Pelas mãos de Pinha, vegetais picadinhos chegam para muitas mesas

7 outubro 2020 | Gente que alimenta

 

Texto e fotos: Daniela Penha

Ilustração: Cordeiro de Sá 

 

Oripia Maria de Jesus é o nome de batismo, mas desde pequena escolheram chamá-la de Oripinha. Depois, foram cortando sílabas e, há muito tempo, é conhecida carinhosamente por Pinha.

– Só me chamam assim!

O semblante sério logo dá lugar para a simpatia.

– Eu tenho cara de brava, mas não sou brava, não. Sou tranquila.

É tranquila, mas não compreende o trabalho feito de qualquer jeito, sem comprometimento.

– Se não tiver amor, se fizer só por fazer, pode atrapalhar uma produção inteira. Uma folha mal selecionada estraga toda a bandeja.

Pinha nasceu em Minas Gerais, mas só viveu por lá até os cinco anos de idade, quando seus pais se mudaram para o interior de São Paulo. Passaram dois anos em Franca e depois, quando ela tinha sete, se fixaram em Ribeirão Preto, de onde Pinha não mais saiu.

De família grande, é a segunda mais nova entre sete irmãos. O pai era operário e a mãe lavava roupas, costurava, limpava. Terminou o Ensino Médio e logo se casou, aos 21 anos.

A primeira filha chegou em seguida. Pinha já trabalhava em uma grande empresa de ração animal e seguiu com a rotina. Quando veio o segundo filho, porém, decidiu deixar o trabalho com a proposta de voltar quando os dois estivessem maiorzinhos. Engravidou do terceiro três anos depois e, então, o plano precisou ser adiado.

– Eu não tinha onde deixar três crianças pequenas. Fiquei por conta deles. E o tempo passou…

Os filhos foram crescendo, escolhendo seus caminhos. A vida foi mudando. Depois de 18 anos casada, Pinha se separou. O plano de voltar ao mercado de trabalho foi tomando mais forma nessa mesma época. Aos 40 anos, entretanto, não sabia por onde recomeçar.

– Tinha ficado muito tempo fora do mercado…

Regina Picadinhos Ribeirão Preto

Foi seu ex-sogro quem falou da Regina, dos picadinhos, trabalhando na obra da casa dela. As duas eram vizinhas, mas só se conheceram quando começaram a trabalhar juntas, 18 anos atrás.

– A Regina estava começando. Era tudo feita à mão, tudo no início. Hoje a gente vê a proporção que tomou… é muito gratificante!

Depois de quase duas décadas, o trabalho já se tornou amizade, afeto.

– Muita coisa nós aprendemos juntas. Erramos, perdemos para aprender.

Pinha conta. Regina complementa:

– Ela é uma pessoa muito querida por mim e por todos. Faz parte disso tudo.

A Regina Picadinhos se tornou conhecida na cidade toda por levar vegetais já picados e lavados para as mesas. A história dela começou com uma banca na feira e muita vontade. Picava couve a pedido da clientela e, pouco a pouco, começou a ampliar a gama de opções.

Um cliente pedia cenoura, o outro abobrinha e ela passou a montar as bandejinhas. Quando conta sua história, Regina Riroko Hatano Kogawa diz que “cada bandejinha tem a história de um cliente, porque foi criada pela necessidade de cada um”.

Hoje, ela possui lojas próprias, entrega em supermercados, feiras livres, estabelecimentos de todo tipo.

Regina, desde sempre, prefere não revelar a quantidade de vegetais que processa e comercializa ao mês. São muitas toneladas, não há dúvida. Um outro procedimento se dá, porém, em paralelo à comercialização. Para evitar o desperdício, o que não é vendido é doado para instituições e programas como o Mesa Brasil Sesc Ribeirão.

Parceira do Mesa desde 2015, a Regina Picadinhos já doou 30 toneladas de alimentos que chegaram à mesa de quem precisa. Só durante a pandemia foram 1,3 toneladas doadas.

Além dessa doação, outras instituições da cidade retiram semanalmente as bandejinhas que não foram consumidas nos supermercados e feiras. Engrenagem do bem, que deixa mais colorida a mesa de muita gente.

– É muito bom poder ajudar.

Regina Picadinhos Ribeirão Preto

Quando Pinha entrou, todos os procedimentos eram feitos à mão e a equipe era pequena.

– Eu comecei lavando as verduras. Não conhecia nada. Tudo o que sei aprendi aqui. Algumas verduras, inclusive, eu conheci trabalhando.

Agora, ela coordena a equipe de produção, formada por cerca de 30 funcionários. Continua participando das feiras de terça e domingo junto com a Regina, mantendo as raízes que deram início ao negócio.

O processo para transformar um legume inteiro em pedacinhos é criterioso, Pinha ressalta. Começa na escolha de cada legume ou verdura, passa pela higienização, corte, montagem das bandejinhas.

– Duas folhas erradas que passam no meio se tornam muitos pedacinhos de uma salada. Isso vai acabar com muitas bandejas.

Regina Picadinhos Ribeirão Preto

Ainda que hoje muita coisa seja feita de maneira automatizada, o artesanal continua predominante em cada etapa.

– Tudo o que a gente faz, mesmo que seja processado na máquina, tem nosso toque. Não é automático.

As folhas são selecionadas à mão, os legumes maiores são cortados na faca. É preciso cuidado também na montagem de cada bandeja.

– A gente monta com carinho, coloca cada coisa, vê se tá bonito, se tá combinando. Pede uma opinião para a colega do lado. Em tudo o que a gente faz tem que ter amor. A pessoa que compra percebe se foi feito com carinho.

Levando colorido para a mesa de outras pessoas ela vai ampliando também o seu próprio colorido. Diz que sempre foi “natureba”. Consome pouca carne, poucos alimentos embutidos e não dispensa um prato de salada. Ali, entre as bandejinhas, amplia sua gama de receitas e vê a prática se repetir.

– Tem funcionários que chegam aqui sem gostar de nada e começam a comer todo tipo de legume, salada.

Para Pinha é bem mais do que cumprir jornada de trabalho. Aos 58 anos, não pensa em aposentadoria. Quer continuar levando colorido para as mesas. Como ela já repetiu, o ingrediente principal de cada bandeja não tem forma.

– Nosso critério tem que ser muito certinho. Estamos fazendo para alguém que precisa receber o melhor. Em tudo o que a gente faz tem que ter amor.

 

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1 Comentário

  1. Cristina

    É uma Empresa que tem responsabilidade e comprometimento com os clientes.

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