Na semana em que agendamos a entrevista para contar sua história, Vicente havia completado 70 anos. Estava contente que só, mostrando as fotos da festa que reuniu amigos e família.
– São 70 anos de muita luta, muita dificuldade. Me sinto realizado!
Ele não quer escrever apenas um livro com sua história. Quer logo dois, dividindo a trajetória em fases.
– A minha história é uma vida!
Aprendeu a ler e escrever aos 21 anos, quando pôde ir para a escola depois de passar a infância e adolescência trabalhando na roça. Aos 36, se tornou pastor, função que desempenha ainda hoje e que entende como missão. Se formou em Teologia, conhece países a perder as contas, conta orgulhoso que todos os seus filhos têm ensino superior.
– Se eu morrer hoje, morro feliz porque errei muito, mas sempre tentando, não por não tentar. Eu sou uma das pessoas mais felizes desse mundo!
Vicente Mesquita conta em detalhes a rotina de amansar gado, trabalhando de sol a sol sem descanso.
– O primeiro banho do meu pai foi em uma banheira de ouro. Meu pai era de família muito rica, mas perderam tudo.
Com a falência, seus pais foram trabalhar em fazendas de Goiás. Ele, caçula de oito filhos, relata que começou a trabalhar ainda bem pequeno. Aos sete anos já amansava gado, profissão que levou até os 14 anos, quando teve uma briga com um dos irmãos mais velhos e decidiu seguir sozinho para outra fazenda.
Por lá, continuou com o trabalho duro. Arava o pasto, tirava leite, amansava o gado.
– Eu não tinha oportunidade de estudar. Era completamente analfabeto.
E relembra a tristeza de não conseguir ler o mundo quando pegou um trem com destino a Poços de Caldas e, no caminho, não conseguiu entender a placa que identificava um hotel.
– Eu perguntei para um moço: Onde arrumo hotel? E ele disse que eu estava embaixo de um. Um adulto que não sabe ler é como se fosse cego.
Mas também relembra o homem que lhe ofereceu uma refeição no trem, percebendo sua fome.
– Minha mala era um saco de sal com duas trocas de roupas. Ele me pagou uma janta e um guaraná, que era um luxo na época. Eu não me esqueço dele!
A oportunidade para deixar o interior e morar em Goiânia surgiu quando já tinha 19 anos. Um amigo emprestou uma camisa para essa primeira viagem, com objetivo de procurar trabalho. Quando foi para ficar, fez a viagem a cavalo, levando os animais para a venda.
Foram quatro dias, percorrendo cerca de 170 quilômetros.
Quando chegou à cidade, passou dias dormindo em saco de arroz, descarregando caminhões de uma madeireira. Logo, os donos perceberam seu empenho e lhe ofereceram emprego dentro da empresa.
Com a melhora de vida, ele pôde, finalmente, realizar uma vontade antiga, esquecida entre tanta dureza.
– Em 1970 eu comecei a estudar! Não sabia nem o ABC. Comecei no pré.
Conta que com dois meses de estudos foi transferido para o segundo ano e no final de 1970 já estava terminando o quarto.
– Tudo mudou quando aprendi a ler. É um mundo completamente novo.
Foi nessa mesma época que conheceu a esposa com quem está casado até hoje e para quem compõem músicas, que se emociona ao cantar.
– Eu tive um sonho com uma moça muito bonita, que ficou na minha cabeça. Quando conheci minha esposa, era a moça dos meus sonhos.
Vicente sonhava em ser engenheiro, mas a vontade de construir família com a “moça dos sonhos” falou mais alto. Em 1972, se casaram. Ele conseguiu terminar o Ensino Médio na modalidade “científico”, estudando estatística, quando a primeira filha nasceu.
Depois dela, vieram gêmeos e, quando ele se preparava para tentar o vestibular de engenharia, veio a terceira gravidez.
– Meus estudos foram embora, mas como eu posso imaginar minha vida sem o Júnior?
Foi crescendo, então, nos cargos da madeireira e se tornou chefe de entregas. Mudou de cidade, decidiu ter um negócio próprio, mas não deu certo. Passou a trabalhar com vendas de porta em porta e, por volta de 1980, se mudou para Catalão, Goiás, onde ficou por cinco anos e descobriu sua vontade de ser pastor.
Abriu um mercado, com um objetivo:
– Eu queria ser rico. E eu seria, se Deus não tivesse outro plano para mim.
Conheceu um pastor por lá e se converteu à religião evangélica. Aos poucos, foi se tornando pastor. Veio para Ribeirão Preto no final da década de 80, onde fundou sua própria igreja.
– Ser pastor é profissão e das mais árduas. Não tem hora para parar. Você lida com pessoas com todo tipo de problema e precisa acolher.
Vicente viajou para lugares do mundo todo, através da igreja.
– Assim como os empresários viajam para aprender, os pastores também viajam.
Conta que, mais de uma vez, pensou em deixar de ser pastor.
– É uma vida de abnegação. Mas é um chamado, uma missão.
Conta das vezes em que acolheu pessoas na madrugada, das orações que levou nas casas e diz que a rotina não tem pausas.
Defende, porém, que é preciso respeitar a religião e a fé de cada um.
– Cada pessoa tem sua vida e faz suas escolhas.
Conta que, na companhia da esposa, está lendo a Bíblia pela sétima vez. uma rotina diária.
– É um livro de fé. Quanto mais eu leio, mas eu percebo que não sei. Jesus não é uma religião. É um estilo de vida.
Antes da entrevista terminar, coloca os CDS que gravou e canta a música que fez para a esposa e a outra que escreveu quando teve uma dengue e pensou que poderia morrer.
Canta em alto tom, enfático.
– Me sinto muito realizado! Meu trabalho é ajudar as pessoas!
Aos 70 anos, quer mostrar em música que se sente feliz com a história que escreveu.
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Tenho muito orgulho do senhor meu pai, que é uma referência de caráter e temor ao senhor. Te amo.
Parabéns, senhor Vicente Mesquita de Azevedo, sou grato a Deus por ter o prazer de ser seu companheiro de ministério e seu genro.
Parabéns Papai…o senhor é o nosso Porto Seguro, o nosso maior orgulho…te amo muito Papai….
Meu avô é sensacional, ele me ensinou e ensina muitas coisas até hoje. Só de poder acompanhá-lo eu aprendo todos os dias algo novo
Tenho muito orgulho do senhor meu pai, um homem integro e honesto. Exemplo de superação, coragem e determinação. Te amo!!
Parabéns Tio Vicente!! Parte desta história conheço de pertinho!! Sempre caminhando!!! Que Deus continue sempre a iluminar sua caminhada!! Com carinho!!??
Parabéns pela bela história de superação!
Parabéns pastor Vicente, homem abençoado, graças a Deus tive o prazer de conhece lo no encontro da família em caldas novas. Deus abençoe o senhor e toda sua família
Muito bonita a sua história, apóstolo Vicente. Meus pais e meus irmãos, sempre se lembram da sua passagem por Silvânia, com muito carinho e respeito.
Conheci o Vicente na década de 80, nos tornamos amigos e parceiros, as vezes cantamos na igreja, fizemos até parceria, se lembra meu amigo, fizemos trabalhos evangelísticos juntos, tanto em Catalão, Silvania e Ribeirão Preto, hoje resta a saudade de ti e da Marlene minha amiga. Um grande abraço, onde quer que esteja, DEUS continue sendo seu porto seguro e sua busca, assim como tem sido pra mim.