Regina e Júlio: Mandalas de mãe para filho

24 agosto 2018 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 11 de janeiro de 2018!

 

Foi pelas mãos de sua mãe que Regina conheceu a linha. Mesmo cega, ela fazia tricô e colocava a arte na vida dos filhos.

Quando Regina entrou em depressão, quatro anos atrás, e deixou o consultório médico com uma lista de remédios a tomar, a linha que a ligava à mãe surgiu como solução.

Uma solução que Regina custou a entender de onde vinha.

Ela diz que sempre gostou de artesanato, mas, nessa época, precisava de algo que inovasse tudo de dentro para fora.

Buscou na internet inspiração e encontrou um vídeo de uma ucraniana produzindo aqueles círculos coloridos.

O idioma era impossível de entender e o vídeo não tinha legenda, mas Regina assistia cada pedacinho atentamente e não demorou a tecer sua primeira mandala.

Nas linhas coloridas, que um dia passaram pelas mãos da mãe já falecida, ela encontrou um novo sentido para a vida.

Hoje, depois de um número incontável de mandalas espalhadas por aí, livre da depressão e com um negócio próprio, ela tem uma certeza:

– Foi minha mãe que nos conduziu a isso.

Diz no plural porque não embarcou nesse universo sozinha. O filho, Júlio, é companheiro de produção.

Na arte milenar, as gerações estão conectadas.

  – Hoje eu sei que para ser feliz eu preciso estar bem comigo e amar o próximo. Se todo mundo der um pouco do seu amor, o mundo todo se cura.

É Regina quem diz.

Regina e Júlio mandalas Ribeirão Preto

Conheci Júlio vendendo mandalas coloridas em um barzinho do Centro, em uma noite de terça-feira.

O colorido das linhas chama os olhos. Impossível não se encantar.

Ele parou, conversamos e combinamos de contar a história da arte. Não sabia, porém, quanta história iria encontrar!

Regina e Júlio Benedicto chegam para a entrevista em uma praça do Centro. Ela tem uma mandala tatuada no ombro direito: marca da arte na sua vida.

A história começa.

Regina conta que quatro anos atrás entrou em um processo de depressão profundo.

Ela cresceu pela praça XV acompanhando os pais que eram cegos e vendiam bilhetes de loteria. Trabalhou desde sempre como vendedora, diarista. Criou os quatro filhos.

A mulher que hoje exibe força conta que era só tristeza por dentro.

Procurou um médico e saiu com o diagnóstico de depressão e uma lista imensa de remédios, que não queria tomar.

Quando fez a primeira mandala, sentiu o coração se abrir.

– A mandala foi me preenchendo, me curando. Fazendo mandala, eu fui me auto conhecendo. É observação, deixar de me julgar pelos erros.

O Júlio, até então, olhava a arte da mãe com estranheza.

– Mas alguma coisa foi mais forte que eu. Quis fazer uma para tentar. A primeira que terminei me fez sentir uma realização muito grande. E a vontade de fazer outras.

Foi depois de um tempo produzindo mandalas que os dois buscaram os significados da arte. Até então, tudo acontecia quase de maneira intuitiva.

Pesquisando, Regina e Júlio souberam que mandala é símbolo de cura, transformação, proteção, energia. A palavra mandala significa círculo e faz parte de diferentes culturas, no mundo todo.

Além disso, Regina diz, há a cromoterapia, que é a cura pelas cores colocadas na mandala.

– Quando eu percebi, estava mudando por dentro.

Agora, é Júlio quem fala.

Regina e Júlio mandalas Ribeirão Preto

Regina e Júlio decidiram, então, levar a mandala para a vida.

Ele, que já pensava em ter um negócio próprio, encontrou na arte uma resposta. Ela divide o tempo entre o trabalho de diarista e artesã.

Cada mandala leva, em média, duas horas de trabalho ininterrupto para ficar pronta. O material é simples: linha e bamboo. O segredo é a entrega.

– Por isso, vibra. Quando você olha, já sente a energia que vem de quem faz.

Regina fala.

Os dois ministram cursos para compartilhar a arte. E também vendem as peças que fazem. Júlio, quase todas as noites, percorre os bares de Ribeirão vendendo.

– Mas não é simplesmente vender. Ali, eu tenho contato com as pessoas. Crio relações.

Criaram uma página no Facebook, Yantra Mandalas, para falar sobre a arte, partilhar conhecimento.

– A minha vontade é de preencher o mundo de cor. Espalhar uma mandala em cada árvore.

Regina quer dividir a energia que tanto lhe faz bem.

– Eu me sinto uma pessoa completa e realizada.

Através da arte, mãe e filho se conectam.

Fazem o bem e espalham o bem: em círculo de mandala.

 

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