Em memória: a história da Duda foi contada no dia 5 de março de 2018. Ela voltou para o céu no dia 29 de março de 2020. Deixou legado do bem e do amor.
Esta história foi narrada pela jornalista Sandra Lambert. Para ouvi-la, é só clicar do play:
A primeira vez de Duda no parquinho não teve lá muita alegria. O irmão mais novo brincou e ela ficou só de olho.
Não havia brinquedos que acolhessem Maria Eduarda do jeitinho que ela é.
A mãe se incomodou. Coração de mãe – não é segredo – tem amor igual por cada pequeno.
– A vida das crianças com deficiência é terapia, internação. E o lazer? É brincando que a criança se desenvolve, mas as crianças com deficiência são privadas do lazer! Eu não podia deixar a infância da Duda passar.
Selma Nalini resolveu que era preciso mudar. E arregaçou as mangas.
Foi preciso, aliás, muito arregaçar e um caminho feito de desafios e burocracia.
O projeto Duda Nalini – que não tinha outro nome para existir – foi protocolado em 2016.
Em junho de 2017, Selma, e seus parceiros da iniciativa privada, inauguraram o primeiro parque público acessível de Ribeirão Preto: Uber Sul, localizado na zona Sul.
Em outubro, Dia das Crianças, foi inaugurado o segundo parque, na Lagoinha, zona Leste da cidade.
Nos dois espaços os brinquedos são feitos para crianças com e sem deficiência brincarem juntas, a qualquer dia e hora. Há balanços com colete de segurança, gira-gira com espaço para cadeira de rodas, gangorra com trava e assento diferenciados, painel acessível.
– A ideia é transformar os espaços públicos em acessíveis, e fazer uma cidade inclusiva. Quando uma criança com deficiência brinca junto com uma criança que não tem deficiência, a gente iguala o ser humano.
Além dos dois parques em funcionamento, há projeto para a inauguração de mais três ainda neste ano. E a ideia se espalha e contagia outras iniciativas a nascer.
Agora, Duda pode dividir o brinquedo com o irmão mais velho. Esvoaçar os cabelos pretos no gira-gira e no balanço.
Solidária que é, não quis essa alegria só para si. Os parques que levam seu nome estão sempre cheios de crianças e pais vivendo a alegria – tão única – do brincar.
– Quando você tem um filho, você sonha em ensiná-lo a andar de bicicleta, passear no parque. Aqui, acontece a inclusão. Todo mundo tem seu direito respeitado.
Duda é a primeira filha de Selma Nalini e do marido. Foi esperada e cuidada desde o primeiro ultrassom.
– Eu já soube logo no primeiro ultrassom que ela teria má formação.
A gravidade, os pais só souberam depois do nascimento.
Não havia, no discurso médico, expectativa de vida para Maria Eduarda. Ela nasceu com uma má formação congênita chamada agenesia cerebelar.
O cerebelo é a parte do cérebro responsável por movimentos motores, pela aprendizagem motora, a fala. Duda, caso raríssimo, não tem o cerebelo.
– Para os médicos, ela não tinha sobrevida.
Em outubro do ano passado, mês em que o segundo parque do projeto Duda Nalini foi inaugurado, a pequena completou 10 anos de vida, desafiando a ciência.
Duda não anda, não fala, usa sonda. Acompanha, porém, a mãe com os olhinhos e fica brava quando a foto demora a terminar. Respira sem aparelhos e sorri quando a mãe pede.
– Ela está muito além das expectativas. É um exemplo de vida para nós.
Quando a filha nasceu, Selma, que tinha 23 anos, deixou a faculdade e o estágio de Direito e passou a viver seus dias pela Duda.
Foi assim que, durante as internações constantes da filha, ela conheceu outros pais de crianças com deficiência e suas histórias. E passou a estudar, pesquisar e lutar pelos direitos dessas pessoas.
– Eu via as dificuldades das famílias… Umas não tinham alimentação, outras não tinham transporte ou fralda. Algumas, tinham tudo isso sobrando.
Começou, então, a ajudar essas famílias buscando o que sobrava em uma casa e levando para a outra. Buscando auxiliar, orientar, encaminhar para serviços de assistência.
A falta de lazer, entretanto, continuava a incomodar.
– Fora essa ajuda, eu me preocupava com o lazer. Muitas mães não saíam de casa para evitar os olhares preconceituosos ou porque não tinham aonde ir.
Começou, então, a organizar festas. Alugava salões, montava estrutura de enfermaria, contratava serviços e comemorava, com essas famílias, a festa junina, o Dia das Crianças e outras tantas datas. Chegou a juntar mais de 100 pessoas!
Mesmo assim, porém, não se sentia feliz. Percebia que muitas mães não podiam ir à festa por problemas com transporte ou porque naquele dia a criança não estava bem.
Quando o filho mais novo veio, a certeza de que era preciso mudar ficou mais forte. Coração de mãe despedaça quando a alegria não é a mesma para todos seus pequenos.
– A vontade de garantir a participação das crianças em lazer e cultura ficou muito forte. O João brincava, mas a Duda não.
A implantação do projeto Duda Nalini levou três anos. Selma tinha a ideia, mas precisava de formas para fazê-la virar realidade. Além disso, era preciso ultrapassar as burocracias.
Buscou parcerias com a iniciativa privada e conseguiu as autorizações necessárias da prefeitura, para a reforma do espaço público que, pela lei, já deveria ser acessível.
– O projeto auxilia a prefeitura a cumprir a lei vigente, que diz que 5% de todo equipamento público deve ser acessível.
Selma buscou inspiração na internet, mas não havia projetos similares para se espelhar. Ela acredita que Ribeirão Preto seja, com o projeto Duda Nalini, cidade pioneira em parques públicos totalmente acessíveis.
