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Karina Leite levou um susto. O novo coronavírus, ela diz, é o maior desafio profissional que já enfrentou em 16 anos como enfermeira do Samu. Não bastasse a gravidade da doença, soube que em poucos dias ficaria sem equipamentos de proteção. E todos os seus colegas também. As máscaras estão em falta no mercado, que não dá conta de tamanha demanda.
– Eu precisava fazer alguma coisa pela minha equipe, pelos profissionais da saúde, pelos pacientes. Como eu ia canalizar essa energia? Fugir, chorar? Ou somar forças e procurar agir?
Juliana Carielo recebeu o convite de uma amiga, que é médica infectologista. Desde o começo do ano, quando perdeu o emprego, intensificou o trabalho com crochês e artesanatos, que antes era hobby. Esses acasos nada casuais da vida. Com tempo mais livre do que nunca e habilidade treinada, pôde aceitar o chamado.
Cada um com a sua história, o mutirão foi se formando. Acreditam que são mais de 50 voluntários. Empresas, ONGS, profissionais da saúde, costureiras, pessoas de todo tipo com a vontade em comum de ajudar, engajados em produzir equipamentos de proteção e segurança para profissionais da saúde, pacientes e comunidade em geral.
As máscaras, agora, são a prioridade. Precisam conseguir confeccionar duas mil unidades ao dia, para sanar a demanda do sistema de saúde de Ribeirão Preto: unidades, hospitais, centros de atendimento. Começaram ontem.
– Existe o lado bom. Apesar de estar todo mundo afastado com o isolamento, todos estão se sentindo acolhidos, porque há muita gente querendo ajudar.
São as palavras de Juliana.
Ela e Karen contam que a movimentação para o projeto “Mascarás do bem” começou cerca de 10 dias atrás, quando os casos da Covid-19 começaram a aumentar no Brasil. Profissionais da saúde foram se unindo, buscando voluntários e, com a coordenação da Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto, começaram a pensar em ações.
Passaram uma semana planejando a melhor forma para a produção das máscaras. É preciso seguir as recomendações internacionais na higienização, confecção, produtos utilizados. Karina explica, por exemplo, que as pessoas que integram o grupo de risco não podem participar e que é necessário supervisão de profissionais da saúde em todo o processo.
Enquanto organizavam a produção das máscaras, foram se movimentando com outros equipamentos. Conseguiram costureiras voluntárias, empresas dispostas a doar os materiais, apoios de todo tipo. A escola Celso Charuri, em parceria com o Senai, cedeu seu espaço para que o grande ateliê de costura fosse instalado.
É preciso ser grande porque as costureiras não podem ficar próximas umas das outras. Além do distanciamento, elas também devem usar equipamentos de proteção para evitar qualquer contaminação ao equipamento que servirá para profissionais da saúde: linha de frente do atendimento aos pacientes.
Nos primeiros dias de trabalho, fizeram dois mil aventais, que já foram distribuídos nas unidades de saúde. Ontem, começaram as máscaras, já sabendo que a necessidade é urgente.
– Quando aparecer para comprar, a prefeitura fará a compra. Mas agora ainda não tem.
Explica Karina.
Karina, 41 anos, se formou em enfermagem na USP de Ribeirão Preto em 2001. Em 2004, entrou como enfermeira da USA (Unidade de Suporte Avançado) do Samu e não saiu mais.
Além dessa função, também atua como gestora de resíduos e na rouparia de 60 unidades de saúde. Rotina corrida. Que, agora, fica ainda mais intensa.
– Eu tenho no sangue isso de ajudar!
As Unidades de Suporte Avançado atendem os chamados mais graves que chegam ao Samu. Ela, então, acorda sem saber como será o final do dia.
– A gente lida com a vida e a morte no mesmo dia, em várias situações. É um dia depois do outro.
Entre tantos desafios, entende a Covid-19 como o maior deles. Se prepara como pode.
– Tem dias que eu estou melhor, em outros tenho muito medo. Mas a gente vai caminhando. Não vamos fugir da luta! Estamos aqui!
O projeto “Mascarás do bem” surgiu, então, como uma maneira de se manter em movimento, ajudar a preparar a cidade para o que vem.
– Os casos estão aumentando a cada dia!
Karina alerta.
Juliana, 44 anos, diz que nunca encontrava tempo para trabalhos sociais e encontrou agora. Então, agradece.
– Tudo tem um propósito.
Há mais de 20 anos, ela trabalhava com materiais cirúrgicos, com rotina de muitas viagens e correria. A demissão no começo do ano, por problemas que a empresa enfrentava, é vista como oportunidade para ajudar.
– Talvez, se eu estivesse no trabalho, não poderia ajudar.
Cada uma com sua trajetória, vão unindo as forças.
No mutirão, elas explicam, há pessoas com toda história, toda habilidade.
– Toda ajuda é bem-vinda!
Karina enfatiza!
Materiais ou mão de obra: tudo é necessário neste momento!
– Tem sido uma parceria muito bonita entre quem quer ser útil e quem precisa de ajuda. A comunidade pode e quer ajudar.
Para quem quer fazer máscaras em casa, a enfermeira alerta: é preciso usar TNT e trocar a máscara com regularidade. Do contrário, a proteção pode se transformar em maior risco de contágio.
– O período indicado é até quando amassa ou trocar assim que molhar. Do contrário, deixa de ser eficaz.
A ajuda que todos podem dar, ela enfatiza, é simples. E tem sido incansavelmente divulgada.
– A recomendação é ficar em casa, evitar aglomerações para diminuir a circulação do vírus entre nós.
Cada um com a sua história, vamos todos unindo forças e energias. Tudo vai passar!
Doações
Quem quiser realizar doações de materiais ou buscar outras informações, pode procurar o Fernando, da ONG Amor com Amor: (16) 991544943.
Quem quiser realizar doações financeiras para a compra de material o link é: www.vakinha.com.br/vaquinha/compra-tnt-gramatura-40-equipe-de-saude-covid-19-rp.
Quem quiser participar da fabricação, na costura, pode ir até a escola Celso Charuri: avenida Luiz Galvão Cezar, 273, Planalto Verde.
Fotos: divulgação
*Quer traduzir essa história em libras? Acesse o site VLibras, que faz esse serviço gratuitamente: https://vlibras.gov.br/
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