Vicente aprendeu a ler aos 21 anos, fez Teologia e viajou pelo mundo como pastor

12 novembro 2018 | Gente que inspira

Na semana em que agendamos a entrevista para contar sua história, Vicente havia completado 70 anos. Estava contente que só, mostrando as fotos da festa que reuniu amigos e família.

– São 70 anos de muita luta, muita dificuldade. Me sinto realizado!

Ele não quer escrever apenas um livro com sua história. Quer logo dois, dividindo a trajetória em fases.

– A minha história é uma vida!

Aprendeu a ler e escrever aos 21 anos, quando pôde ir para a escola depois de passar a infância e adolescência trabalhando na roça. Aos 36, se tornou pastor, função que desempenha ainda hoje e que entende como missão. Se formou em Teologia, conhece países a perder as contas, conta orgulhoso que todos os seus filhos têm ensino superior.

– Se eu morrer hoje, morro feliz porque errei muito, mas sempre tentando, não por não tentar. Eu sou uma das pessoas mais felizes desse mundo!

Vicente Mesquita História do Dia

Vicente Mesquita conta em detalhes a rotina de amansar gado, trabalhando de sol a sol sem descanso.

– O primeiro banho do meu pai foi em uma banheira de ouro. Meu pai era de família muito rica, mas perderam tudo.

Com a falência, seus pais foram trabalhar em fazendas de Goiás. Ele, caçula de oito filhos, relata que começou a trabalhar ainda bem pequeno. Aos sete anos já amansava gado, profissão que levou até os 14 anos, quando teve uma briga com um dos irmãos mais velhos e decidiu seguir sozinho para outra fazenda.

Por lá, continuou com o trabalho duro. Arava o pasto, tirava leite, amansava o gado.

– Eu não tinha oportunidade de estudar. Era completamente analfabeto.

E relembra a tristeza de não conseguir ler o mundo quando pegou um trem com destino a Poços de Caldas e, no caminho, não conseguiu entender a placa que identificava um hotel.

– Eu perguntei para um moço: Onde arrumo hotel? E ele disse que eu estava embaixo de um. Um adulto que não sabe ler é como se fosse cego.

Mas também relembra o homem que lhe ofereceu uma refeição no trem, percebendo sua fome.

– Minha mala era um saco de sal com duas trocas de roupas. Ele me pagou uma janta e um guaraná, que era um luxo na época. Eu não me esqueço dele!

A oportunidade para deixar o interior e morar em Goiânia surgiu quando já tinha 19 anos. Um amigo emprestou uma camisa para essa primeira viagem, com objetivo de procurar trabalho. Quando foi para ficar, fez a viagem a cavalo, levando os animais para a venda.

Foram quatro dias, percorrendo cerca de 170 quilômetros.

Quando chegou à cidade, passou dias dormindo em saco de arroz, descarregando caminhões de uma madeireira. Logo, os donos perceberam seu empenho e lhe ofereceram emprego dentro da empresa.

Com a melhora de vida, ele pôde, finalmente, realizar uma vontade antiga, esquecida entre tanta dureza.

– Em 1970 eu comecei a estudar! Não sabia nem o ABC. Comecei no pré.

Conta que com dois meses de estudos foi transferido para o segundo ano e no final de 1970 já estava terminando o quarto.

– Tudo mudou quando aprendi a ler. É um mundo completamente novo.

Foi nessa mesma época que conheceu a esposa com quem está casado até hoje e para quem compõem músicas, que se emociona ao cantar.

– Eu tive um sonho com uma moça muito bonita, que ficou na minha cabeça. Quando conheci minha esposa, era a moça dos meus sonhos.

Vicente Mesquita História do DiaVicente sonhava em ser engenheiro, mas a vontade de construir família com a “moça dos sonhos” falou mais alto. Em 1972, se casaram. Ele conseguiu terminar o Ensino Médio na modalidade “científico”, estudando estatística, quando a primeira filha nasceu.

Depois dela, vieram gêmeos e, quando ele se preparava para tentar o vestibular de engenharia, veio a terceira gravidez.

– Meus estudos foram embora, mas como eu posso imaginar minha vida sem o Júnior?

