendem colocá-lo na aula de música. Só as despesas com o filho somam mais de R$ 5 mil mensais.

Os pais, então, se desdobram em campanhas e ações para compor a renda. Criaram uma página no Facebook – “Querido Israel” – por onde organizam bingos, rifas, eventos e tudo quanto é forma de levantar dinheiro. Já são mais de 1,8 mil curtidas.

Também colocam vídeos do Israel cantando. E não há quem não se encante.

A música foi a forma que os pais encontraram para Israel, ainda bebê, interagir e ser estimulado. Colocavam canções, cantavam e não demoraram a perceber que o som agradava.

– Quando ele estava começando a falar, a primeira música que cantou foi “Sapo Cururu”.

É o pai quem conta.

Maiorzinho, Israel começou a aprender os acordes, a batida do violão e a escolher o repertório musical.

Jota Quest é a banda preferida e os pais já levaram o pequeno a um show, com direito a foto no camarim. Depois, vem Erasmo Carlos, Renato Russo, Tim Maia…

– Você quer ouvir “Encontrar alguém?” Eu quero ouvir “Encontrar alguém”!

A regra é que ele construa a frase inteira, para ter o pedido de música atendido.

Os pais querem que Israel aprenda braile, se comunique, tenha autonomia. Sabem que o futuro é dia-a-dia. Amanhã, é uma conquista.

– Acima de tudo, eu quero que meu filho seja feliz. E a música é o caminho.

Marcela é quem diz e Israel vem logo comprovar.

O pai pega o violão, dá o primeiro acorde e pronto.

– Numa folha qualquer eu desenho o sol amarelo…

É Israel quem canta.

 

*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/

 

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*Vídeo retirado da página de Israel no Youtube

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