Você já comprou jornal na banca do João e da Nilza?

15 fevereiro 2019 | Gente que inspira

Vale a pena ler de novo! História publicada pela primeira vez em 21 de fevereiro de 2017!

 

Entre as revistas e jornais que ainda são maioria, misturam-se chips e acessórios para celulares, coleção de carrinhos, uma geladeira com bebidas, alguns salgadinhos, sombrinha para os dias de chuva.

A banca, que era passeio de domingo da criançada e ponto de encontro dos leitores, precisou tomar nova forma. Atrás do balcão, Nilza e João também se reinventam. Sem, contudo, cogitar trocar o trabalho que vence gerações.

– Minha mãe foi uma das primeiras mulheres a trabalhar com banca de jornais em Ribeirão Preto. Meu irmão também tem banca. É coisa de família!

É Nilza Aparecida Anúncio Tocouto quem diz. Aos sete anos, ela começou a trabalhar na banca que hoje leva o nome do João. O marido veio há 28 anos, e cativou a freguesia.

– É que o João é mais popular!

Nilza cai na risada.

Os pais dela abriram o negócio em 1969, 48 anos atrás. Ela começou a ajuda-los, sem imaginar que esse seria o único emprego da vida toda.

– Ela era pequena e gritava os nomes dos assinantes que passavam na rua, avisando que a revista tinha chegado.

Agora é João Tocouto quem cai na risada. Ele trocou o trabalho na farmácia pela banca quando Nilza estava grávida do primeiro filho e não conseguia cuidar das entregas e de todo o serviço sozinha.

Depois de quase três décadas, o casal é parte do cenário central de Ribeirão Preto, de onde Nilza não quer sair.

– Vou trabalhar até quando Deus permitir e der forças!

A banca começou na rua São Sebastião, em frente ao Jornal A Cidade. De lá, passou para a rua Tibiriçá e, há quatro anos, pelas reformas no Calçadão de Ribeirão, fica na Praça XV, perto da fonte.

Nilza viu mudar o endereço, a freguesia, os hábitos de leitura. Participa de tudo um tanto aflita.

– Antes, os pais traziam as crianças na banca, incentivavam a leitura. As crianças eram nosso forte nas vendas. Hoje, já não tem mais isso. E as crianças estão deixando de ler.

A banca costumava abrir por volta das 7h, de domingo a domingo. Nilza e João chegavam a vender 100 exemplares de uma revista de comportamento ao mês. Entregavam revistas e jornais em consultórios, salões de beleza, comércio em geral.

Na lista de “artistas” que frequentaram o local estão Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Glória Menezes, João relembra.

– Eles ficavam em hotel no Centro e iam na banca comprar o jornal, uma revista, pedir informação.

Hoje, abrem as portas depois das 8h, de segunda a sábado. Domingo, que era o dia de maior movimento, deixou de compensar.

– De domingo formava roda de gente papeando logo cedo. As famílias iam na missa e depois traziam as crianças para escolher revista, gibi.

A revista que vendia 100 exemplares não vende mais que dois em um mês inteiro. As entregas pararam e, no pódio de vendas, os jornais e revistas deram lugar aos chips, coleção de carrinhos e acessórios de celular.

– Primeiro, vieram as assinaturas. A pessoa prefere assinar e receber em casa. Perdemos muitas vendas. Depois, veio a internet e diminui ainda mais.

Nilza não acredita, porém, que jornais e revistas impressas vão acabar e fica de coração apertado quando chegam informações de que a prefeitura pretende tirar as bancas do Centro de Ribeirão.

– O que nós fazemos é um serviço de utilidade pública. Incentivamos a leitura, a cultura e somos um posto de informações.

Mal termina de dizer e um moço interrompe: “Onde revela foto por aqui?”.

Nilza navega contrária a onda pessimista. Acredita que, com incentivo, a leitura volta a fazer parte da rotina da criança e do adolescente. Com exemplo, a vida vai bem.

– Tá vendo esse moço careca que saiu daqui agora? Quando ele começou a comprar aqui, era cabeludo. Um menino! Vendemos para crianças que hoje já trazem os filhos. É assim…

Depois de 47 anos entre jornais e revistas, Nilza não vai virar a página.

 

Assine História do Dia por R$ 13 ao mês ou faça uma doação de qualquer valor AQUI!

Nos ajude a continuar contando histórias!

Compartilhe esta história

0 comentários

Outras histórias