Entre as revistas e jornais que ainda são maioria, misturam-se chips e acessórios para celulares, coleção de carrinhos, uma geladeira com bebidas, alguns salgadinhos, sombrinha para os dias de chuva.
A banca que era passeio de domingo da criançada e ponto de encontro dos leitores precisou tomar nova forma. Atrás do balcão, Nilza e João também se reinventam. Sem, contudo, cogitar trocar o trabalho que vence gerações.
– Minha mãe foi uma das primeiras mulheres a trabalhar com banca de jornais em Ribeirão Preto. Meu irmão também tem banca. É coisa de família!
É Nilza Aparecida Anúncio Tocouto quem diz. Aos sete anos, ela começou a trabalhar na banca que hoje leva o nome do João. O marido veio há 28 anos, e cativou a freguesia.
– É que o João é mais popular!
Nilza cai na risada.
Os pais dela abriram o negócio em 1969, 48 anos atrás. Ela começou a ajuda-los, sem imaginar que esse seria o único emprego da vida toda.
– Ela era pequena e gritava os nomes dos assinantes que passavam na rua, avisando que a revista tinha chegado.
Agora é João Tocouto quem cai na risada. Ele trocou o trabalho na farmácia pela banca quando Nilza estava grávida do primeiro filho e não conseguia cuidar das entregas e de todo o serviço sozinha.
Depois de quase três décadas, o casal é parte do cenário central de Ribeirão Preto, de onde Nilza não quer sair.
– Vou trabalhar até quando Deus permitir e der forças!
A banca começou na rua São Sebastião, em frente ao Jornal A Cidade. De lá, passou para a rua Tibiriçá e, há quatro anos, pelas reformas no Calçadão de Ribeirão, fica na Praça XV, perto da fonte.
Nilza viu mudar o endereço, a freguesia, os hábitos de leitura. Participa de tudo um tanto aflita.
– Antes, os pais traziam as crianças na banca, incentivavam a leitura. As crianças eram nosso forte nas vendas. Hoje, já não tem mais isso. E as crianças estão deixando de ler.
A banca costumava abrir por volta das 7h, de domingo a domingo. Nilza e João chegavam a vender 100 exemplares de uma revista de comportamento ao mês. Entregavam revistas e jornais em consultórios, salões de beleza, comércio em geral.
Na lista de “artistas” que frequentaram o local estão Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Glória Menezes, João relembra.
– Eles ficavam em hotel no Centro e iam na banca comprar o jornal, uma revista, pedir informação.
Hoje, abrem as portas depois das 8h, de segunda a sábado. Domingo, que era o dia de maior movimento, deixou de compensar.
– De domingo formava roda de gente papeando logo cedo. As famílias iam na missa e depois traziam as crianças para escolher revista, gibi.
A revista que vendia 100 exemplares não vende mais que dois em um mês inteiro. As entregas pararam e, no pódio de vendas, os jornais e revistas deram lugar aos chips, coleção de carrinhos e acessórios de celular.
– Primeiro, vieram as assinaturas. A pessoa prefere assinar e receber em casa. Perdemos muitas vendas. Depois, veio a internet e diminui ainda mais.
Nilza não acredita, porém, que jornais e revistas impressas vão acabar e fica de coração apertado quando chegam informações de que a prefeitura pretende tirar as bancas do Centro de Ribeirão.
– O que nós fazemos é um serviço de utilidade pública. Incentivamos a leitura, a cultura e somos um posto de informações.
Mal termina de dizer e um moço interrompe: “Onde revela foto por aqui?”.
Nilza navega contrária a onda pessimista. Acredita que, com incentivo, a leitura volta a fazer parte da rotina da criança e do adolescente. Com exemplo, a vida vai bem.
– Tá vendo esse moço careca que saiu daqui agora? Quando ele começou a comprar aqui, era cabeludo. Um menino! Vendemos para crianças que hoje já trazem os filhos. É assim…
Depois de 47 anos entre jornais e revistas, Nilza não vai virar a página.
Seu João é dona Nilza a anos conheço …… São todos educados e simpáticos ….. Atenciosos com os clientes …. #bancadoseujoao
Vcs tem a revista jogão ?