– Há brinquedos acessíveis dentro de instituições, mas não há um parque inteiro.
A praça Ali Youssef Abou Hamim, na Lagoinha, foi totalmente reformada para abrigar o parque acessível. O parque Uber Sul foi construído já pensando na acessibilidade.
– Valoriza o local, o bairro, a cidade toda. A cidade é para todos. E são espaços abertos, que as famílias podem ir conforme a disponibilidade delas. Se naquele dia a criança não está bem, tudo bem. O parque está sempre lá.
Com a parceria privada, além da construção e manutenção dos parques, o projeto organiza domingos com atividades interativas gratuitas para a criançada.
No ano passado, Selma criou também o Dia de Circo. Em parceria com o Circo dos Sonhos, que passou pela cidade, o projeto Duda Nalini distribuiu ingressos do circo para 263 famílias de crianças e adultos com todo tipo de deficiência.
Uma jovem cega, inclusive, quis ir à sessão. E teve sua vontade, mais que respeitada, comemorada.
– O circo também foi todo acessível. Essas pessoas lutam todos os dias. Precisam de lazer.
O projeto Duda Nalini, Selma explica, não é ONG. É vontade de transformar, e só. E muito!
Tudo é feito através de parcerias. E da vontade – imensa – de Selma.
Ela passa, todos os dias, pelos parques. Checa se a área está limpa, se os brinquedos estão em ordem e pede:
– A população precisa cuidar! É de todos!
Ali, está um pedaço seu. Um pedaço, principalmente, da sua Duda.
– É a realização de um sonho. A Duda, que poderia nem viver, completou 10 anos e está melhorando a acessibilidade da cidade. Ela virou patrimônio da cidade, porque tudo isso que foi construído é público.
O coração da mãe, agora, bate tranquilo.
– Eu tento fazer com que a Duda viva, tenha experiências novas. Se ela for embora hoje, posso dormir tranquila. Fizemos o bem em nome dela e beneficiando toda a cidade.
A primeira vez de Duda no parquinho não teve lá muita alegria.
Mas, agora, isso é coisa do passado bem, bem distante.
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Muito legal ver a história de minha neta, orquestrada pela Selma, tão bem contada por você, Parabéns.
Parabéns pela linda e emocionante história. Uma lição de amor não apenas à família como tb ao próximo. Integrar e alegrar. Que sirva de incentivo.
Sou muito fã dessas meninas! Projeto maravilhoso!
Que história linda! Parabéns Selma pela tua iniciativa. Votos para que as crianças com alguma deficiencia de Ribeirão Preto possam usufruir de espaços tão úteis ao seu saudável crescimento. Parabéns e Bjos ás dudas. Ramon
Parabéns Selma orgulho que me representa como.mae.
Parabéns Selma,
Sua atitude me emociona…
Você foi MÃE tão mocinha, mas soube desempenhar com AMOR e GARRA a tarefa que Deus lhe incumbiu.
Muitas bençãos pra vocês
Uma mulher batalhadora e uma menina guerreira que venceu todos os obstáculos e está aqui para ensinar o verdadeiro amor. E principalmente os mostrar que é possível sonhar e realizar esse sonho. Parabéns Selma pela iniciativa que favorece tanto nossos filhos especiais e parabéns a princesa Duda por ser inspiração para nós.
Parabéns Selma Nalini
Sua atitude me emociona…
você foi mãe tão mocinha, mas soube desempenhar com AMOR e GARRA a função que Deus lhe incumbiu.
Deus abençoe vocês ? ? ?
Me emocionei muito.O que Selma criou não tem preço.Deus a abençoe sempre.
Que declaração maravilhosa selma , vc é tudo de bom , vc é um ser maravilhoso e sem igual , não conheço
Ninguém com o coração igual ao seu , na idade que estou não conheci ninguém igual ou melhor que vc ,vc é um ser maravilhoso e muito bom vc ser madrinha de batismo do meu neto , parabens vc é um ser especial , te conheço desde novinha e não imaginava que vc era tudo isto ????????????????????
Não dá para diferenciar se e a mãe, Selma, ou a filha, a maior batalhadora pela vida, pelo amor.
Um maravilhoso exemplo. Parabéns
Parabéns, chega a me inspirar, quais foram as empresas que fornecem esses brinquedos para cotação? Sinto muito a falta desses brinquedos, também tenho um filho especial, mas como você, estou vendo que contar com o poder público é pouco.
Que bonito!
Minha filha tem síndrone de Edwards e me identifiquei bastante com tido oque li.
Também prtendo um dia fazer algo pelas crianças com deficiéncia.
Emocionada!
Formidável , como não se emocionar com as histórias “contadas “ por Daniela Penha! Selma Nalini, você não é so uma mulher/menina forte, você é determinada e porreta! Já sentia uma admiração por você… agora ainda mais. Um grande abraço!
Muito obrigada, Sílvia!
Parabéns Selma Nalini pela sua ideia, vontade, iniciativa e principalmente por sua empatia. Minha filha tem autismo e até que conseguimos ir a alguns lugares, mas conheço mães aqui da minha pequena cidade que não tem oportunidade nem para si e nem para os filhos. E fazer um filho sorrir é tudo o que uma mãe quer! Inspiradora! Grata!
Parabéns,Selma! – Por mais “Selmas” no mundo! <3
Caros Duda, Selma, Papai e João!!
Emocionante este relato de vivências, amor, solidariedade, trabalho e esperança.
Gratidão pelo exemplo!
Deus os abençoe muito!!
Adoro o projeto e minha leitura diaria entre causos tao distintos e especiais. Parabéns.
Fico muito feliz em saber, Meire! Muito obrigada!