Este texto foi produzido por Marcelo Alves durante a oficina “Como contar histórias de personagens reais?”, ministrada no Sesc Ribeirão Preto por Daniela Penha, criadora do História do Dia. Os participantes foram convidados a escreverem um perfil, a partir das técnicas compartilhadas durante a oficina.
É 1º de maio de 2019, feriado, dia do trabalhador. A unidade do Sesc em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, abriu normalmente e, além disso, funcionou em horário estendido. Já eram quase oito da noite e ali do lado, no auditório, rolava um espetáculo de circo. Um show de mágica para aproximadamente 70 pessoas. Do lado de cá, não se ouvia nada além da barulhenta máquina de lavar louças.
Dois passos e recebo uma touca. Entre os copos, pratos e bandejas, uma figura chama a atenção enquanto perambula de um lado ao outro da cozinha, demonstrando um admirável domínio do – pequeno – espaço, enquanto termina seus afazeres. Ele é acompanhado de perto pela colega Eliane, que arrisca algumas palavras de incentivo, após o exaustivo dia de trabalho:
– Bicha, vai passar na EPTV, fala bonito!
Como se ele precisasse de algum tipo de estímulo.
Alan Silva Gonçalves da Costa, 24 anos, pele morena, barba rala, e invejáveis 1,85 de altura – que são fundamentais nos torneios de voleibol entre os funcionários – é a animação em pessoa. Agora funcionário, faz questão de citar que sua história com a unidade vem da infância.
– Eu fiz a carteirinha e utilizei a piscina dois dias.
Alan nasceu em Serrana, cidade próxima a Ribeirão, mas “muito rural” para o seu gosto. Passou por várias escolas, mas fala com certo entusiasmo do fato de ter cursado o 1º e o 2º colegial na Escola Sesc, em Florianópolis, Santa Catarina. Aos 17 anos, saiu da casa dos pais. Decidiu por conta própria que já era hora de alçar voos maiores. Queria conquistar sua liberdade.
Demonstra certo arrependimento por algumas escolhas que fez, como ter deixado passar a oportunidade de treinar vôlei profissional. Aliás, vôlei é uma de suas paixões.
A oportunidade de trabalho surgiu do acaso. Estava cadastrado em uma agência de empregos pela qual ficou sabendo da vaga de temporário. Mas Alan não é apenas alguém que está de passagem. Ele é parte. Carrega o amor pelo Sesc no peito e, dependendo do modelo, nas costas: coleciona camisetas e uniformes. Todas ganhadas pelos amigos que fez nesses poucos meses trabalhando na Comedoria.
Revela a vontade de cursar Moda e também História. Cursos bem próximos, em sua opinião. Ser um grande estilista ainda está nos seus planos.
– Igual o Karl Lagerfeld, da Coco Channel.
Como sonho, cita a estabilidade financeira e o desejo de poder dar uma vida melhor aos sobrinhos.
– Minha alegria de viver!
Não nega já ter sofrido preconceito por ser o que é. Mas garante que hoje em dia o buraco é bem mais embaixo. Já se preparando para ir embora, está com uma pequena marmita com ovos e mostarda. Eliane, ali do lado, me pergunta: “Você sabia que Alan gosta de cantar louvor?”.
Parabéns Allan sucesso e felicidades sempre muito animado e com uma disposição de dar inveja.
Caráter ímpar, amor ao próximo, exemplo de ser humano. Parabéns, muitas conquistas e luminosidade.