A vida dizia para Felipe que a faculdade de Psicologia não seria possível. Dizia quando as contas apertavam demais, quando o emprego que lhe dava a bolsa foi tirado e parecia que a formatura nunca iria chegar.
Felipe, porém, respondia em alto tom. Fez rifa, emprestou cheques de uma amiga, trabalhou. E, no dia da formatura, convenceu a vida de que seria psicólogo.
A psicologia veio como forma de se entender melhor. E, assim, ajudar o outro a se entender também. Até então, Felipe não sabia o que mais o caminho traria.
Ele conta que não tem lembranças afetivas do Natal e não se lembra de ganhar presentes. A família era simples, mas a carência está mais ligada a momentos do que a coisas materiais.
O Papai Noel que nasce em Felipe todo dezembro foi construído, então, pela falta. Mas, na falta, ele encontrou um jeito de preencher vazios.
Os seus e o dos outros.
Todo dezembro, o psicólogo se veste de Papai Noel e leva magia pelos corredores do Hospital São Francisco e Sinhá Junqueira, onde atua.
Em média, consegue contagiar 500 pessoas em um dia de barbas brancas. A maioria delas são adultas.
Não leva presentes, porque os pacientes têm perfis – e necessidades – muito distintas. Mas distribui abraços ilimitados. E vai sempre acompanhado de músicos.
– Como Papai Noel ou atuando como psicólogo eu me emociono e agradeço.
Fazendo o bem, Felipe agradece por tudo o que conquistou. E faz as pazes com a vida.
Felipe Areco diz que a ideia de ser Papai Noel surgiu logo quando começou a atuar como Psicólogo, em 2011.
O projeto tomou mais corpo quando uniu forças com Natália Gallo, que é coordenadora do serviço de psicologia onde atua.
– A ideia surgiu na família. E me fez sentir vontade de levar para o hospital também.
Há seis anos, então, Felipe se transforma em Noel. Diz que a transformação não é só no dia da festa, porém.
Prova a roupa – alugada – semanas antes e, então, já começa a preparar o espírito.
Neste ano, o encontro será dia 22. E Felipe já sente a ansiedade na barriga.
– A emoção toma conta.
Natália não fica de fora. A profundidade da ação explica tanta emoção.
– Para o paciente é uma mistura. A dor de estar aqui e não poder estar em casa e, ao mesmo tempo, a alegria de ser acolhido. Desmonta aquela ideia de hospital como um ambiente estéril e traz vida!
Os dois relembram da senhora que fez questão de tocar o Papai Noel para ver se era de verdade mesmo, das inúmeras selfies que os pacientes enviam para a família, da euforia da chegada.
– O Natal nos coloca em contato com sentimentos, emoções. É um momento propício para mudanças, transformações.
É Natália quem diz.
Felipe começa pela manhã no São Francisco, faz uma pausa para o almoço e passa a tarde no Sinhá Junqueira.
No final do dia, o cansaço toma conta. Mas o sorrisão não sai do rosto.
– É ajudar sem esperar nada em troca. No final, dá uma sensação de dever cumprido. Mas é um dever que vem natural. Não como obrigação.
E já se prepara para repetir a dose no ano que vem.
E no próximo. E até quando puder.
Assine História do Dia ou faça uma doação de qualquer valor!
Nossa! Também me emocionei. E, conhecendo a pessoa FELIPE que conheço, consigo sentir a emoção desse simples e complexo gesto. É genuíno!!!! Tão genuíno que realmente não espera nada em troca. Seja mais uma ação de tantas outras!!!! Um beijo a essa equipe que tanto amo!