Com apoio e acolhimento, William pode planejar o futuro

21 outubro 2020 | Gente que alimenta

 

Texto e fotos: Daniela Penha

Ilustração: Cordeiro de Sá 

 

William tem 13 anos e uma porção de planos para o futuro. Quer fazer faculdade de Educação Física para se tornar professor. Já pediu orientações para um amigo, que tem essa mesma profissão.

– Ele já me falou o que eu tenho que fazer para conseguir! Vou estudar bastante!

Gente para ajudar não vai faltar. Além dos pais, o adolescente tem uma segunda casa, que fica a cinco minutos de caminhada daquela onde vive com a família, no Jardim Progresso, zona Oeste de Ribeirão Preto.

– Eu não sou muito de conversas, mas lá no Núcleo consigo me abrir. Eles escutam a gente, entendem o que estamos sentindo.

A mãe, Maria, conta que chegou ao Núcleo Dom Bosco, unidade do projeto Fraterno Auxílio Cristão, aos prantos. Precisava trabalhar e de um lugar seguro para deixar o filho, que na época tinha por volta dos oito anos de idade.

Até os seis, ele ficava na creche. Depois, já grandinho, entrou na escola, por meio período. O restante do dia era de preocupação para a mãe, que é faxineira.

– Ele ficava sozinho em casa e eu não conseguia finalizar o trabalho direito, pensava no que poderia acontecer.

Por isso, quando uma vizinha falou do Núcleo, Maria foi logo buscar ajuda. E conseguiu. Desde então, William passa o período de contraturno da escola em atividades. Mais do que as oficinas de arte, música, teatro, as sessões de leitura e de cinema e o apoio psicológico, ali, amparado, ele ganhou asas para planejar o futuro, certo de que chega lá.

– Eu não pude estudar e sinto muita falta. O meu sonho é ver meus filhos fazendo faculdade para não perderem nenhuma oportunidade.

William escuta cabisbaixo a história que a mãe conta e explica o porquê:

-Eu sinto um aperto no coração. É uma história muito triste…

Fraterno Auxílio Cristão Ribeirão Preto

Maria Aparecida Nunes Cordeiro, 33 anos, nasceu e cresceu no Norte de Minas, região do Vale do Jequitinhonha.

– Com 20 anos minha mãe já tinha cinco filhos. Era muito difícil.

Os seis irmãos tinham que ajudar com o trabalho na roça. Ela começou aos oito anos. Por causa disso, faltava muito às aulas e não acompanhava a turma. Foi preciso parar a escola pelo trabalho.

Começou como diarista aos 18 anos. Logo depois se casou e veio com o marido para Ribeirão Preto, grávida de William. Ele já tinha família aqui e, como pedreiro, havia mais ofertas de trabalho. Em uma cidade nova, os dois tiveram que se desdobrar.

– Eu sofri muito. Hoje, eu tenho esperança de que eles tenham uma vida melhor do que a nossa.

Desde que William começou as atividades no Núcleo, a rotina da casa mudou.

– Todos nós mudamos. Ele, como filho, e nós, como pais.

 

Fraterno Auxílio Cristão Ribeirão Preto

 

– Como você ressignifica a história dessa família? Como faz esse jovem acreditar que pode ser protagonista da sua história, que pode sonhar? Tem muito amor envolvido, mas muitos direitos também. Eles precisam ter conhecimento para que possam caminhar.

Quem fala é Ana Abe, coordenadora geral de projetos do Fraterno Auxílio Cristão há sete anos. O trabalho se divide em duas frentes. No Núcleo Dom Bosco são 80 crianças e adolescentes em contraturno escolar. No Dom Hélder Câmara já passaram mais de quatro mil jovens a partir de 15 anos para capacitação profissional.

No Dom Bosco, os pequenos e grandinhos têm aulas de teatro, dança, artesanato, inclusão digital, além de orientações sobre espiritualidade, protagonismo e criatividade. Almoçam e tomam cafés na instituição.

O Fraterno Auxílio Cristão é parceiro do Mesa Brasil Sesc Ribeirão desde 2013. Nesse período, a instituição já recebeu 14 toneladas de alimentos. Só na pandemia, receberam 3,6 toneladas, que chegaram à mesa de muitas famílias.

Com o isolamento social, as atividades presenciais foram suspensas, mas eles oferecem atividades, acolhimento on-line, por telefone e levam cestas de alimentos para as mais de 60 famílias atendidas. Na casa do William, a ajuda é muito bem-vinda. As faxinas que a mãe fazia foram interrompidas e o orçamento familiar caiu pela metade.

Com solidariedade, a mesa continua cheia.

Ana fala do trabalho que desenvolve com carinho. Tem muito a contar.

– A gente vê a família evoluir junto com os filhos. O mais importante é que nós possamos ser agentes transformadores na vida deles. Mostrar que vale a pena ter sonhos, para que eles possam acreditar que são capazes, porque são.

William já entendeu bem.

– Quando estou estudando penso que minha mãe não teve essa oportunidade que eu estou tendo. Quero dar o melhor de mim.

Ali no bairro, Jardim Progresso, a mãe vê muitos adolescentes se perderem pelo caminho por falta de apoio, opção, acolhimento.

– É tão cruel pensar que eles estão à margem, que o futuro é o tráfico, a gravidez na adolescência. A nossa motivação é que eles tenham um futuro diferente.

Nas palavras da coordenadora Ana.

William continua fazendo seus planos. Vez em quando, fica em dúvida. Gosta também de jogar videogame. Quem sabe pode ser um jogador premiado?

Seja lá qual caminho escolher, terá apoio para trilhar, passo a passo.

Há dois anos, a família cresceu, com a chegada de sua irmãzinha Emanuelley. A mãe Maria, então, sonha dobrado.

 

 

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