Para Regina e Heluane, luta pelos bichos é diária

19 dezembro 2018 | Gente que faz o bem

No colo de Regina, Billy não late, quase não enxerga, não se anima com nenhum chamado. É de cortar o coração. Quando a protetora conta a situação em que o cachorrinho chegou até sua casa, porém, a gente entende que, apesar de todo sofrimento, ele está bem melhor.

Regina encontrou Billy na favela do Brejo, que fica próxima de sua casa, no Jardim Independência. Diz que estava indo até a lotérica, pagar a conta de luz, quando viu o cachorro lambendo suas feridas. Ele tinha um machucado enorme no abdômen, que depois ela soube ser um Tumor Venéreo Transmissível, também chamado de Sarcoma Venéreo Transmissível Canino. Estava em carne viva.

– Ele seria comido pelos bichos se continuasse ali.

Regina andou duas quadras, tentando se convencer a ignorar a situação. Não conseguiu. Voltou, pegou Billy no colo e levou para casa, sem saber como iria arcar com os custos. Até hoje não sabe.

Ela trabalha em um restaurante, mora sozinha, paga R$ 600 de aluguel por mês e relata que o que sobra não dá para as despesas básicas, já que coloca os cachorros e gatos que cuida acima de qualquer outra necessidade.

Só com o Billy foram R$ 400 com o veterinário, mais os remédios que, ainda hoje, quase um ano depois, ela continua a comprar.

– Não sara… Não sabemos mais o que fazer. Mas ele vai ficar comigo até o fim.

No dia da entrevista, uma amiga estava na casa da Regina. Quando a conversa acabasse, as duas iriam resgatar um cachorro do bairro, que estava sofrendo maus tratos.

Assim como Regina, Heluane Tardivo também não tem uma situação financeira fácil. Mesmo assim, cuida de três cachorros resgatados em casa e coloca a causa animal como prioridade no dia-a-dia.

– O animal não pede nada em troca. Ele tem amor e compaixão, o que falta para o ser humano.

Na semana passada, as duas amigas assistiram, com o coração apertado, o caso do cachorro Manchinha, que foi espancado e morto por um segurança da rede de mercados Carrefour. A comoção tomou conta do País – com muita razão.

Um alerta, porém, se faz necessário, na opinião de Regina, Heluane e outras muitas cuidadoras. O caso que emocionou tanta gente não é isolado. Em Ribeirão Preto, o número de cachorros e gatos que precisam de ajuda ultrapassa a quantidade e recursos que os protetores têm para acolher e evitar a morte, ápice do abandono e da violência.

– Um saco de ração faz uma grande diferença para nós. Ajuda muito! Mas as pessoas não doam. Pensam que precisa de muito para ajudar…

É Regina quem diz.

Para Regina e Heluane luta pelos bichos é diária

Regina Aparecida Rodrigues diz que, até 20 anos atrás, nunca havia tido um animal de estimação em casa. A infância difícil, com a separação dos pais quando tinha três anos, não permitiu brechas para uma lambida, um afago canino.

Aos 15 anos, ela e a irmã deixaram Ituverava, cidade natal, para trabalhar em uma fábrica de Ribeirão Preto. Aos 35, Regina se casou e diz que não teve sorte no amor, com uma relação permeada pelo desrespeito.

Cerca de 20 anos atrás, aos 31, trabalhando em um posto de gasolina, ela sentiu o coração apertar ao ver tantos bichos abandonados.

– Tem muitos animais no posto!

Começou levando ração, cuidando e, quando viu, a casa já estava cheia. Ganhou a primeira, Isabel, de um amigo, depois comprou a Branca de uma vizinha que a maltratava, tirou a Laila da rua, os gatos foram chegando: a família foi crescendo.

Mas proteger não é só levar para casa, ela diz. Já conseguiu lar para dois cachorros, entre eles um pit bull muito debilitado, que hoje vive contente na casa de uma vizinha.

Todos os dias, Regina leva ração para os gatos que vivem soltos no bairro.

– Eles já sabem a hora que eu chego! Ficam me esperando.

E briga pela castração dos animais. Durante muitos meses, ela e uma vizinha buscavam os animais da favela do Brejo – com a autorização dos donos – e levavam para castrar. Chegavam cedinho ao Centro do Zoonoses. Ela reclama, porém, que hoje a dificuldade para conseguir a castração é imensa.

– Antes, eles castravam. Agora, é uma briga. Eu me comprometo a levar os animais até lá, mas eles não castram. A gente precisa castrar os bichos. É uma questão de saúde pública.

A amiga, Heluane, enfrenta as mesmas dificuldades. Conta do cachorro Neguinho com saudade e tristeza. Resgatou o bichinho das ruas com um tumor enorme na pata. Foi preciso amputação e muitos cuidados.

– Consegui metade da cirurgia na clínica e depois lutei para pagar o resto.

O que mais entristece, porém, é saber que o esforço chegou tarde. Neguinho morreu cerca de um mês atrás.

 – Se todo mundo que curte postagens a favor dos bichos doasse R$ 10 para a causa, conseguiríamos salvar muitos animais.

Para Regina e Heluane luta pelos bichos é diária

Tanto Regina quanto Heluane relatam que somam dívidas com veterinários, casas de ração e precisam da compreensão dos estabelecimentos para quitar o saldo em suaves parcelas.

– Eu digo que não vou mais pegar. Mas é só sair na rua que não aguento. Como vou deixar o bichinho sofrendo?

É Heluane quem diz.

As amigas sonham em ver os animais bem tratados, castrados, vivendo com donos responsáveis. Também sonham com um hospital público para os bichos em Ribeirão Preto. E, principalmente, em ver a compaixão proliferar.

– Falta amor!

Nas palavras de Heluane.

Regina não tem filhos humanos. Diz, então, que os gatos e cachorros são seus filhos de patas, companheiros da vida.

– Eu chego em casa do trabalho e eles me lambem, abraçam, fazem festa. Tem coisa melhor do que isso? Parece que me agradecem todos os dias.

As duas seguem, então, fazendo a parte delas. Distribuindo – e multiplicando – o amor que têm.

Na hora da foto, Billy vira o rosto triste para a câmera. Encara a lente. Há quem resista a esse chamado?

 

 

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