Foi crescendo, então, nos cargos da madeireira e se tornou chefe de entregas. Mudou de cidade, decidiu ter um negócio próprio, mas não deu certo. Passou a trabalhar com vendas de porta em porta e, por volta de 1980, se mudou para Catalão, Goiás, onde ficou por cinco anos e descobriu sua vontade de ser pastor.

Abriu um mercado, com um objetivo:

– Eu queria ser rico. E eu seria, se Deus não tivesse outro plano para mim.

Conheceu um pastor por lá e se converteu à religião evangélica. Aos poucos, foi se tornando pastor. Veio para Ribeirão Preto no final da década de 80, onde fundou sua própria igreja.

– Ser pastor é profissão e das mais árduas. Não tem hora para parar. Você lida com pessoas com todo tipo de problema e precisa acolher.

Vicente viajou para lugares do mundo todo, através da igreja.

– Assim como os empresários viajam para aprender, os pastores também viajam.

Conta que, mais de uma vez, pensou em deixar de ser pastor.

– É uma vida de abnegação. Mas é um chamado, uma missão.

Conta das vezes em que acolheu pessoas na madrugada, das orações que levou nas casas e diz que a rotina não tem pausas.

Defende, porém, que é preciso respeitar a religião e a fé de cada um.

– Cada pessoa tem sua vida e faz suas escolhas.

Conta que, na companhia da esposa, está lendo a Bíblia pela sétima vez. uma rotina diária.

– É um livro de fé. Quanto mais eu leio, mas eu percebo que não sei. Jesus não é uma religião. É um estilo de vida.

Antes da entrevista terminar, coloca os CDS que gravou e canta a música que fez para a esposa e a outra que escreveu quando teve uma dengue e pensou que poderia morrer.

Canta em alto tom, enfático.

– Me sinto muito realizado! Meu trabalho é ajudar as pessoas!

Aos 70 anos, quer mostrar em música que se sente feliz com a história que escreveu.

 

Assine História do Dia ou faça uma doação de qualquer valor AQUI! 

Nos ajude a continuar contando histórias! 

Compartilhe esta história

10 Comentários

  1. Giuliano

    Tenho muito orgulho do senhor meu pai, que é uma referência de caráter e temor ao senhor. Te amo.

  2. Cleuton Corrêa de Souza

    Parabéns, senhor Vicente Mesquita de Azevedo, sou grato a Deus por ter o prazer de ser seu companheiro de ministério e seu genro.

  3. Luciana Mesquita souza

    Parabéns Papai…o senhor é o nosso Porto Seguro, o nosso maior orgulho…te amo muito Papai….

  4. Pedro Vicente Mesquita

    Meu avô é sensacional, ele me ensinou e ensina muitas coisas até hoje. Só de poder acompanhá-lo eu aprendo todos os dias algo novo

  5. Vicente A Mesquita Jr

    Tenho muito orgulho do senhor meu pai, um homem integro e honesto. Exemplo de superação, coragem e determinação. Te amo!!

  6. Arlete mesquita

    Parabéns Tio Vicente!! Parte desta história conheço de pertinho!! Sempre caminhando!!! Que Deus continue sempre a iluminar sua caminhada!! Com carinho!!??

  7. Flavio Fonseca

    Parabéns pela bela história de superação!

  8. Eurides Duque

    Parabéns pastor Vicente, homem abençoado, graças a Deus tive o prazer de conhece lo no encontro da família em caldas novas. Deus abençoe o senhor e toda sua família

  9. Ivani Monteiro

    Muito bonita a sua história, apóstolo Vicente. Meus pais e meus irmãos, sempre se lembram da sua passagem por Silvânia, com muito carinho e respeito.

  10. Nardel Policena Silva

    Conheci o Vicente na década de 80, nos tornamos amigos e parceiros, as vezes cantamos na igreja, fizemos até parceria, se lembra meu amigo, fizemos trabalhos evangelísticos juntos, tanto em Catalão, Silvania e Ribeirão Preto, hoje resta a saudade de ti e da Marlene minha amiga. Um grande abraço, onde quer que esteja, DEUS continue sendo seu porto seguro e sua busca, assim como tem sido pra mim.

Outras histórias