Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 11 de janeiro de 2018!
Foi pelas mãos de sua mãe que Regina conheceu a linha. Mesmo cega, ela fazia tricô e colocava a arte na vida dos filhos.
Quando Regina entrou em depressão, quatro anos atrás, e deixou o consultório médico com uma lista de remédios a tomar, a linha que a ligava à mãe surgiu como solução.
Uma solução que Regina custou a entender de onde vinha.
Ela diz que sempre gostou de artesanato, mas, nessa época, precisava de algo que inovasse tudo de dentro para fora.
Buscou na internet inspiração e encontrou um vídeo de uma ucraniana produzindo aqueles círculos coloridos.
O idioma era impossível de entender e o vídeo não tinha legenda, mas Regina assistia cada pedacinho atentamente e não demorou a tecer sua primeira mandala.
Nas linhas coloridas, que um dia passaram pelas mãos da mãe já falecida, ela encontrou um novo sentido para a vida.
Hoje, depois de um número incontável de mandalas espalhadas por aí, livre da depressão e com um negócio próprio, ela tem uma certeza:
– Foi minha mãe que nos conduziu a isso.
Diz no plural porque não embarcou nesse universo sozinha. O filho, Júlio, é companheiro de produção.
Na arte milenar, as gerações estão conectadas.
– Hoje eu sei que para ser feliz eu preciso estar bem comigo e amar o próximo. Se todo mundo der um pouco do seu amor, o mundo todo se cura.
É Regina quem diz.
Conheci Júlio vendendo mandalas coloridas em um barzinho do Centro, em uma noite de terça-feira.
O colorido das linhas chama os olhos. Impossível não se encantar.
Ele parou, conversamos e combinamos de contar a história da arte. Não sabia, porém, quanta história iria encontrar!
Regina e Júlio Benedicto chegam para a entrevista em uma praça do Centro. Ela tem uma mandala tatuada no ombro direito: marca da arte na sua vida.
A história começa.
Regina conta que quatro anos atrás entrou em um processo de depressão profundo.
Ela cresceu pela praça XV acompanhando os pais que eram cegos e vendiam bilhetes de loteria. Trabalhou desde sempre como vendedora, diarista. Criou os quatro filhos.
A mulher que hoje exibe força conta que era só tristeza por dentro.
Procurou um médico e saiu com o diagnóstico de depressão e uma lista imensa de remédios, que não queria tomar.
Quando fez a primeira mandala, sentiu o coração se abrir.
– A mandala foi me preenchendo, me curando. Fazendo mandala, eu fui me auto conhecendo. É observação, deixar de me julgar pelos erros.
O Júlio, até então, olhava a arte da mãe com estranheza.
– Mas alguma coisa foi mais forte que eu. Quis fazer uma para tentar. A primeira que terminei me fez sentir uma realização muito grande. E a vontade de fazer outras.
Foi depois de um tempo produzindo mandalas que os dois buscaram os significados da arte. Até então, tudo acontecia quase de maneira intuitiva.
Pesquisando, Regina e Júlio souberam que mandala é símbolo de cura, transformação, proteção, energia. A palavra mandala significa círculo e faz parte de diferentes culturas, no mundo todo.
Além disso, Regina diz, há a cromoterapia, que é a cura pelas cores colocadas na mandala.
– Quando eu percebi, estava mudando por dentro.
Agora, é Júlio quem fala.
Regina e Júlio decidiram, então, levar a mandala para a vida.
Ele, que já pensava em ter um negócio próprio, encontrou na arte uma resposta. Ela divide o tempo entre o trabalho de diarista e artesã.
Cada mandala leva, em média, duas horas de trabalho ininterrupto para ficar pronta. O material é simples: linha e bamboo. O segredo é a entrega.
– Por isso, vibra. Quando você olha, já sente a energia que vem de quem faz.
Regina fala.
Os dois ministram cursos para compartilhar a arte. E também vendem as peças que fazem. Júlio, quase todas as noites, percorre os bares de Ribeirão vendendo.
– Mas não é simplesmente vender. Ali, eu tenho contato com as pessoas. Crio relações.
Criaram uma página no Facebook, Yantra Mandalas, para falar sobre a arte, partilhar conhecimento.
– A minha vontade é de preencher o mundo de cor. Espalhar uma mandala em cada árvore.
Regina quer dividir a energia que tanto lhe faz bem.
– Eu me sinto uma pessoa completa e realizada.
Através da arte, mãe e filho se conectam.
Fazem o bem e espalham o bem: em círculo de mandala.
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