Fred Sunwalk leva seu ‘blues ribeirão-pretano’ para o mundo todo

22 março 2021 | Destaque, Memória de Artista

Esta história integra o projeto “Memória de Artista”, produzido com apoio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura de Ribeirão Preto.

Estão preparados? Que comece o show!

A primeira guitarra de Fred tinha cabo de madeira e cerdas nas pontas. Na maior parte do tempo, servia para varrer o chão, mas quando estava nas mãos do menino era promovida à instrumento musical pela criatividade sem medidas da infância.

Em sua casa não havia músicos profissionais, mas também não faltavam amantes dos bons acordes. Os avós gostavam de festas, sempre animadas com música ao vivo. Chorinho, tango embalavam as danças e os cantos da família.

Era até de se esperar, então, que a vassoura virasse guitarra nas mãos do Fred, crescendo assim rodeado. Foi por volta dos 17 anos, entretanto, que os acordes de músico vibraram de vez.

Seu pai era um bom ouvinte de rock em discos memoráveis na vitrola. Fred fez um furto do bem e foi fisgado pelo som de Eric Clapton, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Deep Purple, Joe Cocker. Passava o dia ouvindo as canções.

Foi nessa época, então, que começou a tocar. O primeiro instrumento real foi um violão acústico, presente da namorada na época. A tão sonhada guitarra elétrica veio depois.  

– Eu tirava de ouvido. Sempre fui autodidata. Usava livros, revistinhas que tinha na época.

A transição para o blues veio logo.

– Todos esses nomes do rock que eu escutava tinham influência do blues. Quando tocava o blues, havia uma energia muito forte. Mergulhei nesse universo com B.B. King, Buddy Guy, Albert Collins.

Pouco depois fez sua primeira apresentação em um bar. Caminho sem volta para os palcos. São sete álbuns autorais, um DVD, shows pelo país e fora também.

Fred Sunwalk, como é conhecido, tornou o blues, gênero norte-americano, mais querido no interior de São Paulo e, em dupla via, levou seu som ribeirão-pretano pelo mundo.

– A música é a arte que mais me emociona. É fundamental para manter a minha saúde espiritual, mental e física. Faz parte do meu ser. De fato, eu nasci para ser músico.

Foto: Guillote Fotografia

Quando a guitarra era vassoura, usava o nome de registro. Frederico Bichuete Rodarte. O Fred Sunwalk surgiu quando percebeu que suas influências tinham nomes artísticos cheios de pompa. Criou o seu também.

A primeira apresentação foi por volta de 1993, aos 17 anos. Em 1994, a família se mudou para Trancoso, Bahia, e, então, os shows tinham a praia como cenário. O irmão mais velho se tornou baixista.  

 Fred conta que, antes de mergulhar na música como profissão, atuou em outras várias frentes. Aos 12 anos foi office boy e depois, ainda adolescente, trabalhou em uma loja de departamentos.

Em 1996, voltaram para Ribeirão Preto, onde lançou o primeiro álbum, em 1998, com produção autoral.

– Eu não queria cover. Queria tocar as músicas que me influenciaram, mas do meu jeito. Então, fui por esse caminho.

Na criação, mistura o espontâneo com os momentos de concentração.

– A parte musical vem do nada. A parte de escrita eu tenho que me isolar, me fechar no quarto para escrever.

Em 2000, abriu o show de uma dessas influências, Buddy Guy, na Vila Funchal, São Paulo. E aí, passou a participar dos maiores festivais de Blues do Brasil.

– Viajei o Brasil todo!

Em 2017, consolidou a carreira internacional, com apresentações nos EUA e Europa.

Fred Sunwalk Blues
Foto: Danilo Marques

Entre os desafios que viver de arte já traz, Fred precisou ainda misturar fronteiras. O blues que escuta não era tão conhecido em Ribeirão Preto.

– O mais desafiador foi cantar em inglês, um estilo de música que as pessoas não tinham muito acesso, não ouviam no rádio ou na TV. Hoje, há mais acesso pela internet.

Ele relembra que em 1989 a cidade sediou um grande festival de blues e trouxe nomes renomados mundialmente. Com 13 anos, porém, não esteve lá. Ainda improvisava a guitarra de vassoura e andava de skate. Mas cresceu ouvindo as histórias.

Talvez também por isso embarcou no desafio.

– Eu não pensava muito nisso: será que vai dar certo? A paixão era tão grande que se refletiu no público. A galera sentia essa vibração e isso foi cativando.

Compôs “Blues Everyday” e viu a canção se tornar hit.

– Eu queria uma música que o pessoal cantasse junto e deu certo!

Sente, então, que foi compartilhando com o público o encantamento por esse gênero, que era tão seu.

– Existia uma confusão. As pessoas não sabiam o que era blues. Lembro de me perguntarem, depois do show: ‘Isso é blues?’. Elas achavam que era algo melancólico. Para mim nunca é triste. Traz sentimentos fortes, só isso.

Fred Sunwalk Blues
Foto: Danilo Marques

Além da carreira de músico, Fred e a esposa também têm uma produtora de eventos. Os dois dividem a trajetória há 23 anos. Se casaram em 1998, ano também marcado pelo lançamento do primeiro álbum. São quatro filhos que hoje têm entre 8 e 21 anos. 

Em dias de pandemia e isolamento social, a família precisou se reinventar.

– Nossos dois pilares quebraram…

Passou a dar aulas de guitarra, uniram forças, foram encontrando caminhos, mas sem mudar a rota por completo.

– Não tem outro jeito. Coloco 100% da minha energia nesse sonho maior que é levar minha música para o mundo inteiro. Apesar de todos os problemas, sinto que o caminho é esse.

Ribeirão-pretano, que cresceu e se consolidou aqui, agora, aos 44 anos, pensa em alçar voo. Fazer blues na terra do blues, quem sabe?

– Me sinto realizado, mas a história ainda não fechou. Estou realizando um sonho realmente.

Assim como a música, o carinho pela sua terra também não passa – ainda bem. Então, já avisa:

– Eu vou, mas volto!

O show sempre tem que continuar…

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5 Comentários

  1. Mauro

    Estive no Show de Fred no lançamento do seu CD, no Teatro PedroII , onde ele tocou, (TOCOU) sua guitarra,andando,pelo teatro todo.
    Otimamente! Abraço a ele.

    • Meire Eleni

      Que venha logo a oportunidafe de ouvi-lo cantar.

  2. Rachel

    Depois de ver seu show, temos a certeza que quando a verdade norteia o que fazemos, tudo fica perfeito !
    Incrível promover cultura num.país tâo precário ppara ouvir coisas boas. Deus o proteja !

  3. Roselaine Prandi de Araujo

    Admiração!!!
    Tudo passa… o bem, a energia, sempre falará mais alto, mesmo de boca fechada!!!
    Sempre vibrei por vocês!!!

  4. Fábio

    Nossa, muito legal a história do Fred. Como gosto de Blues, conheci o seu trabalha quando tocava no BluesBeatles, foi tocando a introdução da música Oh! Darlinng (usando um pouco da Tenesse Whiskey) que Fred me chamou a atenção como guitarrista, pensei, ”esse cara conhece”, fiquei impressionado. Depois disso tentei achar algum trabalho solo dele, mas não achei nada, vindo só agora a encontrar algumas apresentações dele no You Tube, em shows em Ribeirão e os últimos nos Estados Unidos, só pra completar, muito boas apresentações, é daqueles que se emocionam com a música. Desejo toda a sorte do mundo para ele e que o sonho dele inspire outros guitarristas e músicos a acreditar que a BOA música vai ter sempre BONS ouvintes.

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