A aposentadoria está programada para sair no mês que vem. Andrade, porém, não quer ir embora sem os cachorros que chama de seus.
– Eles são meus companheiros. Vão comigo, ficar na vida boa. O descanso merecido.
O policial militar Ataíde Andrade dos Santos, do canil de Ribeirão Preto, tem como seus companheiros três cães, adestrados por ele desde filhotes.
O descanso tem que ser em equipe, depois de seis anos de trabalho. Muito trabalho, em tanto tempo de parceria!
Apache, da raça bloodhound, é o cão farejador. Ficou conhecido em toda Ribeirão Preto por traçar os caminhos do menino Joaquim, levando a polícia até o córrego onde ele possivelmente foi jogado pelo padrasto em 2013, no crime de repercussão – e tristeza – nacional.
Aragon, pastor belga, já desarmou um tantão de explosivos, evitando tragédias. E encontrou armas até mesmo em fundos falsos de guarda roupas.
Argos, labrador e mais sapeca do trio, é o cachorro que faz policiamento de locais públicos, campos de futebol e encanta a criançada em demonstrações.
Os três ajudaram a deixar a cidade mais segura nos últimos anos. E foram promovidos de “cachorros da polícia” a “melhores amigos do policial”.
– A lealdade deles é impressionante. O homem tem que aprender com os cães a ser fiel com seus parceiros.
Ataíde Andrade dos Santos cresceu na fazenda, região de Lins, e não pensava em ser policial.
Se encantou pelo Exército nas exposições de gado que sempre tinham uma tenda das Forças Armadas.
Aos 18 anos, se alistou. Aos 21, prestes a terminar seus serviços, decidiu ser policial, durante uma operação em que a PM atuou junto ao exército, na região da grande São Paulo.
Passou no concurso entre 93 e 94 e atuou em Jaboticabal até o final de 2001. O plano era conseguir transferência para Lins, cidade natal. Mas, no meio de caminho, conheceu o trabalho do canil da Polícia Militar. E, então, mudou a rota.
Em 2002, veio para Ribeirão Preto trabalhar como policial do canil.
– Sempre tive cão. Mas, em casa, o cachorro é companhia. Aqui, é funcional. Você ensina o cachorro a trabalhar. É o cachorro quem executa tudo.
Seu primeiro cachorro foi Iron, que chegou ao canil com dois meses e trabalhou por oito anos. Quando se aposentou, em 2008, foi morar na casa de Andrade.
– É um companheiro da vida toda!
Mesmo destino que ele quer para Apache e Aragon.
Já está preparado para se despedir de Argos, seguindo a regra. O labrador foi doado para a PM por um cidadão, que, então, tem direito a levá-lo de volta quando chega a aposentadoria.
– Por lei, o doador é a primeira opção…
Está preparado, mas não deixa de ficar triste.
Põe o peitoral: Aragon fica em postura de trabalho, sem brincadeiras.
Tira o peitoral: o cachorro se inquieta todo, querendo brincar com a bolinha.
Andrade explica que a roupa de trabalho somada aos comandos que o policial dá são os botões que fazem o cachorro entender o que deve ser feito.
– Ele sabe que, quando coloca o peitoral, acabou a brincadeira.
Todos os dias, pela manhã, os cachorros passam por treinamento com o adestrador Andrade. À tarde, é hora de irem à campo. E, terminado o trabalho, vem a recompensa.
– Ter que ser carinhoso e cobrar a responsabilidade deles. A compensação é o carinho, a brincadeira.
Cada um dos cães chegou em uma data. Todos vieram filhotes.
– Com um ano, eles já estavam prontos para a polícia. Porque foram treinados desde pequenininhos.
Andrade conta, orgulhoso, que ganhou dois prêmios de adestramento, em 1º e 3º lugar, com seus companheiros. Diz também que, depois de localizar o paradeiro de Joaquim, Apache foi destaque em uma revista americana.
– Ele ficou conhecido mundialmente! Desvendou o crime, mesmo depois de 30 horas da ocorrência.
Normalmente, a idade de aposentadoria dos cães é de sete ou oito anos.
Aragon completa sete em dezembro e Apache em março.
– Mas eu tô brigando para levar eles comigo. Antecipar essa aposentadoria… Vou ficar sem meus cães?
Equipe que trabalha unida, descansa unida: Andrade bem sabe!
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Que linda história. ..amigos pra sempre. ..Deus abençoe muito a vida de vcs…obrigado pelo trabalho. ..somos muito gratos
Que linda história de amizade!!
Adorável reportagem. É muito bom ter a amizade e companhia de cães. Eles são fiéis e sinceros.
Admiração gigantesca pelo trabalho do Ataíde e pelo amor que ele senti por seus companheiros.