O futebol transformou o Cleber menino, que não gostava de ir à escola, em um jovem cheio de objetivos.
Primeiro, ele sonhou em ser jogador. Depois, sonhou com sua própria escolinha de futebol e não demorou a realizar.
Conta que chegou a ser dono de uma escola do Corinthians em Ribeirão Preto, e levou seus alunos para disputar torneio na Europa. No quarto do hotel em Barcelona, tomou a decisão de mudar sua vida. A felicidade era grande, mas sentia que era preciso ir além.
– Eu não encaro o Terceiro Céu como trabalho, mas como missão.
O projeto já acontecia há quatro anos. Mas os encontros com as crianças da favela do brejo, Campos Elíseos, eram só aos domingos.
Cleber Alexandre Menezes enchia o carro de chuteiras, coletes e café da manhã, parava no campinho do bairro e fazia a alegria da molecada com aulas de futebol gratuitas.
Ali, no quarto do hotel, realizando o sonho do torneio europeu, ele decidiu mudar.
– Eu senti que Deus tirou o meu amor pela escola e colocou no projeto. Eu não queria mais que os encontros fossem só aos domingos.
Voltou determinado e meses depois, em 2015, conta que vendeu a escola e passou a se dedicar inteiramente ao trabalho social.
– A gente precisa morrer para alguns sonhos, para que outros possam nascer.
Criou a ONG Instituto Ibesec, ampliou os projetos e sentiu o coração inflar.
– Minha vida foi transformada!
Hoje, o projeto Terceiro Céu oferece aulas de futebol, informática, música, reforço escolar, atendimento psicológico a 70 crianças. Além de distribuir alimentos às suas famílias e servir como ponto de apoio.
– Muitas famílias vêm procurar a gente quando tem problemas.
Cleber, 37 anos, já pensou em desistir. Mas garante que nunca se arrependeu da sua decisão.
– Já pensei em parar, principalmente quando as coisas apertam em casa. O que motiva a continuar é ver os resultados. Transformar a vida dessas crianças.
Ele zapeava pela televisão quando viu a reportagem sobre o alagamento que deixou famílias desalojadas na favela do brejo, em 2010.
Em poucas horas, já estava com o carro lotado de doações que conseguiu em ligações com o amigo. Chegou na comunidade, estacionou no campinho, e decidiu:
– Eu preciso fazer um trabalho com essas crianças, aqui nesse campo.
Pouco tempo antes, ele conta que havia renovado sua fé, após um período de turbulência financeira e desestrutura familiar.
– Deus mudou minha vida. E eu sentia que precisava fazer algo em agradecimento.
Passou 10 meses organizando o projeto que nasceu entre os barracos alagados.
Começou com as aulas aos domingos. Antes do futebol, as crianças tomavam café da manhã e conversavam.
– Nós falamos sobre valores. Queremos transformar a criança, não só ajudá-la com assistencialismo. Não adianta só dar bolas e coletes.
Quando decidiu vender sua escola, pensou nisso também. Era preciso ampliar a solidariedade.
Hoje, o Terceiro Céu é um dos projetos da ONG Ibesec, criada por Cleber.
O trabalho voluntário e as doações garantem tudo o que é desenvolvido no projeto.
Em junho do ano passado ele conseguiu uma sede para a instituição, em frente ao campinho onde tudo começou.
– A gente entende que o voluntariado é uma forma de amor. E é possível transformar vidas amando as pessoas. Nós não precisamos de dinheiro. Precisamos de pessoas.
A equipe soma 23 voluntários, que organizam bazares e ações para arrecadar fundos. Quando uma criança se destaca no futebol, Cleber a encaminha para escolinhas. Diz que atualmente tem quatro alunos matriculados por bolsas.
– Assim como a gente busca talentos, o tráfico também busca. Por isso, é importante abrir caminhos. A gente não está aqui para denunciar. A gente está aqui para amar.
Hoje, Cleber, a esposa e os dois filhos se mantem com um pequeno negócio que ele montou depois de vender a escolinha e com a venda de bolos.
A fé é predominante na narrativa de sua trajetória.
– Deus tem para nós um propósito e um destino de vida.
Os trabalhos desenvolvidos na ONG são pautados por essa fé. Ele garante, no entanto, que falar de Deus não tem a ver com religião.
– Infelizmente, a religião separa as pessoas. Mas o amor de Deus transforma, une. Independente de religião, nós buscamos passar princípios às crianças. Ensinar o caminho em que elas devem andar. Aqui, o tráfico é forte. Não podemos deixar que elas sigam por esse caminho.
Os planos para o futuro são muitos. Todos ligados a fazer o bem. Cleber quer que a ONG acolha moradores de rua. E sonha em ver crescer o projeto com as crianças.
– Eu quero esse lugar transformado, com pessoas felizes.
Encontra dentro de si todos os motivos para continuar acreditando.
– Hoje, o sentido da minha vida é isso: o Terceiro Céu. É uma questão de gratidão. Agradecer a Deus por tudo o que Ele me deu.
Segue fazendo o que acredita.
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