Suelen e João fazem chaves, trocam segredo de fechadura, confeccionam carimbos. Até aí, é fácil de deduzir. Os dois são donos de um chaveiro, na rua São Sebastião, Centro de Ribeirão.

Surpreendente é encontrar entre os metais um livro de enfermagem. O casal – negócio próprio, vida estabilizada, 30 anos – decidiu juntos conquistar mais.

No final desse ano, se formam enfermeiros, com o coração dividido entre os dois ofícios que tanto gostam.

– Muita gente falou que não íamos conseguir terminar a faculdade, com a nossa rotina. Mas nunca pegamos uma recuperação. A gente ama o que faz!

É Suelen Stábile Ferreira quem diz. Para dar conta das aulas e do estágio na área de saúde, o casal se divide.

Enquanto Suelen está no chaveiro, João está na faculdade ou no posto de saúde. E vice-versa.

Para captar os dois juntinhos na foto, foi preciso agendar em um sábado, quando não tem aula e nem estágio e a dedicação é só no chaveiro.

A parceria – que começou bem cedo – abre portas e caminhos.

– A gente estuda juntos, faz trabalho juntos e o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) também. Um incentiva o outro.

É Suelen quem diz, enquanto João concorda com a cabeça e o sorriso.

Suelen e João Paulo Ferreira se conheceram na escola, aos 13 anos. A paquera começou ali, entre os olhares quase infantis.

– O João gostava de mim!

Suelen entrega o que não é segredo.

Aos 18 anos começaram a namorar e aos 21 veio o casamento.

Assim como o amor, o trabalho chegou cedo para os dois.

Suelen começou a trabalhar em uma farmácia quando tinha menos de 15 anos. João aprendeu o ofício de torneiro mecânico.

Em 2007, já pensando em casar, decidiram que era hora de ter um negócio próprio. O pai dela já trabalhava como chaveiro e, então, não foi difícil entender a lógica das chaves.

Em tempos de “vaca gorda” chegavam a fazer 30 chaves por dia. Hoje, são 15 unidades.

A ideia de fazer a faculdade surgiu também por preocupação com o futuro.

– Não sabemos se se isso aqui vai ser para sempre…

Somaram a preocupação ao sonho da faculdade, que tinha ficado para trás em meio à rotina de trabalho tão precoce. Em 2013, então, decidiram que era o momento de realizar.

De início, João pensou em veterinária, pelo amor com os bichos. Pesquisando melhor, se encantou pela enfermagem. Tanto que conseguiu bolsa e estágio logo no início do curso.

Agora, a poucos meses da formatura, os dois comemoram e surpreendem quem um dia duvidou.

– Emociona… Só a gente sabe o que passou para conseguir. O quanto economizamos, o quanto sofremos para pagar, para estudar.

É Suelen quem diz.

E depois da formatura?

– É aí que os caminhos divergem um pouco!

João conta que entre os dois ofícios que tanto gostam, cada um tende a um lado.

Suelen não quer deixar o vai e vem de gente, as amizades que fez entre uma chave e outra, o trabalho que pagou as contas e tornou possível o sonho da faculdade.

Quer atuar como enfermeira, mas com escala dividida.

Já João, como um recém-apaixonado, não se imagina com uniforme que não seja branco. Quer trabalhar no setor de urgência, exercer a enfermagem em tempo integral.

Até em “caminhos divergentes” o casal se complementa. Enquanto um salva vidas, o outro continua a abrir portas. E não é preciso eliminar, só somar.

– Eu acredito que tudo vai dar certo!

É João quem diz, com motivo de sobra para confiar. Com amor – e parceria – o caminho está sempre aberto.