Pâmela divide a rotina entre o trabalho de bombeira e manicure

25 junho 2018 | Gente que cuida

Há 10 anos, Pâmela é manicure. Há oito, ela atua como bombeira civil.

Para que as duas profissões caibam na rotina, se desdobra e se acostuma com as noites em claro. O amor pelo que faz é energia.

–  O meu coração é dividido. Ainda vou fazer uma tatuagem com o símbolo dos bombeiros e um vidrinho de esmalte.

Segunda-feira é o único momento de folga. De terça à sábado, durante o dia, ela faz unhas em um salão no Boulevard, bairro nobre de Ribeirão Preto.

De quinta à domingo começa a rotina noturna de bombeira.

Pâmela, então, sequer volta para casa. Na quinta cedinho sai com a mala pronta e emenda um trabalho no outro: das 7h às 18h fica no salão. Por volta das 20h, 21h entra na boate e só saí às 6h da manhã, direto para o salão.  Só dorme nas folgas entre uma unha e outra.

Ainda vai à academia praticamente todos os dias, porque a profissão de bombeira exige preparo físico.

Dá canseira só de ler! Ela confessa que toma um energético ou outro para dar conta. E mantém o sorriso no rosto, não importa a dose de canseira.

– Tem que trabalhar com ânimo. Um serviço não pode atrapalhar o outro!

Na madrugada de domingo para segunda, quando a última jornada termina, volta para casa aliviada. A folga é o momento de curtir as duas filhas, de 15 e sete anos: a razão de toda a sua garra.

– Ser mãe é uma realização completa. Tudo o que faço hoje é pelas minhas filhas. Porque quero garantir um futuro melhor para as minhas meninas.

Não há energético melhor!

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Pâmela Karen de Barros, 35 anos, conta que sempre gostou de aprender, conhecer, descobrir. Fez curso de pedreira, eletricista, panificação.

O sonho era ser advogada. Fez dois anos de Direito. Mas a vida mudou os planos – e ela não reclama.

Se casou aos 16 anos – apaixonada – e aos 20, cursando a faculdade, engravidou da primeira filha.

– Eu tranquei o curso porque queria ser mãe. Queria viver a maternidade.

Trabalhou no comércio e logo começou a fazer unhas. Diz que sempre somou o serviço de manicure a outro, com dupla jornada.

Trabalhar resgatando pessoas foi ideia que nasceu na infância. A mãe atuava no laboratório de um hospital e levava Pâmela para acompanhar sua jornada.

Aos 21 anos, atendendo aos pedidos da mãe, ela prestou e passou em enfermagem no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Mas diz que não quis ir porque não era esse tipo de resgate que sonhava fazer.

– Você não vira bombeira. Você nasce bombeira!

O convite para o curso de bombeira civil veio por acaso.

Trabalhando como manicure, ela conseguiu comprar o próprio apartamento, no bairro João Rossi. O primo da vizinha em frente era dono de uma escola de bombeiro civil.

A vizinha pagou o curso, mas desistiu de fazer. Perguntou se Pâmela gostaria de assumir a vaga.

– Ela me vendeu o curso e eu fui. Foi mais do que eu esperava. A entrega é total. É preciso muito exercício, muita leitura e muita prática por um serviço que não é tão bem remunerado. Como manicure, ganho três vezes mais. Então, é o amor que me faz continuar.

Passou a dobrar as jornadas.  E a dividir o coração entre o glamour do salão e a adrenalina da vida noturna.

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A pior noite de trabalho foi em Sertãozinho. Uma criança estava com os pais em uma festa, teve um mal súbito e morreu.

– Criança toca muito. Eu só pensava nas minhas filhas.

As noites de Pâmela contrastam com seus dias.

– O salão é um mundo de beleza, de glamour. As pessoas vêm aqui para relaxar, conversar. Muitas desabafam, contam suas histórias!

Quando veste o uniforme de bombeira, ela se transforma. A leveza e o sorriso dão lugar ao rosto sisudo. O assédio que vem de todos os lados é um dos motivos para essa sisudez.

– Eu preciso ser séria. Fico com a cara mais fechada, para que eu seja respeitada. Existe assédio de frequentadores da boate e até mesmo de parceiros de trabalho. Quem vê as duas pessoas não acredita!

Trabalhando como bombeira na boate e em eventos, perdeu as contas das brigas que socorreu, dos bêbados separados das namoradas que consolou, das vezes em que foi ombro amigo. Cuida de enfermidades que vão de vômito a cortes graves.

Nessa rotina, já tentou socorrer um jovem que se jogou de uma torre de energia no final do evento e morreu. A jornada estava terminando e Pâmela se preparava para ir embora quando a tragédia ocorreu.

Também atendeu a muitas overdoses, de jovens com todas as idades.

– As pessoas fogem do controle. Se transformam. A noite é cruel.

Em meio a tantos excessos, ela tenta entregar o seu melhor.

– A gente procura acolher, conversar. Você aprende a se doar para a pessoa. A tentar ajudar sempre. Não tem espaço para ser egoísta.

Todas essas “aventuras” noturnas viram assunto no dia seguinte, entre as clientes e colegas de trabalho do salão.

– Elas querem saber de tudo. E também querem contar as histórias delas!

Ali, cuidando da beleza, Pâmela compartilha seus desafios como bombeira. E embarca em um universo totalmente diferente.

– Tenho clientes que viajam muito, para muitos países. Elas contam suas histórias e eu me sinto viajando com elas!

O coração é grande. Tem espaço para as contrastantes rotinas!

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Agora, Pâmela já prepara um novo passo. A paixão pela carreira de bombeira fez surgir a vontade de prestar concurso para Polícia Civil.

E ela garante que consegue estudar, entre uma jornada e outra.

– A vida não tem sentido se você fala: “Já bati minha meta”. E daí para frente? Se temos a oportunidade de aprender, por que não?

O objetivo, além de continuar o movimento de estar sempre a aprender, é o futuro das filhas.

– Elas são meu porto. Quero dar a elas o melhor.

O momento de mais emoção vem quando ela fala do tempo com suas meninas. A rotina tão ocupada lhe faz ficar longe de casa.

– Em tudo o que eu faço, eu penso nelas. Eu só tomo um açaí porque sei que elas têm o dinheirinho delas em casa para tomar também.

Se está realizada? Já dá para imaginar a resposta!

– Sim e não! Ainda tenho muita coisa para conquistar.

No salão, diz que se sente acolhida.

Com o uniforme de bombeira, está cumprindo uma missão.

Em casa, com suas filhas, encontra o sentido de tudo. E a energia para continuar!

 

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