Edinho leva toneladas de alimentos que seriam descartados para quem precisa

12 agosto 2020 | Gente que alimenta

 

Texto e fotos: Daniela Penha

Ilustração: Cordeiro de Sá 

 

– Tem tomate hoje?

Edinho conhece cada corredor do Ceagesp de Ribeirão Preto de “ponta a ponta”, como diz. Todos os dias, repete a rotina. Passa de banca em banca com seu carrinho coletando legumes, verduras e frutas que não foram vendidos.

– Isso tudo poderia ir para o lixo! Não pode, não!

A banca de tomate, ele diz, é a que mais oferece doações. Enquanto recolhe os frutos vermelhinhos, os amigos do lado vão avisando: “Ô, tem jiló também”, diz um. “E pimentão”, avisa o outro. Um funcionário vem com uma caixa cheinha de acelgas e, em poucos minutos, o carrinho de Edinho está lotado de mantimentos.

São 15 caixas a cada viagem. Todos os dias chega a encher e esvaziar o carrinho quatro vezes. Se está lotado de tomate pesa em torno de 300 quilos. Cada produto tem um peso diferente, mas, de toda forma, ele não passa uma manhã sem carregar centenas de quilos de alimentos. Se é dia de grande movimento, são mais de quatro toneladas arrecadadas. E não reclama. Quanto mais pesado o carrinho, mais mesas estarão cheias.

– Eu fico mais feliz trabalhando assim, com bastante. Não gosto quando dá pouquinho. Assim, mais pessoas são ajudadas.

Geralmente, trabalham em dois. Se tem muita doação, pedem reforços para um terceiro. Depois da coleta, levam as caixas para uma van. Passam a manhã nesse caminho: de box em box, buscando aquilo que poderia ser descartado. Quando o movimento vai diminuindo, levam tudo o que foi arrecadado para o espaço do Banco de Alimentos do Ceagesp.

Edinho, então, faz a triagem entre o que está bom e o que, de fato, não pode ser aproveitado. Essa parte é minoria, ele diz. A maior parte dos alimentos que poderiam virar lixo não fosse a ação do Banco vai para a mesa de instituições sociais de toda a região. São 41 entidades fixas, cerca de 10 eventuais, além do Banco de Alimentos da Prefeitura de Ribeirão Preto e o programa Mesa Brasil Sesc Ribeirão.

Edinho é quem organiza tudo. Liga para as instituições retirarem as doações, buscando dividir ao máximo. Em média, são doadas de 20 a 25 toneladas de alimentos ao mês.

Com o Mesa Brasil Sesc Ribeirão a parceria já soma seis anos, com a doação de 155 toneladas de vegetais. Só neste ano, foram 16 toneladas doadas pelo Banco de Alimentos do Ceagesp e levadas para instituições sociais de Ribeirão e região pelo programa do Sesc Ribeirão Preto. União de forças para evitar o desperdício e ajudar quem precisa!

– Eu gosto do meu trabalho porque a gente ajuda as pessoas que estão passando necessidade.

Quem trabalha por ali tem certeza: a simpatia de Edinho – e sua insistência também – é que garantem tão alta arrecadação.

– Tem tomate hoje?

Ele não se cansa de perguntar.

Ceagesp Ribeirão Preto

O nome é Ederson Luiz Tofetti, 40 anos, mas todo mundo o conhece por Edinho.

Ele estima que trabalha no Ceagesp há 14 anos. É contratado pela terceirizada que cuida da manutenção. Nesse tempo todo, as empresas já mudaram, mas ele continua no cargo, a pedido da administração.

– O pessoal gosta de mim. Todo mundo me conhece!

Diz, todo orgulhoso.

Nem sempre foi do Banco de Alimentos. Passou os primeiros anos atuando “na vassoura”, em suas palavras. Trabalhava na limpeza e, garante, era um dos mais empenhados.

– Eu trabalhava bem!

Comemorou a mudança de função. O Banco tem todo seu carinho. O motivo?

–  Eu mesmo quase passei necessidade. Meu trabalho é muito importante. Ajudar as pessoas. A gente não tinha nada. Não tinha nem jeito de comprar.

Nasceu em Jurucê, pequeno distrito de Jardinópolis. O pai sempre trabalhou na lavoura e as contas da casa eram mantidas com esforço. São dois filhos. Edinho conta que começou a ajudar ainda criança.

– Eu gostava. Era bom para a gente!

As coisas melhoraram um pouco quando a família se mudou para Jardinópolis, onde conseguiu comprar uma casinha.

Ele começou a trabalhar “na roça” ainda adolescente. Deixou a escola na quinta série e explica os motivos, com a sinceridade que lhe é tão parte:

– Eu era ruim de cabeça. Não gravava na memória. Estudava e daqui a pouco esquecia tudo. Então, fui trabalhar.

Quando entrou no Ceagesp conta que ficou “perdidinho” entre as centenas de bancas e corredores do espaço enorme. São 440 empresas e 880 boxes divididos em 13.231 metros de área construída. Hoje, sabe onde fica cada tomate.

– Aqui sempre foi minha casa!

Ceagesp Ribeirão Preto

Por cerca de nove anos trabalhava de bicicleta. Saía de Jardinópolis por estrada de terra, cortando caminhos. Pedalava cerca de 12 quilômetros por dia. Hoje, já consegue ir de ônibus. Sai por volta das 6h e às 9h está no trabalho.

Nunca dirigiu veículo motorizado e avisa:

– Só dirijo meu carrinho de legumes!

É preciso muita destreza para atravessar as curvas e rampas sem deixar uma abobrinha cair no chão!

– Tem que tomar muito cuidado para não tombar, ó. Vira assim, devagar.

Vai exibindo suas manobras.

Ceagesp Ribeirão Preto

Edinho mora com os pais, lá em Jardinópolis. Com seu humor peculiar, diz que não se casou, mas “está tentando”:

– Tá difícil, viu?

Entre os passatempos nos finais de semana em folga está a cozinha.

– Eu faço pastel, pudim. Domingo passado teve churrasco!

Não gosta de tirar férias, pensando nos alimentos que podem ser desperdiçados.

– Eu fico triste. Sobra muito…

Diz que gosta mesmo é de estar no trabalho.

– Tem dias que vem alface campeã, couve. São aqueles que estão bonitos, sabe? Bem novinho!

Assim como conhece de “ponta a ponta” tudo ali, é difícil quem não o conheça de volta. Sua simpatia é rotina no Ceagesp. O que, talvez, nem todos soubessem é o tamanho do seu trabalho. Edinho leva toneladas de alimentos que seriam descartados para a mesa de quem precisa! Quanto mais pesado o carrinho, mais mesas estarão cheias: é a conta que faz todos os dias, enquanto empurra centenas de quilos.

“O pessoal só doa desse tanto por causa do Edinho”, repete um dos funcionários da administração. E o carrinho segue subindo e descendo, sem perder um tomate nas rampas.

– Aqui todo dia tem tomate! É o maior colhedor que tem!

Se as caixas estão cheias, Edinho tem um bom dia.

 

 

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